O ataque à Superbet – Parte 2: A verdade que não te contaram
- Frederico Aranha
- 22 de abr.
- 7 min de leitura
Atualizado: 30 de set.
São Paulo, 10 de abril de 2025. Transamerica Expo Center.
Era o último dia do BiS SiGMA Americas. Entre corredores e cumprimentos, a movimentação do mercado pulsava forte. Foi ali que, pela primeira vez, meu diretor de comunidade, André, ouviu falar da campanha que abalaria o mercado nas próximas semanas. A Superbet estava preparando algo grande para a quinta rodada do Brasileirão. A informação vinha quente de dentro. Algo grande estava por vir. Anotamos mentalmente e seguimos. Nada além de mais uma estratégia promocional, pensávamos.
Mas não era.
O alerta – "Superbet Bug"
Na quinta-feira, 18 de abril, às 20h13, recebo uma mensagem anônima. Um e-mail com um alerta direto, gelado, que me travou: um ataque contra a Superbet estava em curso. A mensagem era objetiva, sem detalhes, mas não precisava de muito: não havia campanha melhor para ser atacada do que a dos 300 giros grátis no slot Tigre Sortudo.

Como era a promoção?
A promoção da Superbet, que foi lançada no painel de jogadores como ativa e disponível a partir do dia 19 de abril, prometia 300 giros grátis no slot “Tigre Sortudo” para todos os usuários que apostassem R$300 com dinheiro real em jogos da quinta rodada do Brasileirão, entre os dias 19 e 21 de abril de 2025.
As apostas precisavam ter odds mínimas de 2.0 por cupom, e a condição era válida apenas para apostas simples ou múltiplas que envolvessem eventos da rodada. A promoção aparecia publicamente na seção “Promoções > Em andamento” e instruía o usuário a “aguardar as apostas liquidarem” para que os giros fossem creditados.
Não havia nenhuma exigência de saldo mínimo ou limitação explícita de público (como restrição para VIPs). Era, portanto, uma promoção legítima, ativa e utilizável por qualquer jogador regular.

Não havia nada de errado em usá-la. Os termos estavam visíveis, e seguir a campanha não infringia nenhuma regra. Jogadores que participaram estavam exercendo seu direito dentro da proposta feita pela própria casa.
Quando fazer a coisa certa vira risco
Meu time travou. “Se a gente sabe do que vai acontecer e não faz nada, vão jogar a gente no mesmo saco.” A frase ecoava enquanto tentávamos falar com o jurídico. Sem resposta. Tínhamos medo, insegurança. Mas também tínhamos um grande senso de responsabilidade.
Começamos a avisar pessoas próximas. Às 23h, a tentativa de contato com o suporte da Superbet foi publicada nos stories. Print da fila. Prova de que tentamos. Não por heroísmo, mas porque não queríamos ser confundidos com quem estava por trás daquilo.

E foi aí que o inferno começou.
Vieram as ameaças. “Se a casa rouba, o método é justiça”, escreveram. “Quem atrapalha, paga.” Mais de 800 denúncias simultâneas contra meu perfil. Stories apagados. Postagens fora do ar. Comecei a temer pela minha segurança e da minha família.

E tudo isso porque tentei evitar que mais pessoas fossem prejudicadas. Porque alertei uma casa que estava sob ataque, com medo de ser implicado.
A resposta jurídica
No dia 20 de abril, nosso jurídico respondeu: não há nenhuma obrigação legal de alertar uma casa de apostas sobre um ataque.
Isso está garantido pelo artigo 5º, inciso II da Constituição Federal:
“Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.”
“ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.”
Nunca mais vamos cobrir ao vivo nenhum ataque quando o assunto for métodos. (Parte 1)
Não sou suporte. Não sou compliance. Não sou segurança de plataforma. Sou mídia. Mídia independente.
E a partir de agora, nossa postura será firme: não vamos mais emitir alertas em tempo real sobre ataques ou fraudes. Não somos suporte, nem segurança de plataforma.
Somos mídia independente. E tiramos de lição, com esse episódio, que tentar proteger os outros em tempo real - sem obrigação legal para isso - pode custar nossa paz, nossa segurança e até nossas vidas.
Como funcionam os verdadeiros reis do golpe
Os gurus dos grupos pagos vendem o sonho do lucro com “métodos infalíveis”. Em muitos casos, cobram valores que chegam a até R$10 mil por mentoria ou acesso vitalício a grupos privados. A promessa é sempre a mesma: acesso antecipado a bônus, falhas e oportunidades supostamente seguras de lucro.
Mas a verdade é outra.
Esses donos de grupo agem antes de todos. Têm informações privilegiadas. Criam múltiplas contas, burlam sistemas de KYC com CPFs de laranjas, utilizam software para automatizar apostas. Farmam compulsivamente. E, quando estão prestes a sair, divulgam para os membros.
Por quê? Liquidez.
A casa de apostas começa a perder liquidez com o volume dos falsos cadastros e retiradas. Para equilibrar o sistema, a entrada de apostadores reais é essencial. É aí que os gurus abrem as portas. Seus seguidores, acreditando estarem recebendo uma “dica quente”, entram com tudo. Mas a verdade é que eles são a liquidez de saída dos fraudadores.
A promoção da Superbet foi usada exatamente dessa forma. Os primeiros exploradores farmaram com dezenas de contas falsas, depois abriram a “dica” para os seguidores, que entraram tarde demais. E foi com o dinheiro desses seguidores que os fraudadores saíram da operação.
A campanha foi real. O cancelamento, ilegal.
A promoção estava ativa, com regras claras e visíveis para o consumidor. Muitos jogadores depositaram valores específicos, organizaram suas apostas de acordo com os critérios exigidos (R$300 em jogos do Brasileirão, com odds mínimas de 2.0) e seguiram à risca o que foi prometido pela casa.
No entanto, após a execução de parte ou de todo o valor necessário, a promoção foi cancelada unilateralmente pela Superbet, o que configura violação direta ao Código de Defesa do Consumidor (CDC).

De acordo com o Art. 30 do CDC, toda oferta feita por fornecedor ao público obriga o cumprimento da proposta, exatamente como apresentada:
"Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado."
Além disso, o Art. 35 do CDC garante ao consumidor o direito de exigir o cumprimento forçado da oferta, aceitar outro produto ou serviço equivalente, ou rescindir o contrato com direito à restituição da quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, acrescida de perdas e danos:
“Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha:
I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta;
II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;
III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e perdas e danos.”
Portanto, o cancelamento da campanha após a adesão dos jogadores é uma prática abusiva e ilegal, que fere princípios básicos de transparência, boa-fé e respeito ao consumidor. Os jogadores que cumpriram os termos anunciados têm pleno direito de exigir que a casa cumpra com a entrega do bônus ou seja responsabilizada pelos prejuízos causados.
Suspeitas que não podemos ignorar
Há ainda um ponto que precisa ser considerado, por mais desconfortável que seja: as suspeitas de participação interna.
Não é possível afirmar com certeza, mas os indícios são muitos. A campanha dos 300 giros já era comentada nos bastidores desde o final do evento SiGMA em São Paulo, no dia 10 de abril. Informações sobre os detalhes da promoção circulavam entre insiders e grupos fechados dias antes da ativação oficial na plataforma.
Isso levanta a primeira suspeita: alguém de dentro da casa pode ter vazado a estrutura da campanha.
E mais: o fato da promoção ter sido lançada sem limitação visível, com valores acessíveis e bônus extremamente generosos, justamente em um fim de semana de grande volume esportivo, levanta a dúvida se a Superbet não teria previsto o abuso.
A hipótese mais grave é que a casa tenha lançado a campanha já prevendo que ela seria explorada, apenas para gerar volume de cadastro, movimentar apostas e cortar a campanha quando o prejuízo começasse.
É também plausível que, diante do alerta de ataque recebido — que não partiu do nosso canal, já que não conseguimos contato com a Superbet por nenhum meio —, a casa tenha optado por deixar a campanha rodar, monitorar os saques, e cancelar na hora em que considerasse conveniente para proteger sua margem, mesmo que isso implicasse em prejuízo para os jogadores que participaram corretamente.
A verdade é que, nesse cenário, ninguém parece inocente:
A casa lançou uma campanha agressiva, com falha de comunicação e monitoramento;
Grupos de fraude exploraram o sistema em escala industrial;
Seguidores desses grupos serviram como massa de sustentação para saques fraudulentos;
E, por fim, os jogadores honestos foram punidos sem explicação.
Precisamos levantar essas perguntas. Porque se não falarmos delas agora, elas vão continuar sendo usadas contra o jogador comum nos próximos escândalos que vierem a acontecer.
Casos semelhantes que custaram milhões
O que aconteceu com a Superbet não é inédito. Em 2023, um bug no sistema de validação de apostas da Betano permitiu que milhares de apostas com odds zeradas fossem validadas e pagas como se fossem válidas. Grupos organizados souberam antes, exploraram o bug, e deixaram o prejuízo para a casa.
Outro caso: em 2024, uma falha na autenticação de cashback da 20BET permitiu que jogadores criassem múltiplas contas e recebessem cashback ilimitado usando VPN e e-mails temporários. O rombo ultrapassou R$4 milhões.
Ambos os casos envolviam as mesmas estruturas de exploração que vimos na Superbet: conhecimento antecipado, engenharia de contas falsas, e uso posterior da comunidade para disfarçar a origem dos saques.
Denúncias dos jogadores
Após o cancelamento, recebi centenas de mensagens de jogadores indignados:
“Fred, apostei os R$300 como mandava. A promoção tá lá, meu saldo foi usado. Agora dizem que foi erro?”
“Meus amigos que não são VIPs conseguiram. E eu, que segui tudo certo, fiquei sem nada?”

“A promoção tava ativa. Apostei. Cumpri odds. Cadê meus giros?”
As mensagens mostram o sentimento coletivo de frustração e injustiça. E também provam que a campanha estava disponível publicamente, não era exclusiva nem foi vazada por engano.
Ação judicial: Sou eu quem defende o jogador
Contratei um escritório de advocacia para representar gratuitamente todos os jogadores lesados. A proposta é clara: responsabilizar a casa pela quebra unilateral do contrato promocional, garantir que os jogadores sejam ressarcidos e que campanhas futuras não sejam encerradas sem critério.
Fiz minha parte. As pessoas lesadas que me procuraram receberam apoio. Caso você queira ajuda, cheque meu Instagram para saber mais.
