Jogo e vulnerabilidade: o impacto psicológico da aposta em quem tem menos
- Fred Azevedo

- 6 de ago.
- 4 min de leitura
Atualizado: 12 de ago.
Estudos mostram que o jogo afeta de forma desigual a população — e que, em contextos de vulnerabilidade, a aposta se torna uma resposta emocional imediata, não apenas entretenimento.
A relação entre jogo e vulnerabilidade tem sido cada vez mais explorada por pesquisadores das ciências cognitivas. Em cenários de escassez financeira, o comportamento humano sofre alterações previsíveis — favorecendo decisões impulsivas, imediatistas e emocionalmente carregadas.
Quando esse padrão encontra as dinâmicas do jogo de aposta, o resultado deixa de ser apenas entretenimento: passa a representar um mecanismo psicológico de compensação, fuga ou esperança.

Recompensa imediata e a economia do agora
O conceito de desconto temporal, descrito por George Ainslie (1975), explica por que indivíduos em situação de escassez tendem a preferir recompensas imediatas mesmo quando isso implica prejuízos futuros. Em outras palavras, quando o presente é incerto, a promessa de um ganho rápido se torna mais valiosa do que qualquer planejamento de longo prazo.
Em paralelo, a economista Melissa Kearney (2005) demonstrou que famílias de baixa renda destinam, proporcionalmente, mais recursos a jogos de azar e loterias do que famílias com maior poder aquisitivo. Não se trata de falta de informação — mas de uma tentativa de acessar, ainda que simbolicamente, oportunidades percebidas como inalcançáveis pelos meios tradicionais.
A dopamina e o reforço em tempos difíceis
Berridge e Robinson (1998) descreveram como o sistema de dopamina, responsável pela sensação de prazer e expectativa de recompensa, responde de maneira mais intensa em contextos de vulnerabilidade. Esse estado neurofisiológico torna o indivíduo mais receptivo a estímulos que prometem gratificação, mesmo diante de riscos elevados.
No ambiente das apostas, esse estímulo pode se manifestar por meio de bônus, giros gratuitos, apostas mínimas acessíveis e linguagem que evoca emoção ou sensação de controle. Em si, esses elementos fazem parte do design legítimo da experiência de jogo — mas seus efeitos sobre públicos mais suscetíveis ainda são objeto de estudo e debate.
Tomada de decisão sob pressão emocional
Dan Ariely, autor de Predictably Irrational, demonstrou que decisões econômicas são mais propensas a desvios racionais quando tomadas sob estresse, luto, solidão ou insegurança. São justamente esses estados emocionais que aumentam a probabilidade de envolvimento recorrente com atividades de risco — como apostas frequentes sem controle de perdas.
A psicologia também aponta que, nesses cenários, o cérebro busca atalhos cognitivos: evita leitura de termos complexos, superestima ganhos recentes e subestima probabilidades. O comportamento impulsivo, nesse contexto, não é exceção — é padrão.
Ambientes digitais e estímulos contínuos
Em plataformas online, os gatilhos de recompensa são contínuos: mensagens visuais, notificações, contadores regressivos e elementos interativos mantêm o jogador engajado. Embora essas ferramentas façam parte do design moderno de jogos, seus efeitos sobre diferentes perfis socioeconômicos ainda demandam estudos mais aprofundados.
A literatura em psicologia do consumo mostra que pessoas com menor estabilidade financeira tendem a perceber essas interações como oportunidades reais de alívio imediato — e não apenas como entretenimento. Isso reforça a importância de estratégias claras de contenção, informação e prevenção, especialmente quando há contato com públicos em maior risco.
Legislação atual e políticas de proteção ao jogador
É importante destacar que o Brasil possui hoje um arcabouço legal robusto voltado à proteção dos apostadores, especialmente no que se refere à prevenção à ludopatia e à publicidade responsável.
A Lei nº 14.790/2023, que regulamenta as apostas de quota fixa no país, estabelece princípios e diretrizes para o jogo responsável.
Entre os dispositivos legais estão:
Proibição de publicidade enganosa ou que sugira solução financeira para o jogador (Art. 17);
Obrigação de mecanismos de autoexclusão e limites de depósito;
Necessidade de sistemas de controle para identificar padrões de comportamento de risco;
Campanhas obrigatórias de informação sobre riscos do jogo excessivo.
Além disso, as portarias da SPA/MF, como a de número 1.231/2024, detalham as obrigações operacionais dos sites de apostas no que diz respeito ao jogo responsável, incluindo exigência de ferramentas para alertas de tempo de sessão, bloqueio voluntário, canal de denúncia e relatórios periódicos.
Há também o Anexo X do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária (CONAR), que determina as práticas permitidas na promoção de jogos de aposta — incluindo limites ao uso de linguagem emocional, proibição de indução ao comportamento compulsivo e exigência de selos e mensagens de alerta (“+18” e “jogue com responsabilidade”).
Ou seja: o debate sobre a vulnerabilidade emocional do jogador não ignora os avanços legais. Mas reforça a necessidade de aplicação consistente dessas normas, fiscalização ativa e aprimoramento contínuo das estratégias de mitigação de danos.
Informação é o primeiro passo
A neurociência já mostrou: o cérebro reage de forma diferente quando está sob pressão. E a psicologia comportamental completa: decisões financeiras são profundamente afetadas por contexto, emoção e percepção de risco.
Diante disso, o desafio não é apenas regular o setor — mas entender, com base em evidências, como proteger melhor quem mais aposta não por lazer, mas por necessidade. A aposta em si não é o inimigo. O risco real está na combinação entre vulnerabilidade, estímulo constante e ausência de ferramentas de contenção personalizadas.
Afinal, como resume Heather Wardle, pesquisadora da UCL:"O jogo não atinge todos da mesma forma — ele atinge mais quem tem menos."
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