VBet herda operações da Playpix e Dupoc, mas deixa afiliados sem comissões
- Fred Azevedo

- 8 de jul.
- 4 min de leitura
Atualizado: 18 de set.
A promessa era de continuidade. O que veio foi silêncio.
Afiliados da antiga Playpix e Dupoc, casas ligadas ao empresário Ruyter Poubel, relatam que não receberam comissões acumuladas após a venda das operações para a VBet.
Alguns parceiros comerciais ficaram sem receber valores que chegam a R$ 75 mil em comissões pendentes.
O caso reacende um velho problema do mercado de apostas no Brasil: a falta de garantias contratuais para quem constrói a base de usuários dessas plataformas.

Migração sem quitação
As casas Playpix e Dupoc operavam com forte presença em afiliados e criadores de conteúdo.
Ambas foram vendidas à VBet, marca internacional que já opera no Brasil, mas a mudança de controle não veio acompanhada da quitação dos débitos antigos com parceiros comerciais.
Segundo relatos de afiliados, desde janeiro nenhum parceiro das antigas operações recebeu comissões, mesmo com a migração das operações já efetivada. A situação se agravou quando a empresa decidiu "tirar as notas fiscais" dos contratos pendentes.

Promessas quebradas e grupo silenciado
Prints obtidos pelo Portal Fred Azevedo mostram que a administração chegou a prometer pagamentos parciais aos afiliados, mas não cumpriu os prazos estabelecidos.
Um afiliado relata ter ficado sem receber R$ 75 mil de impostos da nota fiscal já emitida.
A situação se tornou ainda mais tensa quando a comunicação com os afiliados foi cortada. Segundo relatos, Ruyter Poubel "fechou o grupo de comunicação" e mudou configurações para que "somente admins pudessem enviar mensagens ao grupo", silenciando efetivamente os questionamentos dos parceiros.
Alguns afiliados foram "reaproveitados" no novo sistema da VBet, mas sem direito ao que já havia sido gerado de comissão nas operações anteriores. A justificativa é que a VBet "não responde por débitos anteriores" das marcas adquiridas.

Possíveis causas: venda sem responsabilidade por passivos
A situação sugere que a aquisição das marcas pela VBet pode ter sido estruturada sem cláusulas de sucessão para débitos com afiliados. Algumas hipóteses explicam o cenário:
Venda de ativos sem passivos: Transação pode ter envolvido apenas marcas e base de usuários, deixando débitos antigos com a estrutura anterior.
Descontinuidade jurídica: Mudança de CNPJ ou estrutura societária pode ter sido usada para "zerar" obrigações comerciais pendentes.
Mercado informalizado: Contratos de afiliação ainda carecem de regulamentação específica, criando brechas para não pagamento.
Estratégia de corte de custos: Eliminar passivos com afiliados antes da migração reduz custos operacionais da nova gestão.
Lacunas na proteção de afiliados
A regulamentação das apostas online ainda não disciplina adequadamente as obrigações contratuais com afiliados, criando zona cinzenta explorada por operadores.
A Lei 14.790/2023 trata da regulamentação das apostas de quota fixa, mas não aborda especificamente direitos de parceiros comerciais em mudanças de controle.
Código Civil protege direitos creditórios, mas afiliados precisariam comprovar vínculo contratual formal - nem sempre existente no setor.
Portarias do Ministério da Fazenda não mencionam responsabilidades com afiliados em transferências de operação, deixando lacuna regulatória.
Sem contratos escritos claros, ações judiciais dependem de provas documentais como prints de conversas e comprovantes de comissão.
O padrão que se repete no setor
O caso não é isolado. Vários afiliados relatam situações similares quando casas de apostas mudam de gestão ou enfrentam dificuldades financeiras. O modelo de negócio trata afiliados como "descartáveis" em momentos de crise ou reestruturação.
Para pequenos afiliados - os chamados "nano e microafiliados" - a situação é ainda pior. Não têm representação jurídica ou comercial para cobrar, ficando completamente dependentes da boa vontade das operadoras.
Para criadores de conteúdo que construíram audiência promovendo essas marcas, o não pagamento representa duplo prejuízo: perda financeira e dano reputacional com seguidores.
O silêncio da VBet
Procuramos a VBet Brasil para esclarecer sua posição sobre os débitos herdados das operações Playpix e Dupoc, questionando se há responsabilidade pelos passivos com afiliados e qual o cronograma para eventual quitação.
Também questionamos se existe política de migração de parceiros comerciais antigos para a nova estrutura operacional da VBet no Brasil.

Até o fechamento desta matéria, a VBet não respondeu aos questionamentos do Portal Fred Azevedo.
Quando quem constrói a base é descartado
O mercado brasileiro está regulamentando bônus, selos e pagamentos para jogadores. Mas segue cego para os intermediários que sustentam seu crescimento através de aquisição de usuários.
Afiliado não é influenciador comum — é agente comercial especializado que gera conversões reais. Ser deixado para trás em uma migração de marca não é só quebra de confiança. É modelo de negócio predatório.
O setor aposta alto no marketing, mas ignora a base que constrói sua audiência orgânica. Sem cláusulas claras de sucessão e contratos formalizados, novos calotes são só questão de tempo.
Para o mercado de afiliação, o caso VBet/Playpix/Dupoc serve de alerta: trabalhar sem garantias contratuais sólidas é apostar contra a própria sobrevivência no setor.
O crescimento das apostas online no Brasil foi construído nas costas de milhares de pequenos afiliados.
Se o mercado regulamentado não proteger esses parceiros, estará legitimando práticas predatórias que podem inviabilizar o modelo de crescimento do próprio setor.


