Deu R$200, tirou R$200, pediu desculpa com piada: Sportingbet enfrenta revolta por falha em campanha de freebet
- Fred Azevedo

- 28 de jun.
- 4 min de leitura
Atualizado: 15 de set.
Uma suposta promoção disparada pela Sportingbet virou viral — e depois virou frustração. A casa cancelou apostas, atribuiu o erro ao estagiário e ofereceu R$10 de compensação. A cláusula do contrato permite? Talvez. Mas a confiança, essa não volta com emoji.
Entre a noite de 27 e a manhã de 28 de junho, usuários de apostas relataram o surgimento de uma promoção incomum na Sportingbet: ao realizar uma aposta simples, de valor irrisório — R$1 ou R$10 —, o sistema liberava automaticamente R$200 em freebet.
A campanha não tinha visibilidade no site, mas funcionava para contas novas e antigas. O que parecia uma ação promocional restrita acabou sendo acessível a milhares de usuários — e se espalhou como fogo em grupo de WhatsApp.
Prints obtidos pelo portal mostram instruções detalhadas circulando entre jogadores, com comandos como “aposte ao vivo em odd 1.80 exata”, “espere liquidar” e “ganha 200 na hora”. Diversos usuários afirmam ter utilizado o saldo, realizado apostas de valor alto — e, depois, tido as apostas canceladas sem qualquer aviso.

A versão oficial: erro operacional e cláusula de proteção contratual
Horas depois do ocorrido, a Sportingbet publicou uma nota de desculpas com tom informal, afirmando:
“Alguns clientes reportaram instab
ilidades em relação a uma promoção na noite passada. O culpado? Nosso estagiário, que ficou tão ansioso com o jogo do Palmeiras que esbarrou no botão errado.”
A mensagem conclui prometendo que “todos que foram impactados receberão um e-mail com novas informações em breve”.
Além da peça visual, uma resposta textual foi publicada pela equipe de atendimento da empresa. Nela, a marca explicou que a promoção foi enviada de forma equivocada, o que resultou em “crédito indevido” de freebet nas contas afetadas — e que, por isso, foi necessário realizar o cancelamento.
A empresa também citou os Termos da promoção, especialmente o item 8:
“A Ventmear Brasil SA reserva o direito de cancelar ou anular esta promoção, assim como modificar seus termos a qualquer momento, sem a necessidade de justificativa ou aviso prévio.”
Como forma de compensação, os jogadores afetados receberam R$10 em freebet.

Como funcionava e por que viralizou
A ação promocional, mesmo se equivocada, funcionava com precisão técnica:
Aposta simples de R$1 ou R$10;
Odd exata de 1.80 (na verdade, podia ser qualquer odd acima de 1.80 que já funcionava);
Liquidação ao vivo;
Resultado: liberação automática de R$200 em freebet sem rollover.
A falta de restrições visíveis e a rapidez da resposta do sistema sugerem que a campanha estava previamente programada, mas possivelmente mal segmentada — ou ativada antes da hora.
Com isso, dezenas de milhares de jogadores utilizaram os R$200 como previsto. Alguns multiplicaram o valor. Outros, sequer viram a aposta ser processada: o crédito sumiu. A casa começou a cancelar as apostas e também limitar contas de quem usou a promoção. Quem sacou teve sorte, quem não conseguiu sacar, possivelmente prejuízo.
Depois de tudo, para quem ainda tinha o bônus no saldo, a casa transformou R$ 200 em R$ 10. Será legal? E quem teve a apostas cancelada? E quem ganhou a aposta com os R$ 200?
Base legal: cláusula permite tudo? Não exatamente.
A Lei nº 14.790/2023, que regulamenta as apostas de quota fixa, impõe limites à atuação das operadoras — inclusive em casos promocionais. O artigo 27 garante ao apostador os direitos previstos no Código de Defesa do Consumidor. Isso inclui:
proibição de publicidade enganosa (art. 37, CDC);
vedação a cláusulas que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada (art. 51, IV, CDC);
direito à informação clara e precisa sobre regras e condições (art. 6º, III, CDC).
Além disso, a Nota Técnica SPA/MF nº 229/2025, que trata especificamente dos bônus, afirma que:
“A concessão de bônus deve estar condicionada a critérios objetivos e previamente estabelecidos. Sua revogação só se justifica em casos de erro técnico claro, comunicados ao usuário com transparência.”
Portanto, embora a cláusula contratual permita alterações sem aviso prévio, o uso prático dessa cláusula — quando já houve liberação e uso do bônus — pode ser questionado judicialmente.
O que diz a Sportingbet sobre o bug da Freebet
A marca se manifestou publicamente com duas peças:
A nota de desculpas informal, com tom leve e justificativa operacional;
A mensagem técnica, citando termos e justificando o cancelamento como necessário diante do erro interno.
Ambas reconhecem a falha, mas não detalham:
Quantos jogadores foram impactados;
Por que algumas apostas foram mantidas e outras anuladas;
Como será feita a comunicação futura além da compensação simbólica.
O portal entrou em contato com a assessoria de imprensa da Sportingbet e, até o momento do fechamento desta matéria, não obteve resposta.
Quando a cláusula vale mais que a palavra
Se o bônus foi liberado, usado, e a aposta validada — o que justifica anular tudo depois?
Chamar o erro de “bug” e compensar com R$10 soa mais como contenção de danos do que respeito ao usuário. Jogadores que seguiram as regras — mesmo que não intencionadas pela casa — foram punidos por confiar no sistema.
Se o setor quer ser levado a sério sob a nova regulamentação, precisa parar de tratar seus próprios erros como se fossem truques do jogador.
Porque, desta vez, o golpe não foi do apostador.
Nota editorial
Esta reportagem segue o compromisso do portal com a defesa do jogador comum — aquele que aposta dentro das regras e espera, no mínimo, transparência e respeito.
A promoção da Sportingbet foi acionada, usada e depois apagada sob amparo de uma cláusula unilateral. Se há margem contratual para isso, falta senso de responsabilidade diante da confiança depositada.
Erro técnico não pode ser justificativa para revogar apostas já aceitas. Nem o emoji de um estagiário ansioso apaga o fato: a falha foi da casa. E quem pagou foi o jogador.
Seguimos cobrando explicações e convidamos a Sportingbet a se posicionar publicamente. Porque confiança não se reconquista com R$10 — e nem com piada.


