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Bets ilegais sequestram sites do governo

  • Foto do escritor: Fred Azevedo
    Fred Azevedo
  • 30 de jun.
  • 7 min de leitura

Atualizado: 11 de jul.

Imagina você tentando acessar o site da Prefeitura da sua cidade para pagar IPTU e cair numa propaganda da KF Bet oferecendo bônus de cassino.


Ou entrar no portal da Secretaria de Educação do Espírito Santo e encontrar a 813Bet funcionando como se fosse serviço público.


Não é ficção. É o que está acontecendo agora mesmo em dezenas de sites governamentais pelo Brasil. Casas de apostas ilegais estão literalmente sequestrando domínios .gov.br para promover jogos e cassinos online, transformando portais oficiais em outdoors de apostas.


O mais grave: a maioria dos órgãos públicos nem sabe que virou garoto propaganda de bet ilegal.


Sites oficiais viram cassino sem avisar


A lista de vítimas impressiona e cresce a cada dia. Portal da Prefeitura de Itaboraí (RJ), Universidade Federal de Pernambuco, Centro de Vigilância Sanitária, Prefeitura de Araxá (MG), Conecta Recife, Prefeitura de Imperatriz (MA) — todos com o mesmo problema: quando você acessa, aparece propaganda de casa de apostas.


golpe
Exemplo de bet ilegal utilizando domínios governamentais

Não é banner. Não é pop-up. É como se o site oficial fosse da bet. URL do governo, mas conteúdo de cassino. Domínio .gov.br redirecionando para plataformas de jogo que nem licença brasileira têm.


Na prática, você digita prefeitura.gov.br e cai numa KF Bet da vida oferecendo "bônus imperdíveis" e "Fortune Tiger garantido". Como se a Prefeitura tivesse virado dealer de cassino.


Quando a incompetência vira oportunidade


O que permite que isso aconteça não é genialidade dos hackers — é a negligência sistemática do poder público com segurança digital.


A receita do desastre é sempre a mesma: órgão público cria site para evento ou campanha, terceiriza para empresa de fundo de quintal, usa senha padrão, não faz backup, não monitora, não atualiza. Quando o evento acaba, simplesmente esquecem que o site existe.


Sobra um domínio órfão com credencial .gov.br flutuando na internet. É como deixar cofre aberto na rua com placa "é do governo". Quem encontrar, pode usar.


A ironia é que o próprio descaso cria a oportunidade perfeita para criminosos. Eles não precisam ser gênios da informática — basta serem mais organizados que a administração pública brasileira. E isso, convenhamos, não é lá muito difícil.


Quando site oficial vira cassino, não é porque os hackers são bons. É porque quem deveria proteger o patrimônio digital público simplesmente não liga. Problema é comportamental, não tecnológico.


O submundo das bets ilegais no .gov.br


As casas que aparecem nesses ataques não são aleatórias. KF Bet, 813Bet, 8800Bet, Zeus Gaming e infinitas outras— todas operando sem licença brasileira, sem regulamentação, sem nada. São exatamente as que mais precisam de marketing barato e credibilidade emprestada.


golpe
Exemplo II

Usar domínio .gov.br é genial do ponto de vista criminoso: ganha credibilidade instantânea, dribla bloqueios de ISP (quem vai bloquear site do governo?), e ainda por cima é grátis.


É como se o Estado brasileiro virasse sócio involuntário do crime organizado das apostas.


A ironia é brutal: enquanto o governo federal cria regras cada vez mais rígidas para bets legais, os sites oficiais acabam promovendo gratuitamente as ilegais.


Ministério da Fazenda cobrando R$ 30 milhões de outorga enquanto a Prefeitura de Imperatriz faz marketing grátis para bet pirata.


Possíveis causas: a tempestade perfeita da incompetência digital


Por que isso acontece tanto no Brasil? Simples: a infraestrutura digital do setor público é um queijo suíço furado.


Falta de investimento é óbvia. Repartição pública gasta milhões com obra superfaturada, mas economiza na segurança digital. Servidor ganha salário de estagiário, TI terceirizada para o primo que "mexe com computador", backup é pen drive na gaveta.


Descentralização sem coordenação vira terra de ninguém. Cada prefeitura, cada secretaria, cada órgão cuida do próprio site como bem entende. Não tem padrão, não tem fiscalização, não tem quem cobre resultado.


Rotatividade política destrói qualquer continuidade. Prefeito novo, equipe nova, fornecedor novo. O que o anterior fez? Ninguém sabe. Senha do site? Perdeu junto com o ex-secretário que foi exonerado.


Terceirização descontrolada espalha o problema. Prefeitura contrata empresa A, que subcontrata empresa B, que terceiriza para freelancer C. Quando dá problema, todo mundo aponta para o outro.


Capacitação zero em segurança digital. Funcionário público aprende a usar Word 97 e acham que está pronto para gerenciar infraestrutura web. É como dar chave de F-16 para quem tem carteira de moto.


E quando o Estado vira cúmplice involuntário?


A situação é grave juridicamente. Órgãos públicos estão promovendo atividade ilegal sem saber. Quando site oficial redireciona para casa de apostas não licenciada, o Estado vira garoto propaganda do crime.


Lei 14.790/2023 determina que só casas licenciadas podem operar no Brasil. Quando .gov.br promove bet ilegal, há violação direta da regulamentação. Mesmo sendo involuntário, há responsabilidade administrativa.


Marco Civil da Internet estabelece que responsáveis por sites respondem pelo conteúdo quando têm conhecimento e não removem. Órgão público que descobre invasão e não resolve vira cúmplice.


Lei de Improbidade Administrativa pode enquadrar gestores que negligenciam segurança digital. Permitir que patrimônio público (domínio .gov.br) seja usado para crime é ato de improbidade.


Código Penal tipifica facilitação de jogos ilegais. Administrador público que mantém site comprometido pode responder por favorecimento real.


Bets ilegais sequestram sites do governo
Bets ilegais sequestram sites do governo

A anatomia de um Estado hackeável


Para entender por que isso vira rotina, é preciso mergulhar na realidade digital do setor público brasileiro — que é deprimente.


Cada prefeitura, cada secretaria, cada órgão toca sua infraestrutura digital como bem entende. Não tem padrão, não tem fiscalização, não tem quem saiba o que está acontecendo. É terra de ninguém com credencial oficial.


O resultado é arquitetura digital anarquista: servidor na nuvem mais barata, WordPress desatualizado desde 2019, senha que é o nome da cidade, backup que é pendrive na gaveta do estagiário.


E quando questionados sobre segurança, a resposta é sempre "mas nunca deu problema".


Até dar.


A mentalidade analógica encara site como "folder digital" — fez, publicou, esqueceu. Não entendem que domínio .gov.br é patrimônio público permanente que precisa de manutenção, segurança e monitoramento constante.


Quando site vira cassino, a reação é sempre de surpresa genuína. Como se internet fosse lugar seguro por natureza, e invasão fosse azar do destino.


A cultura do "não foi comigo"


Quando esses casos viralizaram nas redes sociais, a reação foi sempre a mesma: silêncio absoluto seguido de remoção às pressas do conteúdo comprometido.


print do X
Relato no X de pessoa que notou o padrão de bet ilegal operante dentro de um servidor institucional

Nenhuma explicação, nenhuma investigação pública, nenhuma responsabilização.

É o Brasil que conhecemos: problema descoberto, problema varrido para baixo do tapete. Como se tirar o site do ar fosse resolver a falha de segurança que permitiu a invasão em primeiro lugar.


O padrão se repete em todos os casos: descobrem que viraram outdoor de bet ilegal, mandam o "sobrinho que mexe com computador" resolver, e fingem que nunca aconteceu. Zero transparência, zero accountability, zero aprendizado.


A indústria das bets ilegais e o marketing parasita


Enquanto casas legais gastam milhões em patrocínios e marketing, as ilegais encontraram o filão perfeito: sequestrar credibilidade do Estado brasileiro de graça.


É marketing parasita na veia: usar a confiança que pessoas têm em instituições públicas para promover atividade criminosa. Dona Maria clica no site da Prefeitura e pode achar que o governo está recomendando a KF Bet.


O retorno do investimento é brutal para os criminosos. Gastar algumas centenas de reais com hacker para sequestrar domínio .gov.br rende exposição que custaria milhões em publicidade tradicional. É crime que compensa.


Lavagem de reputação também funciona: bet ilegal que aparece em site oficial ganha verniz de legitimidade. Usuário desavisado acha que se está no .gov.br, deve ser confiável.


O efeito cascata da incompetência digital


O problema vai muito além de apostas. Se hackers conseguem sequestrar sites governamentais para promover bets, o que mais conseguem fazer?


Phishing governamental pode capturar dados de cidadãos que confiam na origem oficial. CPF, RG, senhas — tudo pode ser coletado através de sites .gov.br comprometidos.


Desinformação oficial vira arma política poderosa. Sequestrar site da Secretaria de Saúde para espalhar fake news sobre vacinas, por exemplo.


Fraudes previdenciárias podem usar sites oficiais comprometidos para capturar dados de aposentados e pensionistas.


Golpes eleitorais viram realidade: imagina site do TSE promovendo candidato específico porque foi hackeado?


Exemplo III
Exemplo III

A credibilidade institucional do Estado brasileiro está sendo corroída a cada site sequestrado. Se nem .gov.br é seguro, em que mais confiar?


Possíveis soluções: da utopia à realidade


Resolver o problema exige mais do que boa vontade — exige revolução na cultura digital do setor público.


Centralização da infraestrutura é urgente. Em vez de cada órgão cuidar do próprio site, criar infraestrutura nacional padronizada, com segurança uniforme e monitoramento constante.


Certificação obrigatória para responsáveis por TI no setor público. Não pode ser "primo que mexe com computador" — tem que ser profissional capacitado, com atualização constante.


Auditoria contínua de todos os domínios .gov.br, com varredura automatizada de vulnerabilidades e monitoramento de mudanças suspeitas.


Responsabilização efetiva de gestores que negligenciam segurança digital. Lei de Improbidade tem que valer para quem transforma site público em cassino ilegal.


Investimento real em segurança digital, não economia besta que sai caro depois. R$ 1 milhão em prevenção custa menos que R$ 100 milhões em crise institucional.



Considerações finais


A situação é constrangedora e perigosa. O mesmo governo que cobra R$ 30 milhões de outorga para bet operar legalmente está, ainda que involuntariamente, oferecendo marketing gratuito para as ilegais através de sites oficiais comprometidos.


É como se o Banco Central promovesse pirâmides financeiras, ou o Ministério da Saúde anunciasse remédio sem registro. A credibilidade institucional está sendo leiloada de graça para criminosos espertos.


Mais grave: cada site .gov.br comprometido é prova da incompetência digital do Estado brasileiro. Se não conseguimos proteger nossos próprios domínios, como vamos proteger dados de 200 milhões de brasileiros?


A questão não é mais se outros sites governamentais serão sequestrados — é quando e quantos. Enquanto a segurança digital do setor público for piada, hackers continuarão transformando o Estado brasileiro no maior afiliado involuntário das bets ilegais.


O pior de tudo: quando o jogador cair no golpe de uma bet ilegal que ela conheceu através do site de uma Prefeitura, por exemplo, quem ele vai culpar? O hacker que ninguém vê, ou o governo que ela votou e que não consegue nem proteger o próprio site?


No final das contas, quem paga o pato da incompetência digital do Estado é sempre o cidadão comum.


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© 2025 por Frederico de Azevedo Aranha

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