Bases com milhões de cadastros de jogadores podem estar sendo comercializadas na darkweb
- Fred Azevedo
- 11 de jun.
- 3 min de leitura
Atualizado: 23 de jun.
100 milhões de dados que podem estar à venda por R$ 50 mil. Esse é o preço da negligência institucional.

A crise de segurança que atinge o setor de apostas brasileiro ganhou, nesta semana, sua face mais brutal: a comercialização pública de dados pessoais de jogadores na darkweb.
As amostras recebidas pelo portal — com prints, quantidades e nomes de casas como Pixbet, Betano, Aajogo e Betfury — mostram que, se isso for verdade, os dados não apenas vazaram.
Foram transformados em mercadoria. E circulam hoje em fóruns de cibercrime com valores tabelados, termos de compra, e até garantia de entrega para o comprador.
A trilha até aqui: silêncio, exploração e impunidade
Desde maio de 2025, o Portal Fred Azevedo tem documentado a escalada desse colapso:
Na Parte 1, revelamos os primeiros sinais de invasão e saque de contas em múltiplas casas com backoffices semelhantes, sem resposta pública das operadoras.
Na Parte 2, denunciamos a presença de golpistas usando dados reais para extorquir jogadores via WhatsApp, indicando acesso a cadastros internos ou espelhados.
Agora, na Parte 3, evidenciamos que esses dados estão sendo vendidos em larga escala — um indicativo de que o problema não é um incidente isolado, mas um sistema corrompido por dentro.
Supostamente, uma indústria criminosa operando com método

As supostas amostras indicam volumes expressivos:
Aajogo: 2,8 milhões de cadastros
Pixbet: 1,1 milhão
Betano: 1,5 milhão
Betfury: 1,1 milhão

A moeda? Reais ou criptomoedas. O acesso? Simples, organizado, quase profissional.
A estrutura lembra um e-commerce clandestino: anúncio, especificação por casa, valores por base, e até amostra “para teste”. Isso não é mais vazamento. É revenda institucionalizada.
A Lei 14.790 exige proteção — mas ninguém fiscaliza
A Lei nº 14.790/2023, que regula as apostas de quota fixa no Brasil, determina em seu artigo 19 que as operadoras devem adotar mecanismos de integridade e observar a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
E mais: no artigo 24, obriga o registro de todas as transações realizadas, e no artigo 23, a autenticação com biometria facial e cruzamento com bases públicas e privadas.
Tudo isso é letra morta diante dos relatos que recebemos.
Não há:
Confirmação de incidentes;
Abertura de investigação por parte da ANPD;
Suspensão cautelar de casas afetadas pela SPA;
Nem mesmo transparência mínima com os usuários.
A omissão institucional é uma segunda camada de agressão: primeiro, o jogador é exposto. Depois, é ignorado.
Se for real, não se trata de um erro técnico. Trata-se de colapso regulatório
A maioria das casas envolvidas opera por meio de white labels internacionais, hospedadas fora do Brasil, com sistemas alugados e sem certificação obrigatória.
O operador brasileiro é, muitas vezes, apenas um “CNPJ fachada” com Pix no rodapé.
Na prática:
O sistema é internacional.
O crime é local.
A vítima é o brasileiro.
E o Estado não atua.
O artigo 33 da Lei 14.790 obriga operadoras a usarem sistemas auditáveis, com acesso em tempo real pelo Ministério da Fazenda.
Mas até hoje, nenhuma portaria da SPA exigiu esse cumprimento de forma efetiva.
O papel da darkweb e o fracasso do enforce
ment digital
O vazamento agora documentado escancara um ponto crucial: a ausência de governança digital no mercado de apostas.
Em qualquer setor regulado — saúde, finanças, telecom — a comercialização de 100 milhões de dados sensíveis causaria uma força-tarefa nacional. Nas apostas, causa silêncio.
A darkweb, longe de ser um mito, funciona como uma economia paralela: organizada, anônima e lucrativa. E enquanto casas não auditadas continuarem operando com dados de brasileiros sem qualquer certificação, novos vazamentos não são hipótese.
São estatística.
Conclusão: não é sobre jogo. É sobre dignidade digital
O que este caso revela vai além de falhas técnicas. Trata-se de um colapso ético, jurídico e institucional no único setor da economia onde o risco é elevado, o valor é real — e o cliente é sempre o último a saber.
O Portal Fred Azevedo seguirá pressionando por:
Abertura de investigação formal pela ANPD;
Suspensão cautelar de operadoras afetadas;
Exigência de auditoria independente e certificação de segurança;
Reparação aos jogadores expostos.
Porque o CPF de um apostador não pode valer R$ 0,50 em um fórum de cibercrime.
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