10 primeiros passos para parar de jogar
- Fred Azevedo
- 27 de ago.
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de set.
Apesar das iniciativas de jogo responsável exigidas por lei e dos discursos de combate à ludopatia, a realidade é que quem decide parar de jogar ainda encontra pouca proteção efetiva. As plataformas oferecem testes, alertas e links escondidos em rodapés, mas o sistema de marketing segue agressivo e os gatilhos continuam por toda parte.
Parar de jogar não é só apertar um botão ou fechar a conta em uma plataforma. É enfrentar uma rotina marcada por impulsos, ofertas constantes, influenciadores e todo um mercado bilionário que sabe explorar suas fragilidades. O jogador comum — aquele que percebeu ter perdido o controle — precisa de ferramentas práticas, não de promessas institucionais vazias.
A seguir, reunimos os dez primeiros passos para parar de jogar que podem ajudar quem decidiu parar a transformar essa decisão em ação. Não é manual milagroso. É ponto de partida.

10 primeiros passos para parar de jogar: do bloqueio de PIX e aplicativos de bloqueio à ajuda psicológica
1. Bloqueie o limite de PIX
Recair fica mais fácil quando o dinheiro circula sem barreiras. A primeira medida é simples: limitar ou bloquear transferências via PIX para empresas de apostas. Quase todos os aplicativos bancários já permitem definir tetos ou restringir categorias de envio. Menos impulsos, mais tempo para refletir.
2. Instale aplicativos de bloqueio
Existem ferramentas como Gamban ou BetBlocker, que atuam como barreira digital. Elas bloqueiam o acesso a sites e aplicativos de apostas em computadores e celulares. Não são perfeitas — nenhum bloqueio é. Mas cada camada de dificuldade faz diferença na luta contra recaídas.
3. Conte seus dias de sobriedade
Aplicativos como I Am Sober permitem registrar quantos dias você está sem jogar. Parece detalhe, mas visualizar esse progresso pode se transformar em motivação diária. Cada dia marcado é um lembrete de que a decisão está valendo.
4. Solicite autoexclusão definitiva
As casas de apostas reguladas no Brasil são obrigadas a oferecer opção de autoexclusão. Solicite — e insista, caso encontre resistência. Isso impede novos depósitos e acessos na própria conta. É uma forma de dizer “basta” diretamente no sistema.
5. Rompa com influenciadores e grupos
Seja honesto: grande parte dos impulsos para voltar ao jogo vem das redes sociais. Perfis que vendem “métodos infalíveis”, grupos que alardeiam ganhos irreais, chats que romantizam o vício. Corte tudo. Silencie notificações, saia dos grupos e limpe o feed. Sua atenção vale mais do que qualquer odd.
6. Compartilhe com alguém de confiança
Ficar em silêncio só fortalece o vício. Abrir o jogo com alguém próximo pode ser doloroso, mas é passo essencial. Explicar a situação e pedir apoio ajuda a criar um círculo de proteção. Vergonha não resolve. Apoio sim.
7. Redesenhe sua rotina
O tempo que antes era gasto em apostas precisa ser ocupado. Exercícios físicos, leitura, novos hobbies. Qualquer atividade que reduza ansiedade e dê propósito. Vício vazio se combate com preenchimento real.
8. Procure ajuda psicológica e psiquiátrica
Não se trata apenas de força de vontade. Dependência de jogos é reconhecida internacionalmente como transtorno. O acompanhamento profissional é parte indispensável do processo. Terapia cognitivo-comportamental, psiquiatria, grupos de apoio: tudo soma.
9. Bloqueie o acesso a sites
Se possível, peça ao provedor de internet o bloqueio de domínios de apostas. Medida drástica, mas eficaz. O acesso fácil é inimigo da recuperação.
10. Procure grupos de apoio sérios
O isolamento é combustível para recaídas. Buscar apoio coletivo é um dos caminhos mais eficazes.
Jogadores Anônimos: rede internacional que ajuda pessoas a lidar com a compulsão.
SOS Jogador: iniciativa voltada para acolher e orientar jogadores brasileiros em crise.
APAJ – Associação de Apoio a Jogadores: grupo nacional de suporte e conscientização, com foco no impacto social e familiar do jogo.
Não se trata apenas de trocar experiências, mas de se sentir parte de uma comunidade que entende a luta.
Um ponto final que pode ser um recomeço
Cada passo desses exige esforço. Não existe solução única, nem promessa de “cura imediata”. Mas há saída. O processo de parar de jogar passa por disciplina, apoio emocional e, muitas vezes, ajuda profissional.
Parar de jogar é, acima de tudo, um ato de cuidado consigo mesmo. Um recomeço possível, sustentado em escolhas diárias e no apoio de pessoas e grupos que entendem a luta contra a compulsão.
O convite é simples: dar o primeiro passo. Depois, mais um. Até que a vida volte a ser maior do que a roleta, as odds e as apostas.