Gigantes das apostas no prejuízo mostram que faturar não é lucrar
- Fred Azevedo
- há 3 dias
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Atualizado: há 2 dias
DraftKings, Flutter e Entain perderam mais de US$ 3 bilhões entre 2023 e 2024. As gigantes das apostas no prejuízo deixam um alerta: faturar alto não significa lucrar — especialmente no Brasil.

As manchetes falam em bilhões. Os balanços, em perdas. Mesmo com receitas colossais, as gigantes globais das apostas seguem afundando financeiramente. E o dado desconfortável já não pode mais ser ignorado: nem quem lidera o setor está conseguindo lucrar.
Um levantamento publicado pelo BNLData revela que DraftKings, Flutter e Entain, somadas, registraram mais de US$ 3 bilhões em prejuízos líquidos nos últimos dois anos. Tudo isso, paradoxalmente, com crescimento constante de receita. O setor cresce, mas sangra.
A pergunta inevitável: se nem os gigantes conseguem, quem vai conseguir?
Quando crescer vira um problema
A DraftKings faturou US$ 4,77 bilhões em 2024. Resultado? Um prejuízo de US$ 1,31 bilhão no biênio. A Flutter, com US$ 12,5 bilhões em receita, fechou o mesmo período com perdas de US$ 746 milhões. A Entain, que opera marcas como Bwin e BetMGM — mergulhou em um rombo ainda maior: £1,39 bilhão.
Esses números não são exceção. São regra. E refletem o custo real de manter uma operação legal, competitiva e escalável em um ambiente regulado.
Nem a força da mídia segura
Não faltou marca. Não faltou exposição. Mas faltou lucro.
A Penn Entertainment perdeu US$ 550 milhões no Barstool Sportsbook e acabou vendendo a operação por simbólicos US$ 1. A ESPN Bet foi lançada como tentativa de redenção. Outras, como FOX Bet, Fubo Sportsbook, MaximBet e até a americana PointsBet, não resistiram.
O mercado americano é o mais avançado do mundo. Mas nem lá, com capital e mídia, o modelo se sustenta.
CAC: o custo de um mercado viciado em bônus
Boa parte do rombo vem do custo de aquisição por cliente (CAC). Em mercados como os EUA, o valor ultrapassa US$ 500 por usuário ativo. Bônus de boas-vindas, apostas grátis, cashback e marketing pesado. O jogador é atraído — mas não garante retorno. A fidelização é forçada via rollover. E o lucro evapora.
As margens brutas giram entre 7% e 10%. Baixas. E ainda comprimidas por impostos, tecnologia, licenciamento e compliance.
A cada novo estado nos EUA, uma nova licença, nova exigência, novo custo. A fragmentação regulatória esmaga a eficiência. E isso vale como alerta para o Brasil.
O Brasil está olhando para o lado certo?
Enquanto isso, por aqui, o debate gira em torno da arrecadação. Outorga, ISS, CIDE, imposto seletivo. Tudo entra na conta. Mas ninguém discute a viabilidade econômica real do setor.
Se as gigantes das apostas no prejuízo — casos como DraftKings, Flutter e Entain — não conseguem lucrar em mercados maduros, por que o modelo brasileiro daria certo sendo mais caro, mais burocrático e mais incerto?
Receita não é lucro. E o risco é nosso
Apostar no crescimento do setor sem entender seus fundamentos é repetir um erro já cometido em outros países. O Brasil precisa decidir: vai regular para arrecadar a qualquer custo ou vai construir um mercado que funcione?
Porque se nem os gigantes resistem ao próprio modelo, o que esperar do pequeno operador local? Do investidor nacional? E do jogador comum, que banca tudo isso?