O futuro ameaçado do iGaming no Brasil: impostos sufocam, piratas avançam
- Fred Azevedo
- 22 de jul.
- 4 min de leitura
Enquanto o discurso oficial celebra a regulamentação do setor de apostas como um avanço civilizatório, o mercado real começa a dar sinais de fadiga.
Os operadores licenciados — ou em processo de licenciamento — enfrentam uma equação perversa: impostos altos, obrigações pesadas, competição desleal e margens corroídas. E o resultado já pode ser sentido.
Nos bastidores, uma palavra começa a circular com frequência incômoda: quebradeira.

HanzBet é só o começo
No dia 19 de julho, a página principal da HanzBet publicou um comunicado que escancarou a crise: segundo a nota oficial, a operação será descontinuada em 21 de julho de 2025, com prazo estendido para saques até o dia 31. Após essa data, de acordo com a empresa, eventuais saldos remanescentes serão transferidos automaticamente para as contas bancárias cadastradas pelos usuários.
Até agora, a EA Entretenimento e Esportes Ltda. — empresa detentora do domínio institucional da plataforma — não se manifestou publicamente sobre o encerramento da marca. Mas a dimensão do colapso vai além de uma disputa societária ou de gestão.
A verdade é incômoda: mesmo marcas com base ativa de jogadores, tráfego robusto e campanhas em andamento estão desabando sob o peso da estrutura regulatória brasileira. O custo para se manter dentro das regras já não se sustenta — e a insegurança jurídica só acelera o desmonte.
Efeitos colaterais da regulação sem controle
A Lei nº 14.790/2023, que institui o regime de autorização para apostas de quota fixa no Brasil, veio acompanhada de portarias rigorosas:
A Portaria nº 1.207/2024 estabeleceu padrões técnicos duros para os jogos, incluindo a proibição de ciclos indefinidos e mecanismos como RTVA — o que afeta diretamente vários fornecedores populares de slots.
A Portaria nº 615/2024 impôs novas exigências sobre os fluxos de pagamento — criando obstáculos para casas que operavam com gateways alternativos ou carteiras estrangeiras.
A Nota Técnica nº 229/2025 cravou a tributação dos bônus, até mesmo os não sacáveis, como parte da base de cálculo do GGR. Na prática, operadores passam a ser tributados por recompensas promocionais que o jogador sequer pode converter em dinheiro.
Esse conjunto normativo é tecnicamente defensável. Mas economicamente, para muitas casas, tornou-se inviável.
Piratas agradecem
Enquanto os operadores sérios tentam se adequar às exigências da Lei nº 14.790/2023 e das portarias complementares, milhares de sites não licenciados seguem operando normalmente — hospedados em domínios .com, promovidos por influenciadores de alcance nacional e anunciando livremente em redes sociais, Telegram e Meta Ads.
A fiscalização prevista na Portaria nº 827/2024 ainda engatinha. Não há bloqueios sistemáticos de IP, nem ações coordenadas para responsabilizar plataformas digitais que divulgam ou hospedam sites ilegais.
Futuro do iGaming no Brasil? Hoje, quem cumpre a lei joga com desvantagem. E quem ignora tudo, continua ganhando.
A equação da falência
Vamos às contas: o GGR tributável (receita bruta menos prêmios pagos) já começa com 12% de Taxa de Regulação, 15% de IRPJ, 9% de CSLL, além de possíveis ISS locais e tributos sobre bônus. Some-se a isso os custos de certificação, auditoria, sistemas antifraude, suporte e aquisição de tráfego.
A margem líquida cai para menos de 10% — em alguns casos, para 3% ou 4%.
Agora considere um operador médio, com R$ 1 milhão de GGR mensal. Com essa margem, ele lucra R$ 30 mil a R$ 40 mil. E compete com uma casa pirata que opera com estrutura off-shore, paga 0% de impostos e investe tudo em afiliados e bônus agressivos.
Qual modelo vai prosperar?
Reflexos visíveis: demissões e retração
Além da crise aberta na HanzBet, que resultou no desligamento dos fundadores e na suspensão de pagamentos a afiliados e fornecedores, outro caso recente acendeu o alerta.
A VBET promoveu uma demissão em massa no Brasil, com corte quase total da equipe de conteúdo, marketing e atendimento local. Os dois episódios, embora distintos em origem, têm um denominador comum: a conta não fecha mais.
Nos bastidores, circulam rumores de outras casas em situação delicada. Algumas já iniciaram processos de fusão operacional — com unificação de marca, corte de times internos e abandono de estratégias locais — como forma de ganhar fôlego.
Ninguém diz oficialmente que vai fechar. Mas o mercado sente: a retração já começou.
O Ministério não dá conta — e a pirataria agradece
O Ministério da Fazenda até publicou portarias, criou o SIGAP e montou um cronograma de credenciamento. Mas na prática, a Secretaria de Prêmios e Apostas ainda conta com um quadro limitado de servidores, sem estrutura técnica nem autonomia operacional para lidar com o volume de operadores ilegais que atuam no Brasil.
E o alerta já foi feito: a própria Anatel declarou que não possui os recursos necessários — nem técnicos, nem humanos — para executar o bloqueio sistemático de sites piratas, mesmo após notificação formal do Ministério da Fazenda.
Ou seja: o Estado brasileiro criou uma estrutura de regulação que cobra como Europa, exige como Reino Unido — mas fiscaliza como se fosse neutra.
Quem cumpre regra, perde.
Quem ignora tudo, cresce.
O futuro do iGaming está sendo ignorado
O Brasil criou uma armadilha sofisticada.
Exige capital mínimo, segurança cibernética, jogo responsável, certificação, taxação sobre bônus não sacáveis, auditoria de RTP, limitação de sessões — e ainda promete punir quem não cumprir. Mas permite que milhares de plataformas piratas sigam operando à luz do dia, captando apostadores no mesmo Instagram, no mesmo YouTube, com os mesmos influenciadores.
O discurso é de civilização. A prática é de sobrevivência tribal.
No esforço nobre de “proteger o consumidor”, o Estado pode acabar fazendo o oposto: expulsar do mercado quem tenta operar legalmente — e empurrar o jogador de volta para o porão das bets .com. Onde não há regra. Onde não há limite. Onde não há ninguém para ouvir.
Se nada mudar — e rápido — não será uma tragédia inesperada. Será uma tragédia fabricada por omissão.
E o jogador, mais uma vez, vai pagar por uma conta que nunca foi dele.
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