Quem é o brasileiro das apostas esportivas — e quanto gasta, segundo pesquisa da Globo
- Fred Azevedo

- 18 de ago.
- 6 min de leitura
Atualizado: 26 de set.
Reportagem especial baseada na Pesquisa Exclusiva Globo (maio/2025), com 1.000 entrevistas online em parceria com a Offerwise. Referência pública: BNL Data — “Grupo Globo apresenta pesquisa sobre apostadores brasileiros”.
O Brasil regulamentou. O hype passou, a poeira assentou, e o jogador comum continuou lá: depositando R$50, sacando R$80 quando dá, errando “bilhete pronto” e, principalmente, tratando aposta como lazer. Sete em cada dez dizem jogar por diversão (72%). O resto do mercado? Precisa ouvir. E ajustar o discurso.

O que esta pesquisa mediu (e por que importa)
Objetivo: mapear o cenário pós-regulamentação, entender motivações, perfis e relação com mídia — de quem aposta e de quem não aposta.
Amostra: 1.000 casos (59% apostadores; 41% não apostadores) — H/M 18+; Brasil.
Metodologia: online quantitativa (Offerwise).
O perfil demográfico do apostador
Gênero: 66% masculino e 34% feminino.
Idade: base larga — 41% entre 25-44; 18% têm 55+.
Região: concentração no Sudeste (48%), mas Nordeste (23%) e Sul (18%) ocupam espaço.
Classe/Renda: predominância de classe C (45%); 57% ganham até R$5.424/mês.
Tradução crua: é a classe média real e a classe trabalhadora financiando o setor — não a “elite das tips”. É com esse público que marcas, mídia e políticas públicas precisam falar.
Três perfis que disputam a narrativa
1) Conservador — evita risco, gasta pouco, confia no conhecido
Peso na base: 45%.
Frequência: 49% “medium users” (1–3x/semana).
Ticket: 76% investem até R$100/mês.
Mídia: TV aberta/Paga de esporte (TV Globo, SporTV), ge.globo e programas semanais.
Crenças: marcas conhecidas = mais confiáveis; aprovação a publicidade educativa e de responsabilidade.

2) Moderado — preserva a segurança, mas arrisca às vezes
Peso: 49%.
Frequência: 55% “medium users”.
Ticket: 55% até R$100/mês.
Mídia: TV Globo/SporTV e Globoplay para acompanhar futebol.
Gatilhos: presença de odds nos sites estimula visita; curiosidade por apostas em realities (BBB etc.).

3) Engajado — toma risco em busca de ganho
Peso: 6% (minoritário, mas barulhento).
Frequência: 54% heavy users (diariamente/até 5x/semana).
Ticket: 35% entre R$101–R$500/mês.
Mídia: TV por assinatura (Premiere, Telecine, SporTV) e Globo Esporte.
Gatilhos: desempenho do time, publicidade com estatística e prognóstico, conteúdo de entretenimento.

O “apostador hardcore” é minoria. A pauta pública não pode confundir volume nas redes com maioria da base. O brasileiro médio é prudente — e reage mal a sites opacos.
Por que aposta e com que frequência?
Motivações 2025
Lazer/entretenimento: 72% (↑ de 65% em 2024)
Complementar renda/investimentos: 38% (↓ de 44%)
Conexão social: 19% (↑ de 16%)
Acompanhar modalidades favoritas: 18% (↑ de 16%)
“Principal fonte de receita”: 12% (↑ de 8%) — alerta amarelo.
Frequência 2025
Heavy users: 32% (↑ de 22%)
Medium users: 51% (↓ de 55%)
Light users: 17% (↓ de 23%)
Atividade recente
Apostou ontem: 42% (↑ de 35%)
Últimos 7 dias: 43% (≈)
Último mês: 12%
O que muda: com a regulamentação, há reengajamento — mais gente voltou a jogar com frequência, porém mantendo tickets baixos.
Barreiras e travas: por que muitos param (3–6 meses sem apostar)
Medo de vício (29%) e perder dinheiro (29%).
Desânimo com o time (29%) — opção nova em 2025.
Cenário econômico (24%) e perda de renda (19%).
Desconfiança (“resultados podem ser manipulados”): 14% (↑ de 9%).
Descontrole: 14% assumem que estavam apostando de forma descontrolada (opção nova).
Fatores sociais: reprovação da família; só aposta quando o assunto “pega” no grupo.
É impossível falar de jogo responsável sem reconhecer medo, finanças instáveis e pressão social como variáveis reais — não é “mimimi”.
Quanto os brasileiros gastam com Apostas Esportivas e de onde vem segundo a Pesquisa?
Ticket mensal
Até R$100: 63% (a base predominante)
R$101–500: 26%
R$501–1.000: 7% (↑)
Acima de R$1.001: 4% (↑)
Origem dos recursos
Salário (39%) e renda extra (27%).
Reinvestimento de ganhos (22%) — comportamento cíclico.
Poupança (5%), empréstimo com familiares (3%) e empréstimo bancário/agiota (2%) — comportamento de risco.
Reinvestimento constante e empréstimos — ainda minoritários — são indicadores de tensão financeira. É aqui que políticas de limite e mensagens de pausa precisam atuar.
Autocontrole e risco percebido
6 em 10 reconhecem que as apostas podem impactar negativamente a saúde financeira dos brasileiros.
85% já pararam ao perceber prejuízo.
83% tentam impor limites de frequência e 83% limitam o valor mensal.
61% admitem apostar para recuperar perdas — o clássico loss chasing.
Tradução: consciência existe; vulnerabilidade também. Comunicação ética não é “boniteza ESG”, é necessidade operacional.
O que as marcas precisam fazer — agora
1) Transparência e certificação técnica
Com a Lei 14.790/2023, a exploração de apostas de quota fixa exige autorização do Ministério da Fazenda; o objeto de aposta e o regime de outorga estão definidos em lei, com foco em proteção do interesse público. Marcas não autorizadas estão fora do jogo. A Portaria SPA/MF 722/2024 detalha a certificação de plataformas — requisito de segurança e integridade que sustenta a confiança do usuário. Operar sem aderir a esses padrões é atalho para sanção.
2) Pagamentos e compliance
A Portaria 615/2024 disciplina fluxos de pagamento, prevenindo risco sistêmico e exigindo trilhas de auditoria (KYC/AML). Isso não é burocracia: é proteção ao jogador e ao ecossistema.
3) Conteúdo e jogo responsável
A Portaria 1.231/2024 institui diretrizes de Jogo Responsável: mensagens claras, limites, canal de apoio e governança. Campanha “só de conversão” sem camada educativa contraria o espírito regulatório.
4) Requisitos de jogos e controles
A Portaria 1.207/2024 trata de requisitos técnicos (integridade, RNG, auditorias), pilar invisível que evita manipulação e reduz a percepção de “resultado suspeito”.
5) Destinações e fiscalização
A Lei prevê taxa de fiscalização e repasses vinculados — dinheiro que volta para esporte e políticas públicas. Não é detalhe contábil; é contrato social com o torcedor.
O “outro lado” do setor
Operadoras costumam argumentar que excesso de restrição empurra usuários para o mercado não autorizado e que barreiras reduzem inovação. Há uma verdade incômoda aqui: regulação mal implementada pode, de fato, criar atritos ruins. Ao mesmo tempo, o marco atual não veta competição — a lei fala em ambiente concorrencial mediante autorização, sem teto de operadores —, definindo critérios claros de entrada. O debate que interessa ao jogador é qualidade da autorização, certificação crível e práticas de jogo responsável que funcionem na vida real.
Oportunidades
Comunicação honesta: a base é lazer. Trate-a como tal. Pare de vender milagre.
Design de limites: facilite autoexclusão, pausar conta, configurar tetos por período.
Educação na jornada: odds e estatística podem informar — não para empurrar “all-in”, mas para decisão consciente.
Mídia esportiva: TV/streaming seguem líderes entre perfis conservador e moderado; conteúdo contextual com responsabilidade converte melhor que barulho vazio.
Sinais de risco: reinvestimento recorrente e “recuperar perdas” precisam disparar nudge de cuidado — inclusive com opções de parar por 24h/7d.
Um incômodo necessário
Se o setor quer maturidade, precisa parar de romantizar o risco. A Pesquisa sobre Apostas Esportivas mostra que o apostador brasileiro não é vilão nem herói: é trabalhador, majoritariamente de ticket baixo, que gosta de esporte e não aceita opacidade.
A boa notícia? O marco regulatório dá caminho — e a própria pesquisa indica que transparência, limites e educação funcionam quando o tema são Apostas Esportivas.
A má? Quem insistir em “show de ilusionismo” vai trombar com um público mais educado, com limites ativados e com a imprensa preparada para cobrar — sobretudo quando o discurso sobre Apostas Esportivas descola dos dados da pesquisa.
Pergunta que fica: quando veremos campanhas que vendam diversão com limites com o mesmo orçamento que hoje se gasta para vender jackpot imaginário?
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