Jogadores acusam Betvip de propaganda enganosa com "pagamento antecipado"
- Fred Azevedo
- 26 de jun.
- 4 min de leitura
Atualizado: há 7 dias
Nos últimos dias, o portal Fred Azevedo recebeu denúncias reiteradas de jogadores que relatam terem sido induzidos ao erro por uma funcionalidade destacada no site da Betvip: o "pagamento antecipado".
Segundo os relatos, a função é anunciada de forma ostensiva antes da aposta, mas simplesmente desaparece no comprovante de aposta após a confirmação, gerando expectativa de liquidação antecipada que nunca se concretiza.
Trata-se de um alerta sério. Em um setor em que a confiança no sistema é essencial para a continuidade das apostas, qualquer sinalização falsa ou ambígua pode transformar a experiência em frustração — ou em prejuízo financeiro direto.
Neste dossiê, destrinchamos o funcionamento do selo de pagamento antecipado da Betvip, os relatos dos jogadores, a resposta da empresa e os aspectos legais envolvidos. E fazemos uma pergunta incômoda: quando a interface comunica uma promessa, mas entrega outra coisa, isso é falha técnica ou modelo de negócio?

A promessa que não vale: versão dos jogadores
As mensagens recebidas indicam um padrão: a presença do selo amarelo gera a expectativa de que a função está disponível. Em uma das mensagens, um jogador afirma:
"Eles colocaram a função de pagamento antecipado no Mundial de Clubes. Fica aparecendo ali em amarelo até na caderneta de apostas. Depois que faz a aposta, some no comprovante, levando os clientes a acharem que estão fazendo aposta com pagamento antecipado."
Outro jogador relata que, ao apostar no jogo Inter Miami x Palmeiras, a Betvip exibiu o selo de pagamento antecipado antes da confirmação.
No entanto, mesmo com o Inter Miami abrindo 2x0, a aposta não foi encerrada automaticamente. Após o empate no fim do jogo, o resultado foi considerado perdido. A função sumiu, e o atendimento alegou que ela "não estava ativa para a conta dele".

O sentimento predominante é de confusão e desconfiança. Jogadores afirmam não saber mais quando a função realmente vale, ou se o selo tem algum valor contratual.
Pior: não há mecanismo para checar previamente, nem aviso claro na hora da aposta.
A explicação da Betvip: ícone não é promessa
Em dois e-mails obtidos pelos jogadores e enviados ao portal, a Betvip admite que o selo é exibido mesmo sem garantia da funcionalidade. Segundo a casa:
"A presença do ícone não representa uma garantia de disponibilidade da funcionalidade para aquela aposta específica."
E ainda:
"A exibição visual ocorre de forma padronizada em alguns eventos, independentemente da efetiva liberação da função no momento da operação."

A plataforma alega que a indisponibilidade se deve a "limitações técnicas e operacionais impostas pelo provedor da funcionalidade", e que essas condições variam de acordo com o perfil de uso da conta, padrões comportamentais e critérios internos.
Na prática, a Betvip diz que o selo aparece automaticamente, mas não significa nada para o usuário até que a casa decida que vale.
E isso pode depender de critérios que não são públicos, não são explicados no momento da aposta e não são verificáveis pelo jogador.
Onde está o contrato?
Do ponto de vista jurídico, a questão central é: o selo "pagamento antecipado" pode ser interpretado como parte da oferta?
Segundo o art. 30 do Código de Defesa do Consumidor:
"Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado."
A presença do selo antes da aposta — com destaque visual, cor chamativa e posicionamento estratégico — induz o consumidor a acreditar que aquela funcionalidade estará disponível para sua conta.
Se essa funcionalidade não estiver ativa, o sistema deveria alertar de forma clara e imediata antes da confirmação da aposta.
Caso contrário, o jogador é induzido a acreditar que pode contar com um benefício que, na prática, será negado. Isso caracteriza quebra de expectativa legítima e pode ser interpretado como oferta enganosa, mesmo que não haja promessa escrita.
"Para uns sim, para outros não": a seletividade opaca
Um dos elementos mais sensíveis das denúncias é o relato recorrente de que a função é oferecida a alguns usuários e negada a outros, sem critério informado ou verificável.
"Disseram que o provedor é quem escolhe as pessoas que têm direito ou não. Fiz até um vídeo testando pra menina do chat."
Esse tipo de seletividade opaca abre margem para discricionariedade injustificável. O jogador só descobre que sua conta está sem acesso depois de perder — e o suporte, via de regra, informa que "infelizmente não há o que fazer".
O problema é estrutural, não técnico
O caso do pagamento antecipado na Betvip não é apenas uma falha técnica ou uma inconsistência pontual. É sintoma de uma estrutura onde a linguagem visual da plataforma tem mais peso que o compromisso contratual real.
A empresa afirma que o selo não tem valor de promessa. Mas o sistema o exibe como um atrativo. Não há alerta de que ele possa ser inválido. E, quando a funcionalidade falha, não existe indenização, reversão automática, reembolso ou revisão.
A falha, portanto, não está apenas no funcionamento técnico. Está na ausência de mecanismos transparentes, verificáveis e justos de comunicação e responsabilização. Está na ideia de que o sistema pode exibir qualquer coisa, e depois se eximir da consequência sob o argumento de que "era só visual".
Espaço para manifestação da empresa
O portal Fred Azevedo entrou em contato com o suporte oficial da Betvip por e-mail na data 26/06/2025 e manterá este artigo atualizado em caso de resposta.

Nota editorial
O portal Fred Azevedo entende que o uso de elementos visuais que induzem expectativa de funcionalidade não garantida é uma prática comercial altamente questionável. Ainda que tecnicamente a casa não prometa diretamente o pagamento antecipado, a sinalização no ato da aposta gera legítima expectativa.
E no mercado de apostas, a expectativa vale dinheiro real. Jogadores tomam decisões baseadas nessas promessas visuais. Perdem — literalmente — quando elas falham. O mercado não pode se apoiar no argumento de que "o ícone não significa nada" depois de tê-lo exibido como diferencial antes da aposta.
Ou o selo é promessa — e deve ser respeitado. Ou é engodo — e deve ser retirado.
A Betvip precisa se manifestar com mais clareza. E os órgãos de proteção ao consumidor precisam entender que a linguagem das plataformas digitais também é contrato.