O que a Operação Trapaça revela sobre o submundo dos jogos ilegais
- Fred Azevedo

- 20 de jun.
- 4 min de leitura
Atualizado: 18 de set.
Denúncia do Ministério Público de Alagoas contra esquema de rifas manipuladas e jogos clandestinos expõe o que muita gente finge não ver: a indústria da enganação
No dia 9 de junho de 2025, o Ministério Público do Estado de Alagoas (MPAL) apresentou uma denúncia que, embora localizada, revela uma lógica muito mais ampla — e perigosa.
A ação, resultado da Operação Trapaça, pede a condenação de oito pessoas envolvidas em exploração ilegal de jogos de azar online, manipulação de rifas, lavagem de dinheiro e fraudes estruturadas.
O alvo central é um ex-policial militar, agora influenciador digital, que ostentava luxo nas redes sociais enquanto divulgava links de cassinos clandestinos e comandava rifas supostamente premiadas.
A pena pedida? 77 anos de prisão para ele — e mais 177 anos para os demais envolvidos.
Mas o que realmente está em jogo aqui não são apenas os réus. É o modelo.
Rifa manipulada não é sorteio — é fraude
De acordo com o Grupo de Atuação Especial de Combate à Sonegação Fiscal e Lavagem de Bens (Gaesf), a organização criminosa não só promovia rifas ilegais, como fraudava os sorteios para beneficiar membros do próprio grupo, enganando os participantes com promessas de prêmios milionários.
O MP de Alagoas é claro:
“A prática reforça o caráter enganoso das atividades dos criminosos, que utilizavam a falsa promessa de prêmios para atrair vítimas e legitimar o esquema ilícito.”(⚖️ Cyro Blatter, promotor e coordenador do Gaesf)
Ou seja: o crime não está apenas na ausência de licença. Está na intenção de enganar.
Na falsificação sistemática da expectativa de ganho.
E, sobretudo, no uso da influência digital para dar verniz de legitimidade ao golpe.

O “tigrinho” é só a superfície: o problema é estrutural
A investigação começou com o jogo “Fortune Tiger”, popularmente conhecido como o “jogo do tigrinho”.
Usado por centenas de influenciadores para simular uma suposta chance de enriquecimento instantâneo, o jogo virou símbolo da promiscuidade entre marketing e manipulação.
O problema? Grande parte das pessoas que promovem esse tipo de conteúdo sabem exatamente o que estão fazendo.
Não se trata de ignorância. Trata-se de oportunismo. As campanhas usam:
Sorteios falsos para gerar audiência.
Grupos de WhatsApp com links para plataformas não licenciadas.
Depoimentos forjados de supostos ganhadores.
E, principalmente, linguagem emocional e promessas irreais: “Esse é o segredo que mudou minha vida. Tenta agora.”
Influência virou arma — e o Estado precisa agir
O caso de Alagoas é grave, mas não é único.
Ele escancara um problema que se espalha pelas redes sociais e plataformas digitais com velocidade: a naturalização da falsa promessa de prêmios e jogos ilegais como estratégia de captação.
Hoje, influenciadores digitais com milhões de seguidores:
Divulgam links de casas piratas;
Promovem jogos com saldo fictício (sem informar o público);
Criam rifas e sorteios que jamais são auditados;
Usam crianças, idosos e celebridades como instrumentos de apelo;
E, em muitos casos, associam a ideia de “ganhar” a uma transformação de vida que nunca acontece.
Isso não é mais marketing. É crime com storytelling.
O papel do Ministério Público: firme, mas ainda isolado
A ação do MPAL é louvável. Mas mostra um desequilíbrio institucional. Enquanto promotorias estaduais agem com coragem, o combate à estrutura nacional desses golpes ainda é frágil. Faltam:
Coordenação com a ANPD, para apurar uso de dados pessoais em rifas e grupos;
Ações integradas com o Ministério da Justiça, para combater a rede interestadual de pirataria de jogos;
Enfrentamento da lavagem de dinheiro por meio de carteiras digitais, contas laranja e criptomoedas;
Responsabilização dos canais de mídia social, que monetizam conteúdo fraudulento sem critérios.
A fronteira entre o legal e o mundo dos jogos ilegais é a transparência
Rifa não é crime. Aposta também não. O problema é como, quem e com que intenção se promove isso.
Um cassino legalizado, licenciado e auditado oferece:
Termos claros de participação;
Pagamento fiscalizado;
Acesso a canais de reclamação;
Mecanismos de jogo responsável.
Um esquema como o denunciado pelo MP de Alagoas oferece o oposto:
Resultados manipulados;
Prêmios inventados;
Nenhuma fiscalização;
Influência baseada na desinformação.
Conclusão: ou enfrentamos o sistema, ou os golpistas seguem impunes
A Operação Trapaça mostra o que acontece quando o marketing do crime é mais rápido que a regulação do Estado.
Enquanto influenciadores continuam vendendo a ilusão da “vida de apostas”, milhares de brasileiros perdem dinheiro, confiança e esperança em um mercado que deveria ser regulado com seriedade.
O Estado precisa parar de fingir que punir um ou outro é suficiente. É hora de construir uma estrutura de combate articulada, que una:
Lei penal atualizada;
Ações coordenadas entre MP, Receita e polícias;
Fiscalização de plataformas digitais;
E campanhas de educação para o público.
Porque, como mostra o caso de Alagoas, a promessa de prêmios pode ser só a porta de entrada. Mas o que está por trás é crime, lavagem e destruição de vidas.
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