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O caso Ênio e a ilusão do combate à manipulação

  • Foto do escritor: Fred Azevedo
    Fred Azevedo
  • 13 de mai.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 14 de mai.

Denunciado duas vezes em menos de dois meses, Ênio, do Juventude, virou símbolo de um problema real — e de um sistema que ainda trata a manipulação como falha pontual, e não como crise estrutural.


No último sábado, durante a goleada do Fortaleza por 5 a 0 sobre o Juventude, o atacante Ênio recebeu um cartão amarelo aos 39 minutos do primeiro tempo.


Até aí, nada demais — em campo, a entrada por trás em Sasha parecia parte do jogo.

Mas fora das quatro linhas, a história era outra.


Casas de apostas identificaram, já na véspera da partida, um volume anormal de apostas exatamente sobre isso: Ênio levaria cartão. Algumas plataformas bloquearam o mercado antes do jogo.


Outras deixaram rodar. O alerta foi emitido de novo.


O caso Ênio e a ilusão do combate à manipulação
O caso Ênio e a ilusão do combate à manipulação

A reincidência


Essa não foi a primeira vez. Na primeira rodada do Brasileirão, Ênio já havia sido alvo do mesmo tipo de alerta.


Na ocasião, o relatório da Ibia (Associação Internacional de Integridade nas Apostas Esportivas) citou 111 usuários e R$ 56,7 mil em apostas suspeitas no cartão do jogador.


O Juventude afastou Ênio na rodada seguinte. Mas poucos dias depois, ele foi reintegrado.


Nenhuma punição formal. Nenhuma nota pública.


Apenas o movimento clássico do futebol brasileiro: afasta, nega, reintegra.


Os sinais estavam lá


As contas que apostaram no cartão da primeira rodada são as mesmas que apostaram agora.


A movimentação é específica, reincidente, concentrada.


O que mais precisa acontecer para o sistema reagir com seriedade?


O discurso da integridade é bonito. Mas enquanto não houver estrutura para investigação real, sanção efetiva e responsabilização sistêmica, a manipulação seguirá existindo — com cara de acidente.


Ênio é culpado? Não sabemos. Mas o sistema é.


Esse artigo não tem como função julgar o jogador. Ele nega envolvimento. E deve ser ouvido, respeitado e tratado com presunção de inocência.


Mas o que precisa ser dito — com todas as letras — é que o sistema que envolve o futebol, as bets e os órgãos de fiscalização está falhando.


Porque quando um jogador aparece duas vezes, com os mesmos indícios, e nada acontece além de uma nota protocolar do clube, não é ele quem está se beneficiando da impunidade. É o sistema.


Quem investiga? Quem pune?


A SPA? Não tem estrutura pra isso.

A CBF? Até hoje, não criou um setor técnico independente de integridade.

O Ministério Público? Atua quando recebe denúncia — e, em geral, com base no que a imprensa apura antes.


A Anibal, que supostamente faz monitoramento de partidas em parceria com operadoras, só consegue emitir alertas — não abrir inquérito, não coletar provas, não acionar os responsáveis.


Ou seja: temos rastros. Mas não temos ferramentas.


E o que acontece com o apostador?


Aqui entra outro ponto importante.


Nos casos de manipulação, o jogador é investigado. O apostador é travado. Mas a plataforma sai ilesa. Mesmo quando os sistemas internos das casas identificam a fraude, não há política clara de reversão das apostas ou compensação a quem foi lesado.


A aposta é encerrada. Quem lucrou (suspeito ou não) leva. Quem perdeu, perdeu.


Não existe transparência sobre como essas apostas são tratadas internamente.


O modelo está invertido


Hoje, a integridade é responsabilidade do operador. Mas o operador não tem obrigação de agir, nem de reportar publicamente. A casa bloqueia o mercado se quiser. Reverte se quiser, logo, denuncia se quiser.


Não há fiscalização externa, nem controle institucional.


O modelo de autorregulação, no Brasil, virou autojustificação.


O sistema pune o fraco e protege o forte


Basta olhar os últimos escândalos:

  • Jogadores foram suspensos, alguns afastados, poucos punidos.

  • Nenhum dirigente. Nenhum operador. Nenhuma casa de aposta.

  • Nenhum sistema alterado.


A única mudança real foi o reforço das cláusulas nos Termos de Uso das bets, tornando ainda mais fácil travar, reter e limitar o jogador comum.


E se fosse sério?


Se o combate à manipulação fosse sério, teríamos:

  • Um órgão nacional de integridade esportiva independente, com poder para investigar;

  • Parceria institucional com Receita, Coaf, Polícia Federal e CBF;

  • Regras claras sobre o que é considerado manipulação, e como será tratada;

  • Proteção ao denunciante;

  • Transparência nos alertas emitidos.


Mas hoje, nada disso existe.



Possível desenrolar do caso Ênio


O jogador será, de novo, julgado pela opinião pública. Nas redes, vai virar meme. Para o clube, será "avaliado internamente". Para as autoridades? Talvez, se der tempo, o inquérito avance.


Mas o que ninguém vai discutir é como essas apostas foram possíveis de novo, com as mesmas contas, mesmo alerta, mesmo mercado.


Considerações finais


A manipulação no futebol brasileiro não é mais exceção. É sintoma.


É sintoma de um sistema que finge controlar, mas só reage quando estoura. Que finge proteger o jogo, mas se omite quando a engrenagem dá lucro demais.


O caso Ênio expõe a fragilidade do combate à fraude e a hipocrisia de um modelo que pune quando quer, protege quem pode, e ignora o resto.


O jogador pode ou não ser culpado. Mas o sistema — esse já é cúmplice pela omissão.


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© 2025 por Frederico de Azevedo Aranha

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