Bull market à vista? Por que o fim do teto da dívida pode reacender o mercado de cripto
- Fred Azevedo

- 11 de jun.
- 6 min de leitura
Atualizado: 6 de out.
Entre o ceticismo e a liquidez: o que está de fato por trás do mercado cripto em silêncio

“O interesse morreu.” A frase dita por Augusto Backes em seu canal no YouTube cristaliza o desânimo que tomou conta do varejo cripto em 2025 — especialmente entre pequenos investidores traumatizados pelo ciclo de alta anterior.
Para muitos, o mercado perdeu seu apelo. O frenesi de 2021 a 2022, alimentado por NFTs, DeFi e tokens especulativos, deu lugar a uma ressaca prolongada. Os preços estagnaram. A volatilidade diminuiu. E para quem enxerga apenas a superfície, parece que os criptoativos viraram “mais um ativo em queda”. Só que essa leitura é rasa — e perigosamente míope.
Backes não está sozinho. Influenciadores e analistas vêm ecoando a ideia de estagnação: volume reduzido nas corretoras, desinteresse social, ausência de novos “narrativas-catalisadoras”. Tudo isso é verdade. Mas é só metade do quadro.
Porque quem olha apenas para os sintomas visíveis — engajamento, preço, mídia — acaba ignorando o que realmente move os ciclos: a macroeconomia, os fluxos institucionais e o reposicionamento dos grandes alocadores de capital.
E a história ensina: os maiores ciclos de valorização não começam com hype. Começam com silêncio.
A verdadeira notícia da semana não foi a briga. Foi o rompimento
Enquanto a internet fervia com a nova rodada de provocações entre Elon Musk e Donald Trump, um movimento muito mais profundo avançava longe dos holofotes: a eliminação do teto da dívida pública americana.
A medida, já oficialmente defendida e encaminhada por Trump em seu segundo mandato, rompe com décadas de discurso fiscalista em Washington. Pela primeira vez, a maior economia do mundo adota, de forma explícita, uma lógica de expansão ilimitada de gasto público, sem freios legais para o crescimento da dívida.

Curiosamente, até mesmo senadores historicamente críticos da política trumpista, como Elizabeth Warren, manifestaram apoio parcial ao novo arcabouço — por razões distintas. Para os progressistas, é a chance de financiar programas sociais e infraestrutura. Para os trumpistas, trata-se de proteger a soberania fiscal americana diante de um mundo em transição geopolítica.
Na prática, estamos diante de um novo regime macroeconômico: a dominância fiscal. Nesse modelo, o governo federal torna-se o principal motor da economia por meio de gastos recorrentes, enquanto o Federal Reserve passa a atuar de forma subordinada, ajustando juros e liquidez apenas para acomodar essa expansão.
A extinção do teto da dívida não é um detalhe técnico. É a virada institucional que pode destravar uma nova fase de liquidez sistêmica global. E isso, historicamente, beneficia ativos escassos e descentralizados — como o ouro digital que atende pelo nome de Bitcoin.
Dominância fiscal: o novo nome da liquidez
A expressão “dominância fiscal” voltou a ganhar protagonismo nos círculos econômicos — e não por acaso. O conceito descreve um cenário em que o banco central deixa de ser o condutor da política monetária e passa a apenas reagir ao apetite de gasto do governo. Quando o Tesouro lidera e o Fed segue, o controle da inflação se torna secundário. O compromisso vira político, não técnico.
O problema? Gasto público descontrolado, financiado por emissão de dívida, não gera apenas liquidez — ele destrói a âncora. Quando o mercado percebe que o dinheiro pode ser impresso sem contrapartida produtiva, o risco inflacionário deixa de ser conjuntural e se torna estrutural. E aqui, a história recente dos países latino-americanos serve de alerta: hiperinflação não é teoria. É memória.
Na ausência de um limite fiscal real, cresce a demanda por ativos cujo valor não pode ser diluído por decreto. É o caso do ouro. É o caso do Bitcoin.
Essa lógica já começa a se refletir nos mercados. O metal precioso valorizou diante do dólar. O S&P 500 superou os 6.000 pontos, desafiando os alertas da imprensa tradicional. E, no mercado cripto, mesmo sem euforia, há movimentações silenciosas: aumento de posições institucionais, reentrada de fundos especializados, crescimento da liquidez on-chain...
O que muitos ainda chamam de “calmaria” pode ser, na verdade, reposicionamento de longo prazo. Porque a dominância fiscal não só injeta liquidez — ela redefine onde e como o capital procura abrigo.
Cripto não morreu. Ele está amadurecendo
A tese de que o mercado cripto “perdeu a graça” revela uma leitura superficial. O que muitos interpretam como tédio é, na verdade, transição — de um mercado guiado por memes para uma economia de base estrutural.
Em vez de ruído, vemos construção silenciosa. O setor não depende mais de tokens de cachorro ou euforia coletiva para se manter de pé. O foco mudou: hoje se fala em tokenização de ativos reais, crédito institucional on-chain, stablecoins lastreadas em infraestrutura financeira tradicional — e blockchains cada vez mais eficientes, como Arbitrum, sendo adotadas como base para aplicações com propósito claro.
Um exemplo dessa mudança de fase é a Circle — emissora da stablecoin USDC — avançando rumo aos mercados públicos, o que tende a exigir governança, compliance e integração com o sistema financeiro legado. Outro é o surgimento de plataformas como Ostium, citada por Calderon, que testam modelos de liquidez sintética sem intermediários tradicionais.
Nenhum desses movimentos chama atenção no varejo. Mas são esses tijolos que sustentam a próxima fase da criptoeconomia: mais técnica, mais robusta — e menos vulnerável a narrativas vazias. O palco está montado. Não para a próxima mania, mas para uma migração lenta e contínua de capital institucional em busca de arquitetura alternativa.
Sentimento não é fundamento. E isso importa
O sentimento dominante continua negativo. Levantamentos como os da AAII mostram uma maioria de investidores ainda descrente, sem disposição para assumir risco. A taxa de “bearishness” segue alta — e, à primeira vista, isso indicaria um mercado fraco. Mas o oposto está acontecendo.
O que vemos é o clássico rally odiado: os preços sobem sem apoio emocional. Sem torcida. Sem manchete. E é justamente isso que o torna mais potente.
Porque mercados não precisam de consenso para andar — precisam de desequilíbrio.
Quando o sentimento é majoritariamente pessimista, o cenário já está precificado. O risco de piora fica limitado. E qualquer melhora marginal, por menor que seja, pode gerar movimento desproporcional de alta. Esse é o efeito da assimetria.
É nesse ambiente — de baixa convicção e alta liquidez — que o capital institucional atua. Ele não espera conforto narrativo. Entra quando o medo alheio comprime os preços, quando o fluxo está desbalanceado e a volatilidade favorece quem sabe gerenciar risco.
O varejo, por outro lado, reage à narrativa. Precisa ver o mercado “melhorar” para voltar. Busca validação no coletivo, não nos fundamentos. E é assim, ciclo após ciclo, que os grandes movimentos começam desacreditados. De forma quase constrangedora. Até que seja tarde demais para entrar sem pagar caro.
A crítica a Backes: confundir maré com oceano
É compreensível que analistas como Augusto Backes enxerguem desânimo no setor. O varejo saiu de cena. As redes sociais esfriaram. As buscas por “Bitcoin” caíram. Mas há uma diferença essencial entre maré e oceano — entre a superfície e a corrente de fundo.
O mercado cripto sempre foi cíclico. E a calmaria atual não anula seus fundamentos — apenas os reorganiza. O que antes era movido por ruído e especulação agora começa a responder a vetores mais profundos: arquitetura, liquidez e política fiscal global.
Backes acerta ao diagnosticar o afastamento emocional do varejo. Mas erra ao tomar isso como sentença.
O varejo sempre se ausenta no fundo dos ciclos — e sempre volta quando os preços já não fazem sentido.
O futuro do mercado cripto não está nas promessas de “liberdade financeira” nem nas paixões ideológicas da Web3. Está na convergência entre liquidez abundante, regulação estruturada e soluções concretas de interoperabilidade e eficiência. Não é sobre hype. É sobre funcionalidade.
E tudo indica que esse futuro será empurrado, ironicamente, por um governo disposto a gastar o que for necessário — nem sempre de forma eficiente, mas o bastante para corroer a confiança no sistema tradicional. Quando isso acontece, ativos que não podem ser inflacionados por decreto deixam de ser alternativa. E viram necessidade.
2025 pode ser o ano da virada invisível
O próximo bull market cripto talvez não venha embalado por memes ou promessas de enriquecimento rápido. Talvez não comece com altcoins triplicando em uma semana nem com influenciadores gritando “to the moon”.
Talvez ele venha como sempre vem: discreto. Lento. Incômodo de aceitar enquanto está acontecendo.
Sustentado não por euforia, mas por liquidez reprimida, erosão da confiança no dinheiro estatal e reconstrução silenciosa da infraestrutura financeira global. Nada de mágica. Apenas capital sendo realocado para onde há lógica — e limite.
O teto da dívida caiu. A dominância fiscal se impôs. Os mercados já entenderam o que isso significa.
A pergunta é: você vai precisar ver as manchetes primeiro? Ou consegue se mover antes que elas cheguem?
Referências:
Rafa Calderon, Orange Bull Substack: "Debt Ceiling? Dead. Markets? Alive." (Jun/2025)
Augusto Backes, YouTube: "O interesse morreu e o mercado cripto não vai voltar a crescer"
AAII Sentiment Survey, 4 de junho de 2025
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