Priscila Simões fala sobre apostas, bastidores e a ética na divulgação
- Fred Azevedo

- 22 de jul.
- 8 min de leitura
Atualizado: 16 de set.
Enquanto muitos influenciadores entraram no universo das apostas com foco em contratos e monetização, Priscila Simões trilhou o caminho inverso. Começou jogando.
E, só depois de entender o ambiente — com suas possibilidades, riscos e mecanismos —, decidiu que faria parte dele profissionalmente, com critérios claros para divulgação de marcas e responsabilidade com quem acompanha.
Com mais de 14 anos de trajetória na internet, Priscila Simões compartilha nesta entrevista sua transição do lifestyle ao iGaming, os bastidores das apostas no Brasil e os critérios que adota na divulgação de marcas — além do que considera essencial para que criadores de conteúdo cresçam nesse mercado sem comprometer sua integridade.

TRAJETÓRIA: DO LIFESTYLE ÀS APOSTAS
Portal FA: Antes das apostas, seu conteúdo era focado em lifestyle. Quando e por que você decidiu começar a divulgar casas de apostas? Foi uma escolha estratégica ou surgiu como oportunidade?
Comecei a divulgar porque comecei a jogar! Foi tudo muito natural, eu comecei jogando Double e Aviator e depois, com tempo e experiência de como funcionava uma casa de apostas, conheci os Slots e me encontrei!
Portal FA: Lembra qual foi a primeira campanha de apostas que você fechou? O que te chamou atenção naquela proposta — o cachê, a marca, a liberdade criativa?
Eu sou da época das casas chinesas, do boom que deu quando elas chegaram aqui no Brasil, mas antes de divulgar eu jogava, então muitas coisas foram acontecendo no caminho e eu fui vendo a quantidade de golpes que os jogadores poderiam tomar, então migrei para as casas “nacionais” e que estavam operando de maneira legalizada aqui no Brasil. Eu sempre fui muito transparente e responsável com o meu público, então, antes de avaliar o cachê, eu avalio a idoneidade da casa, a segurança para quem joga e os benefícios que podemos conquistar juntos dentro da casa!
Portal FA: Você percebeu alguma resistência do seu público no início? Teve queda de engajamento ou comentários negativos quando passou a falar de apostas?
Como foi algo muito natural, o público foi conhecendo os jogos e aprendendo a jogar junto comigo. Claro que o preconceito existe, mas eu sempre fui muito verdadeira sobre esse mundo, sempre divulguei da maneira mais responsável possível, antes mesmo da regulamentação. Inclusive, quando eu profissionalizei essa parte das apostas e levei isso como um trabalho, contratei uma assessoria jurídica para me orientar da melhor maneira possível, pois tenho uma credibilidade que foi conquistada nesses 14 anos, não queria “quebrar” ela por conta dos jogos.
Portal FA: Na prática, como foi o processo de adaptação? Você estudou o setor, buscou entender a regulamentação, ou aprendeu no dia a dia com os jobs?
Aprendi conforme as coisas foram acontecendo, eu sempre gostei muito de estudar e entender como as coisas funcionam e nesse mercado não foi diferente. Principalmente depois da regulamentação onde eu vi que o iGaming estava crescendo cada vez mais, então eu precisava crescer e acompanhar a evolução.
Portal FA: Hoje, olhando para trás, o que mais mudou na sua produção de conteúdo desde que as apostas entraram na sua pauta? Você sente que seu público também mudou?
A única mudança foi o acréscimo do novo assunto, continuo compartilhando a minha vida e a minha rotina, o iGaming veio apenas para acrescentar mais um nicho dentro das minhas redes sociais!
A trajetória de Priscila Simões joga luz sobre um ponto muitas vezes ignorado no debate sobre apostas: nem todo influenciador entrou nesse mercado pela via do contrato. Alguns vieram pela experiência direta, pelo uso contínuo, pela vivência real do jogo — com seus ganhos, riscos e armadilhas.
Ao assumir que já errou no passado, que se expôs (e expôs o público) a marcas não confiáveis, Priscila constrói um tipo de autoridade pouco comum no setor: a autoridade de quem aprendeu jogando e decidiu se profissionalizar por convicção — não por pressão legal.
A questão que fica é: quantos outros nomes com milhões de seguidores estão dispostos a rever suas escolhas antes que a próxima regulamentação os obrigue?
PUBLICIDADE DE APOSTAS: BASTIDORES E ESCOLHAS
A profissionalização de influenciadores no setor de iGaming passa por uma linha tênue entre visibilidade e responsabilidade. Para quem vive de imagem, a escolha de uma parceria errada pode custar caro. E para quem aposta, pode custar tudo.
Priscila Simões conhece os bastidores — e fala deles com conhecimento de causa.
Portal FA: A gente sabe que o mercado de apostas é agressivo comercialmente. Você recebe muitas propostas que simplesmente não têm coerência com o que acredita? Já recusou campanhas por isso?
Como eu trabalhei com as casas chinesas, conheço os dois lados da moeda! Quando a regulamentação chegou aqui no Brasil e eu fui estudar o mercado, percebi o quanto esse bastidor é “sujo” e o quanto o público é vulnerável e suscetível de cair em golpes por conta de influenciadores irresponsáveis. Então sim, já recusei MUITO trabalho por optar pelo certo, por optar pela segurança dos meus seguidores e não me arrependendo, meu temor à Deus e meu respeito à quem me acompanha vem em primeiro lugar!
Portal FA: Na sua rotina de criadora, o que faz você aceitar ou recusar uma parceria com uma casa de apostas? O critério é mais financeiro, técnico ou de reputação?
O critério principal é: o que essa casa tem de benefício para oferecer aos meus seguidores. Como eu tenho um grupo no Telegram e um canal de lives onde jogo ao vivo com meu público, eu faço várias brincadeiras, carinhosamente apelidadas de PRInâmicas, com vários benefícios para minhas estrelinhas (apelido dos meus seguidores), sendo eles: giros grátis ou saldo bônus para eles poderem jogar sem precisar depositar, pois quero que elas entendam que o jogo é uma diversão, um momento de descontração, que pode sim resultar em um lucro, mas esse não é o principal foco. E claro, avalio se a casa é segura, se é regulamentada e me valoriza como afiliada.
Portal FA: Você acompanha os Termos das casas que divulga? Já identificou cláusulas problemáticas ou pontos que te fizeram repensar a divulgação?
Sim! Minha assessoria avalia TUDO antes de fecharmos qualquer contrato, se algo não está de acordo, nós recusamos.
Portal FA: Você já foi pressionada por marcas a adotar um tom mais “apelativo” nos conteúdos — tipo prometer ganhos, incentivar aposta alta, ou mascarar os riscos? Como lidou com isso?
Quando eu estava no início e as empresas não me conheciam, aconteceram alguns episódios assim, mas hoje as casas já sabem minha forma de trabalhar e o quanto eu abraço o jogo responsável, então não obtive mais propostas indesejadas como essa.
Portal FA: Tem algum conteúdo que você se arrepende de ter publicado ou que faria diferente hoje, com mais experiência no setor?
Sim! Eu não teria divulgado muitas das casas chinesas que divulguei! Fiz isso num momento de ignorância e antes da legalização, porém tudo serviu de aprendizado e hoje eu jamais faria isso novamente, pois conhecimento dos golpes que eles aplicam nos jogadores.
Em um setor onde muitos influenciadores ainda operam no improviso, Priscila Simões trata a publicidade de apostas como negócio — com regras, filtros e critérios claros.
Recusar campanhas, estudar termos, orientar o público, admitir erros: essa sequência que parece óbvia ainda é exceção no mercado.
O que Priscila expõe, direta ou indiretamente, é um vácuo de responsabilização. O que ela faz voluntariamente — exigir segurança, rejeitar contratos ruins, construir vínculo real com quem aposta — ainda não é regra. Nem lei.
Enquanto isso, o público continua à mercê da sorte. E não só nos giros.
RESPONSABILIDADE: DISCURSO E PRÁTICA
Regulamentar é só uma parte do processo. Praticar jogo responsável exige mais do que cumprir obrigações mínimas — exige consciência de impacto. E isso, segundo Priscila Simões, não pode ser terceirizado apenas às operadoras.
Ela defende que a responsabilidade é compartilhada: influenciadores, casas, governo. Todos têm um papel — e todos estão devendo.
Portal FA: Você costuma falar de jogo responsável nas suas campanhas. Mas na prática, como você enxerga esse conceito? O que ele significa para você?
Acredito que jogo responsável vai muito além do que influenciadores e casas de apostas possam fazer ou falar, é um trabalho coletivo em parceria com o governo com campanhas de conscientização e com ongs de apoio ao viciado. Eu faço um trabalho com meu público para eles entenderem isso, mas e os influenciadores que não estão nem aí para esse problema? Outro ponto para o governo intervir e fiscalizar, exigindo uma divulgação responsável de quem optou por esse mercado. Sabemos que as coisas não acontecem do dia para a noite, mas espero ansiosa para que o governo tome partido e resolva isso, afinal, os impostos (que são bem altos) estão sendo recolhidos e engordando o bolso de quem está no poder.
Portal FA: Você já pensou em criar conteúdos educativos ou preventivos — como alertas sobre vício, dicas para controle de gastos ou explicação sobre bônus e limites?
Não só pensei como já crio! No meu perfil do Instagram tem vários vídeos de conscientização ao jogo responsável. Além de todos os conteúdos das lives onde explico sobre controle emocional, gerenciamento de banca e alerta ao vício. E mais à fundo ainda, eu alerto eles todos os dias sobre os golpes que eles podem cair por escolher jogar em cassinos ilegais que não pagam jogadores e que só estão no ar por conta de influenciadores irresponsáveis que visam somente a comissão e não a segurança do seu público.
Portal FA: Já recebeu mensagens de seguidores que disseram ter perdido o controle? O que você sentiu? Isso impactou sua forma de divulgar?
Recebia muito mais antes de abraçar de vez o jogo responsável, hoje meu público está bem “treinado” e muito mais responsável. E foi justamente os relatos que recebia deles sobre o vício e as perdas desenfreadas que me fizeram estudar mais sobre tudo isso!
Portal FA: Você acredita que influenciadores têm um papel na construção de uma cultura de apostas mais saudável — ou isso seria responsabilidade só das casas?
Responsabilidade de todos: casas, influenciadores e do próprio governo!
Portal FA: Se pudesse dar um conselho para outras influenciadoras que estão começando agora nesse mercado, qual seria? E o que você gostaria que dissessem sobre sua atuação daqui a alguns anos?
Meu principal conselho é: parar de pensar apenas no próprio umbigo e começar a estudar mais sobre o mercado. Esse mundo não é mais para amadores que soltam um link de jogo nos stories, agora é hora de se profissionalizar e divulgar de maneira responsável, se você tem intenção de crescer nesse mercado. Eu sempre falo que o dinheiro é uma troca energética, se você está desempenhando um bom trabalho e priorizando seu público, ele virá de maneira limpa, caso contrário, da mesma maneira que ele veio fácil, irá embora mais fácil ainda. Pensem nisso!
Enquanto muitos ainda tratam o “jogo responsável” como uma hashtag protocolar, Priscila Simões o assume como parte prática da sua entrega. A fala sobre troca energética pode soar mística — mas no contexto da entrevista, revela um valor objetivo: o que se ganha com consciência permanece, o que se ganha com oportunismo, desaparece.
A crítica à omissão do governo e à conivência de influenciadores que vendem risco como promessa também expõe uma lacuna urgente: não basta regular o setor — é preciso regular o discurso.
E isso não se faz apenas com multa. Se faz com postura.
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