Como a Opta se tornou juíza silenciosa do destino de milhares de apostadores
- Fred Azevedo

- 26 de jun.
- 5 min de leitura
Atualizado: 24 de set.
A indústria global de apostas esportivas se apoia sobre uma estrutura invisível que, para a maioria dos jogadores, passa despercebida: os fornecedores de dados.
São eles que dizem quantos chutes ao gol aconteceram, quem deu a assistência, se houve ou não uma falta, um escanteio, um drible. Entre esses fornecedores, a Opta, hoje parte do conglomerado Stats Perform, reina soberana. Mas e quando o juiz dos números erra? Quem contesta? Quem responde? Quem repara?
Nos últimos dias, o Portal Fred Azevedo recebeu denúncias recorrentes e documentadas de jogadores brasileiros que afirmam terem sido prejudicados por decisões controversas da Opta, que contrariaram registros oficiais de entidades como a FIFA e a própria UEFA.
Os relatos envolvem erros de contabilização em estatísticas críticas para o mercado de apostas, como assistências e faltas, afetando diretamente o resultado de milhares de bilhetes — e gerando prejuízos que já somam dezenas de milhares de reais em apenas um grupo de apostadores.
Este dossiê reúne relatos, prints, análises comparativas e uma tese central: a Opta atua hoje como uma entidade com poder desproporcional sobre o dinheiro dos jogadores, sem mecanismos claros de revisão, contestação ou responsabilização.
Quando a estatística vira sentença
O primeiro caso que chamou atenção foi o do meia Vitinha, do PSG. No jogo em questão, o próprio site da FIFA creditou a ele uma assistência, informação posteriormente refletida em plataformas oficiais de cobertura (print 1).
Já a Opta — cujos dados alimentam gigantes como Bet365, SofaScore, Flashscore e centenas de casas — ignorou a assistência, anulando apostas de milhares de usuários que dependiam exatamente desse evento para validar seus bilhetes.


Esse não foi um erro isolado. Outro lance — dessa vez envolvendo o jogador Gianluca Prestianni — também foi contabilizado de maneira conflitante: enquanto plataformas como o app da FIFA indicavam que a assistência havia sido dele, a Opta atribuiu o passe ao jogador errado, invalidando apostas que previam ao menos uma assistência de Prestianni na partida entre Benfica e Bayern.


Em ambos os casos, os dados divergentes não eram meras opiniões.
Tratava-se de fatos já registrados por entidades com autoridade reconhecida no futebol global — e ainda assim, a versão da Opta prevaleceu no mercado de apostas.
A ponta do iceberg e a Opta
Não demorou para que outros relatos emergissem.
Um jogador questiona: "Quando a Opta erra, como a gente entra em contato com eles?". Outro informa: "O site da Europa League registrou um chute ao gol de Romero, mas a Opta marcou como finalização apenas, sem chute certo.".
Mais um print, mais uma aposta invalidada por uma estatística contestada.

Em um dos casos mais representativos, um grupo de apostadores estimou um prejuízo coletivo de aproximadamente R$ 50 mil por conta de uma estatística incorretamente registrada (ou não reconhecida) pela Opta.

A frustração se acumula: "A própria FIFA reconhece e a Opta não". "Eles estão passando dos limites." "Não tem a quem recorrer."
Quem fiscaliza os fiscais?
A Opta opera como única fonte contratual de dados para boa parte das casas de aposta, principalmente as internacionais. É a partir dela que se definem estatísticas que influenciam diretamente mercados como:
Chutes ao gol
Assistências
Faltas cometidas
Passes certos
Dribles completos
Finalizações bloqueadas
Ou seja: os critérios da Opta viram critérios objetivos no sistema da casa.
O problema é que esses critérios nem sempre são públicos, auditáveis ou passíveis de contestação. E mais grave: mesmo quando plataformas como FIFA, UEFA ou DAZN apontam outra versão, não há processo transparente para retificação ou revisão retroativa.
Erros ou modelo de negócios?
A grande pergunta não é apenas "a Opta erra?", mas "o sistema está desenhado para favorecer a revisão ou para blindar os erros?".
O silêncio institucional da Opta diante de múltiplos relatos — alguns com prints de evidência técnica — alimenta a percepção de que não há accountability.
Não existe canal direto, número público, SAC, e-mail funcional nem plataforma de contestação aberta ao público.
E as casas de aposta, por sua vez, se isentam da responsabilidade ao afirmar que os dados são fornecidos por terceiros" — mesmo quando o terceiro erra de forma flagrante.

Impacto direto sobre jogadores
A consequência prática desses erros é a anulação de milhares de bilhetes.
Em apostas de eventos estatísticos — como assistências, escanteios, faltas e chutes ao gol — a casa considera unicamente o que está no sistema alimentado pela Opta. Mesmo quando a imprensa, a FIFA ou a transmissão televisiva registra diferente, prevalece o número da Opta.
Esses prejuízos, muitas vezes silenciosos e pulverizados, têm escala. Em um único dia, uma estatística mal registrada pode provocar milhões de reais em perdas para apostadores no Brasil, considerando a adesão em massa a mercados de estatísticas específicas.
O contraponto que não vem
Não há canal oficial de suporte ao consumidor final no site da empresa. Também não foram localizadas notas de esclarecimento, retratações públicas ou mecanismos de revisão estatística.
Por outro lado, a responsabilidade legal pode ser contestada. A regulamentação brasileira para apostas (Lei nº 14.790/2023) e a Nota Técnica SPA/MF nº 229/2025 exigem transparência, rastreabilidade e precisão nos dados utilizados pelas operadoras.
Isso pode abrir margem para questionamentos formais sobre a dependência cega de fornecedores únicos sem auditoria pública.
Reflexão final: estatística não é verdade sem contexto
O caso exposto aqui é mais do que uma sequência de apostas perdidas. Ele aponta para um sistema opaco, centralizado e inquestionável, onde uma única empresa decide o que vale ou não vale — e ninguém pode revisar.
Quem regula os reguladores? Quem fiscaliza os que produzem as "verdades objetivas" que movem bilhões por dia? Quantos bilhetes mais precisarão ser anulados para que o mercado questione a dependência absoluta de um único provedor?
A Opta precisa se manifestar. E as casas de aposta, se quiserem continuar operando com legitimidade, precisam oferecer transparência, contestabilidade e múltiplas fontes de validação para qualquer estatística que movimente dinheiro real.
Porque se a estatística é lei, então é hora de exigir justiça estatística.
*Essa matéria será atualizada em caso de resposta oficial da Opta.
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