A autoexclusão real começa no banco
- Fred Azevedo
- 2 de jun.
- 4 min de leitura
Atualizado: há 1 hora
Em meio a tantos debates sobre Jogo Responsável, ferramentas de autoexclusão e exigências regulatórias, uma verdade incômoda continua fora da pauta oficial: nenhuma política pública de proteção ao jogador viciado vai funcionar enquanto ele puder abrir o aplicativo do banco e fazer um Pix para qualquer casa de apostas — inclusive as ilegais.
A autoexclusão, como se pratica hoje, é simbólica. E o problema não está nas boas intenções. Está na falta de alcance.
Um jogador pode se autoexcluir de uma operadora específica. Pode até, em alguns sistemas, marcar múltiplas operadoras licenciadas.
Mas nada disso impede que ele, com dois toques, faça um Pix para um cassino pirata, aberto ontem, com um CNPJ de fachada.

Autoexclusão de verdade precisa ir até o Pix
É simples: ou bloqueamos o pagamento direto no canal bancário, ou continuamos vendendo placebo para a população vulnerável.
O setor já reconhece o problema. Bancos sabem exatamente quais CNPJs estão ligados a casas de apostas, intermediadores, gateways e subadquirentes.
O Banco Central sabe. Os PSPs sabem. E, no entanto, o jogador com histórico de compulsão pode recomeçar o ciclo a qualquer momento — sem barreira técnica.
Cassino novo, cadastro novo, vício antigo
Não adianta o jogador se excluir da Casa A, se ele pode entrar na Casa B, C ou D com o mesmo CPF.
E se, porventura, houver um sistema integrado nacional (que ainda não há), nada impede que ele aposte em cassinos piratas.
E pior: esses cassinos piratas são abastecidos por CNPJs registrados como "consultoria", "logística", "marketing", "serviços gerais" — como vimos na investigação da semana passada.
Não há bloqueio de API, não há blacklist bancária, não há cruzamento ativo entre comportamento compulsivo e canais de pagamento.
A engrenagem da compulsão continua aberta, só que camuflada.
O argumento da liberdade — e da responsabilidade
Alguns dirão que bloquear o Pix é autoritário.
Que fere a liberdade individual.
Mas liberdade não é deixar o viciado se autodestruir.
Liberdade é ter controle para impedir o impulso de destruir sua conta bancária em um surto de 10 minutos.
O Brasil já bloqueia compras por Pix em jogos de azar sob ordem judicial.
Por que não implementar isso como ferramenta voluntária? Por que não oferecer ao jogador o botão “Quero bloquear qualquer transação com casas de aposta ou intermediadores”?
Por que não incluir esse recurso no app do banco, junto com “alterar senha”, “cancelar cartão” e “ver limite de crédito”?
A proposta: autoexclusão no Pix via banco
O caminho é claro: os bancos e fintechs precisam criar uma camada de autoexclusão no nível de transação, com base nos seguintes elementos:
Lista de CNPJs vinculados ao setor de apostas, fornecida pela SPA, Conar, COAF ou Receita.
Identificação de intermediários de pagamento ligados a cassinos, mesmo que indiretamente.
Atualização constante das rotas de pagamento, inclusive boletos e transações via conta laranja.
Integração com histórico de autoexclusão da própria operadora ou de plataformas de assistência psicossocial.
Como seria na prática
O jogador acessa seu app bancário.
Vai até a aba “Privacidade” ou “Limites”.
Ativa uma opção: “Bloquear qualquer transação relacionada a jogos ou apostas”.
O banco passa a rejeitar automaticamente qualquer Pix para CNPJs incluídos na lista oficial.
E, claro, essa opção deveria ser irreversível por um tempo determinado, como 30 ou 90 dias — para impedir que a compulsão reverta a decisão em minutos.
Por que o banco é a única trincheira segura
Porque o banco é a última fronteira entre a crise e o controle. Quando o jogador já está dentro da plataforma, é tarde demais. A emoção já tomou conta.
O sistema da casa está pronto para reter. O algoritmo sabe como convencer. O cassino já venceu.
Mas o banco ainda pode dizer não.
É ali que mora a única chance de “autoexclusão real” — aquela que bloqueia o gesto antes que ele aconteça.
O que dizem os números — e a realidade do mercado pirata
Como vimos no levantamento do Y. Faber, mais de 7.000 CNPJs foram abertos nos últimos meses apenas para operar casas piratas usando nomes falsos e classificações genéricas.
Eles usam Pix, boletos, cartões pré-pagos e toda sorte de artifício para driblar a regulamentação.
Esses CNPJs não aparecem em listas públicas. Não têm identificação clara como apostas. Mas fazem parte da engrenagem.
Quem pode rastrear? O banco. Quem pode bloquear? O banco.
E se o sistema bancário não quiser?
Alguns bancos podem alegar que não têm obrigação legal de restringir o Pix voluntariamente.
Mas esse argumento perde força quando lembramos que vários bancos já oferecem bloqueio de categoria para cartão de crédito. Também já existem fintechs que impedem o uso de crédito para jogos e apostas.
O sistema, tecnicamente, está pronto. Falta decisão institucional.
O que falta é o Banco Central encampar o debate. Falta a Secretaria de Prêmios e Apostas ( SPA) dialogar com Febraban, COAF e fintechs.
O risco de não agir
Se nada for feito, o que teremos é um cenário de autoexclusão inócua, jogo responsável simbólico e jogadores vulneráveis ao próprio impulso — enquanto os golpistas seguem abrindo empresa atrás de empresa, com Pix liberado e impunidade garantida.
Conclusão: ou bloqueia o Pix, ou continua a farsa
Autoexclusão sem controle de pagamento é uma ilusão.
O Brasil precisa enfrentar essa realidade com coragem: o vício não se combate com botão no rodapé do site. Combate-se no app do banco.
A proposta está feita. O argumento está posto. Agora é com os reguladores.
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