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Cassinos licenciados no Brasil e o desafio de enfrentar os piratas

  • Foto do escritor: Fred Azevedo
    Fred Azevedo
  • 19 de ago.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 12 de set.


No nosso último artigo dissemos, sem rodeios: "Cassinos piratas estão vencendo — e os licenciados fingem que não veem". A constatação segue de pé. Quem olha o mercado de slots e o alcance dos operadores ilegais percebe a força de uma indústria que constrói narrativas, comunidades e até símbolos culturais.


Mas essa não é a história inteira. Porque, ao contrário do que parece, há competição sim. Só que ela acontece em campos diferentes, com regras distintas, pesos desiguais.


De um lado, o cassino pirata que promete o que quiser, sem auditoria, sem CONAR, sem Receita Federal no cangote. Do outro, o operador licenciado preso a cada vírgula da Lei 14.790/2023, a portarias sobre bônus, pagamentos, certificações, fiscalização.


Não é que o legal não queira competir. Ele quer. Só que a disputa deixa de ser um jogo de mercado e vira um duelo de narrativas em que a régua nunca é a mesma.


E aqui começa a provocação desta segunda parte: se a briga é injusta por definição, como — e até onde — é possível competir?


Ilustração de cassinos licenciados competindo com cassinos piratas em campo desigual.
Imagem ilustrativa da disputa entre cassinos legais e piratas.

O peso de jogar com regra


Cassinos licenciados no Brasil não escolhem o terreno em que atuam. Estão submetidos à Lei 14.790/2023 e a um emaranhado de portarias que tratam de pagamentos, fiscalização e até da forma como os bônus podem ser oferecidos.


  • Portaria 615/2024: define os requisitos para pagamentos e saques, travando inclusive os prazos de liquidação.


  • Portaria 1.225/2024: detalha a fiscalização e os relatórios que devem ser enviados regularmente.


  • Nota Técnica 229/2025: enquadra bônus e distingue o que pode ou não ser concedido, além de determinar o reflexo tributário de cada prática.


Na prática, isso significa que cada push, cada bônus, cada copy publicitária precisa caber dentro de um labirinto regulatório. O time de marketing de uma casa licenciada não trabalha com a folha em branco, mas com dezenas de restrições que moldam desde a primeira linha do texto até a mecânica da promoção.


Já o pirata, não. Ele promete o que quiser, como quiser. Não responde à SPA, à Receita, nem ao CONAR. Pode anunciar carro de luxo, multiplicar RTPs inventados, criar bônus inalcançáveis — sem auditoria, sem processo, sem sanção. É exatamente aí que nasce a assimetria: enquanto um lado joga sob holofotes, o outro se beneficia da escuridão.


A diferença na publicidade


Um exemplo concreto ajuda a mostrar a assimetria. Recentemente, circulou o push com a chamada: “Ganhe seu Porsche agora!”.


O caso foi registrado em post de Amilton Noble, diretor executivo da Hebara S/A, que trouxe a reflexão em seu perfil no LinkedIn.


“Se o mesmo anúncio fosse feito por um influencer para um operador de apostas de quota fixa viraria escândalo. Matéria em todos os sites dizendo que a indústria faz falsas promessas iriam se proliferar.” – Amilton Noble

E ele tem razão. Se uma casa licenciada de apostas enviasse exatamente esse push, com a promessa explícita de um Porsche, o resultado seria linchamento digital: manchetes denunciando “falsas promessas”, críticas em massa da imprensa e acusações de manipulação da publicidade.


Mas como não veio de um cassino, o tom muda. O detalhe é que o gatilho mental é idêntico: vender o sonho imediato de riqueza. A diferença está apenas no setor — não no impacto sobre o consumidor.


Essa tolerância seletiva expõe a assimetria regulatória: de um lado, cassinos e bets sufocados por regras que monitoram cada linha de copy; de outro, produtos financeiros com “licença publicitária” para usar a mesma linguagem aspiracional, sem escândalo.



Onde os cassinos licenciados no Brasil ainda falham


O fato de jogar com regra não inocenta o mercado regulado de suas falhas. Pelo contrário: em alguns pontos, os operadores licenciados parecem ter se acomodado atrás do discurso de compliance — como se isso, por si só, fosse suficiente para conquistar o jogador. Não é.


  • CRM engessado, ainda preso em fluxos genéricos, incapazes de criar vínculos de longo prazo ou personalização real.


  • Publicidade excessivamente institucional, que fala para reguladores e investidores, mas não para o jogador que está do outro lado da tela.


  • Comunidade inexistente, porque qualquer tentativa mais ousada é vista, de imediato, como “indução ao jogo” e corre risco de sanção.


  • Práticas indevidas, como bloqueios de saque mal justificados, cancelamento arbitrário de promoções e falhas de transparência que corroem a confiança do próprio público que deveria ser protegido pelo ambiente regulado.


Essa paralisia estratégica é real. Reconhecê-la não é se entregar. É admitir que o setor regulado, mesmo com todas as vantagens de operar dentro da lei, ainda não aprendeu a se comunicar de forma efetiva com o consumidor — e, em alguns casos, ainda repete erros que lembram práticas questionáveis dos piratas.


Admitir isso é o primeiro passo para corrigir a rota.



Onde está a competição, de fato?


A disputa não é apenas sobre odds, RTPs ou bônus. No fundo, trata-se de emoção versus confiança.


O pirata vende adrenalina sem filtro. Um playground sem limites, onde tudo parece possível.


O licenciado precisa vender confiança com experiência. Mostrar que é possível se divertir sem abrir mão da segurança — financeira, legal e social.


E esse embate não é exclusivo das apostas. O mesmo já aconteceu em outros setores.


O Spotify venceu o MP3 pirata não porque a lei endureceu, mas porque tornou o acesso mais fácil e conveniente. A Netflix derrotou o torrent não pelo peso da repressão, mas porque entregou catálogo e experiência que faziam sentido para o usuário.


Mas há um detalhe incômodo: hoje, a própria Netflix vive turbulências justamente por adotar práticas que o público percebe como restritivas — como o bloqueio do compartilhamento de contas. Ou seja, mesmo quem venceu a pirataria pode voltar a perder espaço se esquece o que o consumidor valoriza.


No jogo, a lógica é parecida: quem conseguir unir usabilidade + narrativa + segurança tem chance de virar o tabuleiro. Mas isso exige tempo, consistência e investimento. Não é com uma campanha isolada ou uma promoção mal desenhada que se constrói essa ponte.


O papel da regulação no campo de jogo


A SPA/MF tem feito sua parte: portarias de fiscalização, regras para pagamentos, exigências técnicas que buscam dar segurança ao mercado. Tudo válido, tudo necessário.


Mas nenhuma dessas medidas enfrenta a assimetria da publicidade. E é aí que mora o desequilíbrio.


Se o CONAR sufoca o cassino legal em cada linha de copy, mas tolera títulos de capitalização prometendo Porsche em push de celular, o que temos é uma licença publicitária desigual.


E nesse ambiente, quem paga a conta é sempre o mesmo: o jogador comum. Ele fica no meio do fogo cruzado — de um lado a promessa sem filtro, do outro a regra que engessa. Quem ganha espaço? O pirata, claro.


O campo (des)nivelado da concorrência


Reguladores defendem que regras duras protegem o consumidor. Empresários respondem que estão sendo sufocados, enquanto outros setores — inclusive financeiros — usam gatilhos semelhantes sem serem incomodados.


Ambos têm razão parcial. O problema é de consistência regulatória: não se pode exigir responsabilidade absoluta de um setor e fechar os olhos para outro.

O debate, portanto, não é se os licenciados conseguem competir. Eles conseguem — mas só se o campo for nivelado.


Enquanto o push de um banco pode vender um Porsche como promessa instantânea e um cassino legal precisa escrever dez disclaimers para falar em bônus, a narrativa continuará distorcida.


No fim, a pergunta é simples: queremos proteger o jogador ou apenas escolher quem pode usar os gatilhos mais fortes?


Se a resposta for a segunda, não estamos falando de jogo responsável. Estamos falando de jogo de cena.


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© 2025 por Frederico de Azevedo Aranha

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