Ex-funcionário expõe bastidores da Viva Sorte Bet: “Brinquedo de milionário, não empresa séria”
- Fred Azevedo

- 14 de jun.
- 4 min de leitura
Atualizado: 3 de out.
Denúncia interna revela publicidade abusiva, atrasos salariais e uso da equipe como fachada para venda da operação. Jogadores também foram alvo de práticas ilegais.

Novas informações obtidas pelo Portal Fred Azevedo expõem com mais clareza o que pode estar por trás da crise enfrentada pela Viva Sorte Bet, plataforma brasileira de apostas ligada ao nome do empresário Renato Ambrósio.
Uma denúncia enviada por fonte interna, sob anonimato e com solicitação de sigilo total, revela condutas que ferem não apenas a legislação trabalhista, mas também as regras de proteção ao consumidor previstas na Lei nº 14.790/2023.
“A Viva Sorte Bet nunca foi uma empresa de apostas de verdade. Foi o brinquedo de um milionário que enjoou.”
O empresário por trás da marca
Renato Ambrósio é conhecido do público por suas aparições regulares na televisão, especialmente em quadros assistenciais exibidos aos sábados na Band, onde atua como apresentador e doador de prêmios em campanhas de cunho social. Também é fundador do grupo Viva Sorte, vinculado a produtos de capitalização.
Nos bastidores, porém, relatos de ex-funcionários descrevem um perfil completamente diferente: centralizador, impulsivo e despreparado para liderar uma operação no setor regulado de apostas. Segundo a denúncia recebida, todas as decisões passavam diretamente por Renato e seu sócio, Paulo Aguiar, sem participação técnica das equipes contratadas para estruturar a operação.
Marketing abusivo: quando o alvo vira o jogador
Um dos pontos mais graves da denúncia se refere ao modelo de publicidade adotado pela Viva Sorte Bet desde sua fundação. De acordo com o relato, a empresa ignorava alertas da equipe sobre a ilegalidade de certos gatilhos de marketing, incluindo:
apelos emocionais diretos ao jogador (“merece ganhar”, “mude sua vida”),
pressões por tempo limitado ou “última chance”,
promessas implícitas de retorno financeiro.
Essas práticas violam diretamente o artigo 17 da Lei nº 14.790/2023, que proíbe associar apostas a sucesso pessoal, enriquecimento ou sorte na vida.
Também desrespeitam as normas do CONAR, que vedam anúncios que:
explorem a credulidade do público;
induzam comportamentos impulsivos;
usem linguagem que estimule gastos descontrolados.
“O objetivo era forçar o jogador a depositar. Não havia preocupação com integridade, só com retorno imediato.”
Equipe demitida, RH inexistente, e operação mantida como vitrine
O relato também descreve que, após o desligamento de toda a equipe de coordenação e do CEO da operação, a empresa teria mantido parte dos funcionários por mais 30 dias sem pagamento nem formalização de desligamento, apenas para não “manchar a imagem” durante uma possível venda da operação a outro grupo.
As denúncias incluem:
Atraso salarial;
Ausência de comunicação formal sobre demissões;
Carteiras digitais não atualizadas;
RH desligado sem substituição;
Funcionários retidos informalmente para cumprir funções comerciais.
Essas práticas violam diretamente a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)
Art. 477: rescisões devem ser pagas até 10 dias após a demissão;
Art. 483: autoriza o trabalhador a considerar o contrato rompido em caso de descumprimento de obrigações legais por parte do empregador;
Art. 9º: toda tentativa de simular uma relação de trabalho ou burlar obrigações legais é considerada nula.
Defesa possível: o que a empresa pode alegar
Apesar do silêncio institucional da Viva Sorte Bet até o momento, é importante considerar linhas de defesa plausíveis em casos semelhantes no setor.
Entre elas:
Transição societária em curso: a empresa pode alegar que está em processo de reestruturação, o que explica a ausência de respostas imediatas e a manutenção temporária da equipe;
Problemas operacionais inesperados: dificuldades técnicas ou contratuais com fornecedores de pagamento, que resultaram em atrasos;
Revisão de compliance: a empresa pode declarar que está revendo suas práticas internas para se adequar integralmente à Lei nº 14.790/2023.
Essas justificativas, no entanto, não eximem a empresa de responsabilidade legal, sobretudo se confirmadas as irregularidades trabalhistas e publicitárias relatadas.
Jogadores da Viva Sorte Bet devem se preocupar?
O relato recebido vai além de um alerta trabalhista.
Ele levanta sérios questionamentos sobre a confiabilidade da Viva Sorte Bet enquanto operação voltada ao público consumidor. Em um setor regulamentado, a empresa que não respeita sua equipe tende, cedo ou tarde, a falhar também com seus usuários.
“Se ele demite por e-mail e atrasa salários, o que impede de fazer o mesmo com o dinheiro do jogador?”
Em um mercado que movimenta bilhões e afeta diretamente o comportamento emocional e financeiro das pessoas, ética, transparência e responsabilidade não são opcionais — são exigências legais.
Nota do Editor:
O Portal Fred Azevedo permanece à disposição da Viva Sorte Bet e de seus representantes para publicação de manifestação oficial. Nenhuma resposta foi recebida até o fechamento desta reportagem.
Esta matéria se baseia em denúncia enviada por um ex-funcionário da Viva Sorte Bet, sob condição de anonimato e com solicitação de sigilo. A identidade da fonte foi preservada por motivos de segurança pessoal e jurídica, conforme previsto na diretriz editorial do portal, que admite relatos anônimos quando acompanhados de provas, consistência ou confirmação cruzada.


