BacanaPlay enfrenta onda de denúncias por bloqueio de saques
- Fred Azevedo
- 26 de mai.
- 7 min de leitura
Atualizado: 9 de jun.
Nos últimos dias, o Portal Fred Azevedo recebeu uma série crescente de relatos contra a BacanaPlay, envolvendo bloqueios de saque, silêncio no suporte e falhas de comunicação com jogadores que tentam reaver valores legítimos.
Em alguns casos, a operadora teria sugerido o uso da ferramenta de “período de reflexão” como alternativa para impedir que o saldo fosse utilizado enquanto o saque seguia pendente.
Embora a intenção da casa possa ser positiva — evitar novos depósitos ou apostas impulsivas, a sugestão de ativar o “período de reflexão” não resolve o ponto central: o não pagamento de um saldo já devido.
As denúncias, acompanhadas de prints e mensagens diretas, partem de usuários com contas verificadas, que apostaram, venceram, cumpriram os requisitos de saque — mas ficaram com os valores travados na plataforma sem justificativa formal.

O caso transcende a falha pontual. Ele aponta para um padrão preocupante de conduta operacional, que compromete a integridade do mercado regulamentado e coloca em xeque a confiança dos jogadores.
Relatos diretos dos jogadores: quando o saque não vem
Os jogadores ouvidos pelo portal relataram valores entre R$ 3 mil e R$ 9 mil bloqueados, mesmo após cumprimento de rollover e termos promocionais.
Em comum: todos afirmam que a casa simplesmente “trava o saque” sem aviso formal ou justificativa legítima.

Outros jogadores relatam que, ao tentar contato com o suporte, enfrentam evasivas, respostas genéricas ou ausência total de retorno.
Alguns foram surpreendidos por mensagens da própria operadora sugerindo que encerrassem a conta voluntariamente, mesmo com saldo ativo.

Padrão repetido, não caso isolado
Os relatos têm origem em estados diferentes, horários distintos e perfis variados. Alguns jogadores possuem experiência prévia com apostas; outros estão em sua primeira jornada. Mas o padrão é o mesmo:
Vitória com valor alto
Saque solicitado
Travamento da solicitação
Suporte ineficiente ou ausente
Tentativas de justificar o não pagamento com manobras

Essa repetição é o que transforma a denúncia de caso pontual em crise sistêmica.
Ferramentas de Jogo Responsável sendo usadas para evitar saque?
O ponto mais alarmante aparece em relatos nos quais o suporte da BacanaPlay teria sugerido ao jogador o uso da ferramenta de Jogo Responsável como forma de “evitar novos depósitos” ou “proteger o saldo” — ao invés de efetuar o saque.

A distorção aqui é grave. O sistema de Jogo Responsável foi criado para proteger o jogador de si mesmo, oferecendo meios de limitar o tempo, valor ou frequência das apostas.
Ele não pode ser usado como mecanismo de contenção de fluxo de caixa por parte da operadora.
Segundo o artigo 23 da Portaria SPA/MF nº 827/2024, a operadora deve garantir:
“Ferramentas de limitação voluntária, de forma clara, objetiva e independente da vontade da operadora, respeitando os direitos do jogador.”
Utilizar essas ferramentas como alternativa ao saque é desrespeitar a finalidade do instituto e colocar em risco toda a política pública de prevenção à ludopatia.
A manipulação desse recurso desvirtua a relação de confiança que deveria existir entre operadora e usuário — transformando o que deveria ser proteção em instrumento de pressão.
Silêncio institucional e desamparo regulatório
A equipe do Portal Fred Azevedo tentou contato com a BacanaPlay via e-mail oficial, com perguntas objetivas sobre os casos relatados. Na mensagem, solicitamos:
Esclarecimento sobre os bloqueios de saque;
Justificativa formal para as orientações de encerramento de contas com saldo;
Explicação sobre o uso da ferramenta de autoexclusão em contextos não relacionados a compulsividade ou proteção;
Indicação de um canal de contestação para usuários lesados.

Até o fechamento desta reportagem, nenhuma resposta foi recebida. Atualizaremos caso haja um posicionamento.
Base legal: o que dizem as leis e a Portaria da SPA
A Lei nº 14.790/2023, que regula as apostas de quota fixa no Brasil, estabelece em seu artigo 27 a obrigação de transparência nas promoções e no saque. Mais do que isso, a legislação impõe à operadora deveres claros:
Oferecer suporte eficiente e rastreável;
Garantir canais de resolução com prazos razoáveis;
Respeitar o princípio da boa-fé contratual e os direitos do consumidor.
Já a Portaria SPA/MF nº 827/2024, no artigo 4º, reforça que as operadoras devem assegurar:
“Canais rápidos, eficazes e acessíveis para comunicação com os usuários, com registro formal das interações, inclusive para fins de auditoria.”
O uso indevido do Jogo Responsável também fere a própria normativa da SPA.
O artigo 23 exige que as ferramentas de limitação voluntária sejam ofertadas de maneira clara e voluntária — jamais induzida ou imposta como substituição a um direito do jogador.
Conduta abusiva e Código de Defesa do Consumidor
Se confirmadas, as práticas denunciadas também podem infringir diretamente o artigo 51 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), que considera nulas de pleno direito cláusulas que:
Permitam à operadora rescindir unilateralmente um contrato sem justificativa;
Subtraiam do consumidor o direito de reaver valores devidos;
Estabeleçam obrigações desproporcionais ou excessivamente onerosas.
Encerrar uma conta com saldo, sugerir a exclusão voluntária para escapar de pagamento ou omitir justificativas plausíveis configura abuso e pode ensejar sanções administrativas e reparações civis.

Casos assim comprometem todo o ecossistema regulado
A regulamentação não pode ser apenas um selo. Quando uma operadora licenciada adota condutas que lembram casas clandestinas, todo o esforço institucional pela legalização se fragiliza.
Hoje, a BacanaPlay é citada por usuários em grupos de Telegram, perfis no Instagram e até no Reclame Aqui, onde os relatos se acumulam com padrões similares: ganho alto, saque bloqueado, suporte mudo, conta encerrada.
Se não houver ação fiscalizadora concreta da SPA, a regulamentação corre o risco de perder sua credibilidade.
O que se espera de uma operadora licenciada
É legítimo que uma casa verifique comportamentos suspeitos, revise jogadas incomuns ou investigue suspeitas de fraude. Mas isso deve ocorrer dentro da legalidade, com transparência, prazo definido, justificativa registrada e direito de contestação.
Operadoras licenciadas devem:
Comunicar claramente o motivo do bloqueio;
Garantir canal de resposta em até 48 horas úteis;
Estar sujeitas a auditoria de conduta e compliance regulatório;
Cumprir o fluxo de pagamento previsto em seus próprios termos.
Nenhuma casa, ainda que licenciada, tem liberdade para reter dinheiro sem base legal.
Apesar do cenário relatado pelos jogadores, é importante considerar o que poderia estar por trás dessas condutas, mesmo na ausência de resposta oficial da empresa.
Possíveis justificativas da operadora
Apesar de não ter se manifestado até o fechamento desta reportagem, é possível que a BacanaPlay justifique os casos relatados como falhas técnicas pontuais ou medidas de compliance em análise de comportamento de risco.
A prática de sugerir um “período de reflexão” pode, na visão da empresa, representar um esforço de proteção ao usuário — principalmente se houver indícios de comportamento impulsivo ou reincidência de apostas com prejuízo.
Também é comum que operadoras aleguem migrações de sistema, picos de volume ou auditorias internas como causas temporárias para atrasos.
Contudo, mesmo nesses cenários, o mínimo esperado de uma operadora licenciada é comunicação clara, canal de contestação acessível e respeito ao prazo de saque previsto.
Conclusão: o problema é maior do que a BacanaPlay
O caso exposto nesta matéria não é sobre um saque ou outro. É sobre estrutura.
É sobre o que acontece quando a regulamentação avança no papel, mas não na prática.
Quando o suporte é terceirizado, o chat vira silêncio e a resposta vira omissão.
A BacanaPlay pode até se justificar depois. Pode alegar problemas técnicos. Pode pagar os usuários. Pode normalizar a situação. Mas o dano já está feito — e o portal continuará a acompanhar cada movimentação.
O Portal Fred Azevedo reconhece que problemas operacionais podem ocorrer em qualquer plataforma.
Mas a diferença entre erro técnico e conduta abusiva está na forma como a empresa se comunica, responde e resolve a situação — especialmente quando envolve dinheiro real e direito do consumidor.
Porque o que está em jogo aqui é confiança.
E confiança, uma vez rompida, não volta com bônus.
Nota Editorial
Esta matéria foi elaborada com base em relatos enviados por jogadores ao Portal Fred Azevedo, acompanhados de prints e mensagens privadas. Todas as informações foram verificadas quanto à verossimilhança e organizadas em conformidade com as leis brasileiras e as portarias vigentes da Secretaria de Prêmios e Apostas.
A BacanaPlay foi formalmente procurada por e-mail antes da publicação, com oportunidade de se manifestar. Até o fechamento deste conteúdo, não houve resposta da empresa. Caso a operadora deseje enviar posicionamento, o portal se compromete a atualizá-lo nesta página, de forma íntegra ou destacada, conforme os princípios editoriais.
O Portal Fred Azevedo atua de forma independente, sem patrocínio ou conflito de interesse na apuração deste conteúdo. Nossa missão é informar com responsabilidade, respeitando os direitos do consumidor e a legislação vigente.
*Atualização: BacanaPlay libera saques após repercussão
Na noite desta segunda-feira (26), a BacanaPlay efetuou o pagamento da maioria dos saques que estavam pendentes, segundo relatos recebidos pelo Portal Fred Azevedo.
Entre os casos reportados anteriormente, a ampla maioria foi regularizada, restando apenas dois ainda sem pagamento confirmado e outros dois sem retorno dos jogadores até o momento.
A liberação dos valores indica que a operadora respondeu rapidamente após a repercussão dos relatos. É um movimento positivo — mas que também reforça a importância da transparência e da comunicação direta com o jogador.
Seguimos acompanhando o caso e esperamos que medidas preventivas sejam adotadas para que situações semelhantes possam ser evitadas no futuro, sem depender de exposição pública para garantir resolução.