top of page

Ludopatia: auxílios-doença sobem 2.300%, mas só 0,0073% dos apostadores buscaram o SUS

  • Foto do escritor: Fred Azevedo
    Fred Azevedo
  • há 1 dia
  • 4 min de leitura

“Epidemia”, “tragédia social”, “explosão”. A pauta da ludopatia voltou às capas. O dado-gancho é real: entre junho/2023 e abril/2025, o INSS concedeu 276 auxílios-doença por jogo patológico — salto de 2.300% sobre uma base historicamente baixíssima. Mas manchete não é método: sem proporção, recorte e base legal, vira ruído.


Imagem ilustrativa de homem jovem em frente ao computador, preocupado, representando ludopatia.
Imagem ilustrativa de homem jovem em frente ao computador, preocupado, representando ludopatia.

O que os números mostram — e o que escondem


Auxílio-doença: o salto sobre base mínima


O Intercept levantou 276 concessões no período citado (média anual entre 2015–2022 era de 11). São Paulo (95) e Minas (39) lideram. Perfil: 73% homens, 18–39 anos e emprego formal no pedido. Fatos importantes — e minoritários em escala nacional.


SUS: da dezena à casa do milhar


Atendimentos por transtornos do jogo no SUS saíram de 65 (2019) para 1.292 (2024); em jan–abr/2025, foram 271. O próprio recorte oficial mostra concentração episódica por estados (picos em RO, RR e SE) e trajetória que precisa de contexto de base — e não de hipérbole.


A proporção que quase ninguém cita


A SPA/MF reportou 17,7 milhões de brasileiros que apostaram no 1º semestre de 2025. Em paralelo, fala-se em “1,3 mil atendimentos” no SUS. Resultado: 0,0073% dos apostadores recorreram ao sistema público por jogo problemático no período considerado.


O número é pequeno? Sim. É irrelevante? Não. Mas não autoriza manchetes de colapso.


Como a grande imprensa está enquadrando — e por que precisamos corrigir o foco


Há boa reportagem investigativa (ex.: perfis, decisões judiciais, falhas de rede de proteção). Mas a soma de percentuais sem denominador vira “epidemia” por retórica. O Correio Braziliense traz casos e efeitos reais, porém mistura prevalência, fluxo de atendimento e regulação sem o devido recorte estatístico. O nosso papel é repor escala e apontar soluções.


O que dizem as melhores métricas internacionais


No Reino Unido, a Gambling Commission atualizou metodologia (GSGB/2023) e estimou 2,5% de “problem gambling” (PGSI 8+) entre adultos — número não comparável às séries antigas (0,3%), por método distinto. Ou seja, como você mede muda o que você enxerga. Lições: clareza metodológica e transparência antes do slogan.



Linha do tempo brasileira: mercado, saúde e previdência


  • Popularização das bets (2023–2025), patrocínios e publicidade elevam a visibilidade do tema — e a procura por assistência.

  • SUS passa a registrar centenas de atendimentos/ano por jogo patológico. Picos regionais pesam nos totais.

  • INSS começa a conceder mais auxílios, ainda que em números absolutos baixos.

  • SPA/MF consolida balanço: 17,7 milhões de apostadores no semestre, R$ 17,4 bi de receita bruta — capacidade fiscal para financiar políticas de mitigação.


Deveres do Estado e das operadoras


  • Lei 14.790/2023: formaliza a modalidade on-line, fixa destinações legais (inclui percentual para Ministério da Saúde voltado à prevenção/mitigação de danos).

  • Portaria SPA/MF 1.231/2024 (Jogo Responsável): impõe deveres de prevenção, publicidade responsável, ferramentas de autocontrole e direitos do apostador. Agora, é medir cumprimento e sanção efetiva.


Contraponto necessário (checado nas fontes)


  • O Intercept aponta morosidade na destinação de recursos de saúde e lacunas de coordenação entre pastas. É um alerta legítimo: sem execução orçamentária e linha de cuidado em saúde mental, estatística não vira política pública.

  • O Correio enfatiza casuística (famílias, dívidas, tentativas de saque frustradas, autolesão). São elementos sociais e clínicos que exigem protocolos e referência terapêutica — mas não substituem análise de prevalência.


O que fazer já (agenda concreta e mensurável)


Métrica pública com denominador


Dashboard mensal (SUS/INSS/SPA): atendimentos, internações, auxílios, taxa por 100 mil apostadores e por 100 mil habitantes. Transparência de método, recorte por UF e série histórica. (Modelo UK GSGB.)


Execução dos 1% para saúde mental (Lei 14.790)


Publicar plano anual com metas: tempo de espera em CAPS AD, número de grupos terapêuticos abertos, capilaridade por região e treinamento de peritos do INSS e equipes do SUS.


Compliance verificável nas operadoras (Portaria 1.231)


Autoexclusão nacional unificada, limites de depósito/perda default (opt-down), fricção em crédito instantâneo (cool-off) e banimento de bônus reativadores para perfis de risco. Auditoria independente e relatório público.


Fiscalização + educação financeira


Integração SPA/Anatel/BC/Senacon para derrubar clones e cassinos piratas (já são mais de 15 mil páginas bloqueadas desde 2024) e campanhas de literacia financeira focadas em microcrédito + microapostas.



Por que “diversionismo” entra no debate


Há quem use a ludopatia para explicar todo o endividamento. É conveniente: desloca a conversa de juros altos, crédito caro e pirataria para o bode expiatório das bets. Esse diversionismo turva a política pública: dramatiza a exceção, ignora o denominador e não entrega solução.


Nosso editorial defende duas verdades simultâneas:

  1. Há dano real e casos graves que exigem cuidado clínico, respeito trabalhista e perícia qualificada;

  2. Não há epidemia nos números agregados — e políticas baseadas em evidência são melhores que manchetes.


Perguntas incômodas que ficam


  • Cadê o plano do Ministério da Saúde com os 1%? Quanto virou leito, CAPS, equipe e grupo?

  • Operadoras: quem já implementou autoexclusão nacional e limite default? Onde está o relatório de eficácia exigido pela Portaria?

  • INSS: quais protocolos para diferenciar depressão/ansiedade primárias de quadros secundários à ludopatia e evitar tanto indeferir quem precisa quanto indeferir por rótulo?


Conclusão — combate a ludopatia com o pé no chão


Os 276 auxílios e os 1,2 mil atendimentos/ano no SUS importam — para quem sofre, é 100%. Mas, para política pública, é com denominador e execução que se governa. O Brasil tem escala fiscal, base legal e portarias para fazer direito. Falta campo: dado público, fiscalização real, cuidado clínico e menos espetáculo.


Notas de apuração (principais referências)



A gente só consegue manter esse trabalho com a ajuda da Geralbet. Se você tem mais de 18 anos, gosta de cassino e sabe jogar com responsabilidade, cria uma conta lá e dá essa força para mantermos o patrocínio. Clique aqui para se cadastrar e jogar na Geralbet. Valeu pelo apoio e lembre-se: se precisar de ajuda, venha para o SOS Jogador!



Atenção

Jogue com moderação e dentro de suas possibilidades. O jogo é uma forma de lazer, não uma solução financeira.

© 2025 por Frederico de Azevedo Aranha

Me encontre nas redes sociais:

  • Telegram
  • LinkedIn
  • Instagram
  • X
  • Youtube

Proibido para menores de 18 anos

Se o jogo estiver impactando sua vida, busque ajuda com organizações como SOS Jogador.

bottom of page