Manipulação, desconfiança e regulação: como os jogadores brasileiros veem o mercado de apostas online
- Fred Azevedo
- 20 de jun.
- 6 min de leitura
Atualizado: há 14 horas
Estudo revela o que pensam os jogadores brasileiros e apostas: desconfiança segue alta, gastos são moderados e o apelo por transparência só cresce.

Mesmo com a regulamentação avançando em ritmo acelerado, o que se vê nas entrelinhas do mercado brasileiro é um dado que incomoda: 74% dos jogadores acreditam que há manipulação em jogos para beneficiar certos apostadores. A informação vem de um levantamento conduzido pela Playtech em fevereiro de 2025, que ouviu mais de 2.500 usuários em cinco países da América Latina, incluindo o Brasil.
A percepção escancara o fosso entre o que se promete com regulação e o que se entrega na prática. O brasileiro joga — e joga muito. Mas joga desconfiando. Joga sem saber exatamente quem protege seus dados, quem fiscaliza os operadores e, principalmente, quem responde quando algo dá errado. Fonte: Juego Responsable: Perspectivas y Tendencias de los Consumidores en América Latina
Um hábito consolidado, com intensidade variada
Apostar online já faz parte da rotina de milhões de brasileiros — e os números confirmam essa adoção. Segundo o levantamento, 13% jogam todos os dias, enquanto 30% apostam mais de uma vez por semana. Outros 30% jogam pelo menos uma vez por semana. Ou seja, uma parcela significativa do público está engajada com regularidade.
Esse comportamento não deve ser interpretado com alarde. Pelo contrário: mostra que o entretenimento digital encontrou espaço, preferência e público no Brasil. O desafio está em garantir que essa jornada ocorra em ambientes seguros, transparentes e confiáveis.
O problema não é a frequência. É a falta de garantias quando o jogador deposita com facilidade, mas encontra entraves para sacar. Quando aceita um bônus sem entender as condições. Quando aposta em plataformas que estampam camisas de clubes, mas que ninguém sabe ao certo se estão ou não autorizadas a operar.
É nesse vácuo — entre o uso massivo e a ausência de controle visível — que a desconfiança cresce.
Quanto se gasta para jogar no Brasil?
A ideia de que os brasileiros estão gastando fortunas com jogos online não se sustenta nos dados. A maioria dos jogadores mantém um gasto mensal controlado e proporcional à realidade econômica do país.
Segundo o levantamento, 30% dos brasileiros gastam entre R$ 50 e R$ 100 por mês com jogos online — valor comparável ao custo de um serviço de streaming ou um jantar simples para duas pessoas. Outros 23% gastam menos de R$ 50 por mês, e mais 23% ficam na faixa entre R$ 101 e R$ 200.
Apenas 6% disseram gastar mais de R$ 500 por mês, e só 3% ultrapassam a faixa de R$ 1.000 mensais — algo que, dentro do universo pesquisado, é exceção, não regra.
Esses números mostram que a grande maioria dos jogadores não está em situação de risco financeiro elevado por conta do jogo. Ao contrário, o comportamento predominante é de moderação. O problema, mais uma vez, não está necessariamente em quanto se joga — mas nas condições em que esse jogo ocorre.
Quando os operadores dificultam saques, oferecem bônus com regras obscuras ou alteram campanhas no meio do caminho, mesmo R$ 50 mal administrados podem se tornar fonte de frustração.

O que jogam os brasileiros?
As preferências de jogo entre homens e mulheres mostram perfis bem distintos — tanto no tipo de jogo favorito quanto nos critérios adotados para escolher uma plataforma.
Entre os homens, o jogo mais citado é a roleta (50%), seguido pelas slots (38%), confirmando a popularidade dos clássicos com alto ritmo e apelo visual. Já entre as mulheres, a roleta também lidera (61%), mas o segundo lugar é ocupado pelo bingo (51%), um jogo com ritmo mais estável e regras familiares.
Na hora de controlar o gasto, 48% dos homens e 54% das mulheres afirmam estabelecer um orçamento específico para jogar. Ainda assim, os perfis de gasto variam: 34% dos homens ficam entre R$ 50 e R$ 100 por mês, enquanto 28% das mulheres gastam menos de R$ 50 no mesmo período.
Mas o que define a escolha da plataforma? Para os homens, dois fatores se destacam:
Facilidade de navegação e interfaces amigáveis (44%)
Bônus exclusivos e boas odds (39%)
Para as mulheres, os critérios mudam um pouco:
Atendimento ao cliente (51%)
Avaliações e recomendações de outros usuários (39%)
Esses dados mostram que o comportamento de jogadores brasileiros não é homogêneo — ele reflete diferentes expectativas, hábitos e prioridades. Ignorar essas diferenças é perder a chance de construir um mercado mais inteligente, segmentado e respeitoso com quem realmente joga.
E quando ganham, o que fazem com o dinheiro?
Nem sempre o ganho vira aposta de novo. A pesquisa mostra que os brasileiros, ao vencer, fazem escolhas diversas — e muitas delas ligadas ao uso consciente do dinheiro.
44% disseram que usam os prêmios para aumentar a poupança ou a reserva financeira, enquanto 33% afirmam utilizar o dinheiro para pagar contas ou despesas cotidianas. Um comportamento que revela a conexão direta entre o entretenimento digital e a realidade econômica da maioria dos jogadores.
Outros 28% preferem reinvestir os ganhos em novas apostas, o que é natural em qualquer ambiente lúdico. Já 22% usam o valor para quitar dívidas, e uma parcela semelhante (21%) faz compras planejadas com o valor recebido.
A ideia de “ganhou, torrando tudo” não se confirma. Apenas 15% gastam com coisas não essenciais, e 22% dizem guardar o valor para ocasiões especiais — como uma viagem, um presente ou uma experiência fora da rotina.
Na prática, o jogador brasileiro parece muito mais racional do que o senso comum imagina. E isso reforça uma crítica já conhecida: o problema não está em jogar — está na falta de estrutura para garantir que o jogo seja sempre justo, claro e seguro.
Falta regulação naquilo que mais se vê: a publicidade
Se os jogos já fazem parte do dia a dia digital, os anúncios também. E é justamente por isso que 82% dos brasileiros dizem que a publicidade precisa ser mais regulada.
Não se trata de censura ou proibição. Trata-se de proteger o consumidor da promessa fácil, da linguagem agressiva, do marketing que ignora os riscos e romantiza o lucro. A própria legislação brasileira já proíbe, por exemplo, que se associe apostas a sucesso financeiro, solução de problemas ou comportamento irresistível — mas quem fiscaliza isso?
O estudo também mostra que a maioria dos entrevistados quer ver avisos claros sobre os riscos do jogo nas campanhas. Informação, não moralismo. Transparência, não censura.
A confiança que falta, mesmo com a licença no papel
No Brasil, três em cada quatro jogadores (74%) acreditam que resultados de partidas podem ser manipulados para favorecer certos apostadores. É um nível de desconfiança alto demais para ser tratado como ruído estatístico — ele aponta para um problema estrutural de credibilidade.
Desse total, 30% dizem concordar totalmente com essa afirmação, e outros 44% concordam. Não estamos falando de uma minoria insatisfeita — é o retrato dominante entre os apostadores brasileiros.
E não para por aí. Quando questionados sobre a publicidade no setor, 82% dos brasileiros afirmam que é preciso fazer mais para regulá-la. A combinação entre desconfiança no resultado e incômodo com o marketing agressivo revela um ponto de ruptura: o mercado está presente, mas ainda não é confiável o suficiente.
A sensação de manipulação não vem do acaso. Ela se alimenta da falta de transparência em promoções, da ausência de respostas nos canais de suporte e do uso abusivo de termos de uso como escudo legal. Muitos jogadores relatam situações em que regras foram mudadas durante um torneio ou em que um bônus foi suspenso no meio de um rollover ativo — sem qualquer justificativa razoável.
Mesmo com a criação da Secretaria de Prêmios e Apostas e as exigências formais de licenciamento, o comportamento de parte das operadoras ainda carrega resquícios de um mercado informal. E, enquanto isso persistir, a confiança não virá com a licença — virá com atitudes.
Reflexão final: a nova era das apostas precisa mais do que tecnologia
O Brasil está se tornando um dos maiores mercados regulados do mundo. Mas isso só será uma boa notícia se vier acompanhado de responsabilidade, fiscalização efetiva e respeito pela relação entre jogadores brasileiros e apostas.
Se o jogador joga toda semana, isso mostra que ele gosta do produto. Agora é o setor que precisa mostrar que gosta do jogador — e que o leva a sério.
Proteger o consumidor não significa tratar o jogo como vilão. Significa tratá-lo com respeito. E confiança, como sabemos, não se impõe por decreto — se constrói na prática, todos os dias.
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