A selfie que desmoraliza a CPI das Apostas
- Michelle Nunes
- 13 de mai.
- 3 min de leitura
Atualizado: há 1 dia
A cena fala por si: em plena audiência pública da CPI das Apostas, enquanto se investigam os danos causados pela promoção desenfreada de jogos online por celebridades da internet, o senador Cleitinho Azevedo abandona qualquer senso de responsabilidade e protagoniza um ato constrangedor.
Interrompe a sessão para tirar uma selfie com a depoente — ninguém menos que Virgínia Fonseca, influenciadora investigada por promover cassinos online aos seus milhões de seguidores, inclusive crianças.
Essa não é apenas uma quebra de decoro.
É um tapa na cara da sociedade brasileira, especialmente das famílias atingidas pelas consequências do vício em jogos estimulados pelas redes sociais, assim como é um tapa na cara dos sérios profissionais de iGaming que buscam jogar o jogo de forma responsável, como deve ser.
Quando o influenciador vira intocável
Virgínia Fonseca não foi à CPI prestar contas como cidadã. Ela foi recebida como celebridade.
O tratamento dispensado a ela contrasta brutalmente com a dureza adotada contra pequenos apostadores ou influenciadores de menor expressão, que vêm sendo tratados como bodes expiatórios em CPIs estaduais e operações midiáticas.
Nenhuma convocação até agora foi feita aos verdadeiros responsáveis pelas plataformas que ignoram sistematicamente a idade dos usuários em nome de conversões.

A farra da influência, o silêncio da regulação
O que está em jogo é muito maior que uma selfie.
O Brasil legalizou os jogos online com a Lei 14.790/2023, mas deixou lacunas grotescas sobre publicidade e responsabilidade civil de influenciadores.
A Portaria SPA/MF nº 615 até tenta disciplinar a propaganda, mas não há mecanismos eficazes de fiscalização.
Alguns influenciadores preferem tratar suas campanhas como simples entretenimento, sem assumir o peso da responsabilidade que o alcance digital carrega.”
Quase ninguém assume, publicamente, que o marketing mal feito pode contribuir para a compulsão e o descontrole — sobretudo entre os mais vulneráveis.
Cleitinho não é exceção. Ele é o sintoma.
É fácil tratar o ato do senador como um deslize isolado. Não é. Cleitinho é apenas o sintoma mais escancarado de uma classe política que se curva ao capital da influência.
E mais: que ignora o sofrimento de quem perdeu tudo nesse mercado voraz, enquanto protege — ou bajula — quem potencialmente lucra com a desgraça alheia.
Essa mesma CPI que sorri para a Virgínia, se recusa a ouvir vítimas e até agora não apresentou nenhum plano concreto para proteger menores ou combater a lavagem de dinheiro através dos jogos para de fato fortalecer quem atua com responsabilidade no mercado legal.
O Brasil precisa decidir de que lado está na CPI das Apostas
O que vimos nesta terça-feira não é só falta de decoro.
É um sinal grave da falta de prioridade institucional sobre um tema que já afeta milhões de brasileiros.
E se não houver reação institucional à altura, a CPI das Apostas ficará para a história como mais um espetáculo vazio — criado para mostrar força, mas usado apenas para marketing político e fotinho com celebridade.
Não é apenas uma influenciadora que está sob os holofotes.
É toda uma engrenagem — formada por plataformas, campanhas publicitárias e decisões regulatórias — que precisa evoluir com responsabilidade, priorizando a proteção de públicos vulneráveis e a longevidade de um mercado sustentável.
A pergunta que fica é: até quando o Brasil vai normalizar esse teatro de horrores?
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