Bets: a vilã escolhida por um governo populista que não consegue governar
- Fred Azevedo

- há 3 dias
- 7 min de leitura
Toda crise precisa de um vilão.
No Brasil de 2025, o escolhido atende pelo nome de “bets” — o setor que, até ontem, era símbolo de inovação, geração de empregos e arrecadação. Agora, virou o inimigo oficial de um governo que precisa de alguém para culpar pela própria incapacidade de governar.
Enquanto os bancos lucram com juros de 400% ao ano, o endividamento das famílias bate recorde histórico e a máquina pública consome mais do que entrega, o discurso oficial se volta contra as plataformas de apostas.
É mais fácil vender moralismo tributário do que admitir falência fiscal.
O governo tenta transformar a caça às bets em ato de responsabilidade, quando, na prática, é apenas mais uma jogada para comprar tempo político e tapar o buraco de um orçamento irrealista, que segundo economistas, pode colapsar já em 2027.

O novo alvo do governo: a mordida invisível que já consome 35% do GGR
Antes de falar em aumento, é preciso entender o ponto de partida.
A narrativa oficial costuma repetir que o setor de apostas paga “apenas 12%” sobre a receita bruta. Mas quem já analisou a estrutura fiscal de uma operadora licenciada sabe que esse número é ilusório.
Na prática, o percentual real não é 12% — é mais que o triplo. Como mostramos em nosso artigo "BiS Brasília expõe o “Bet do Leão”: quanto realmente se paga — o peso oculto dos impostos nas apostas online" o peso total de impostos e contribuições chega a cerca de 35% sobre o GGR (Gross Gaming Revenue), o valor que sobra entre o total apostado e o total pago em prêmios.
Isso ocorre porque a alíquota de 12% incide apenas sobre uma das camadas da operação.
Depois dela, vêm o PIS e a COFINS, a Contribuição Social sobre o Lucro (CSLL), o Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ), o ISS municipal, além dos repasses obrigatórios a ministérios e fundos públicos, que incluem desde o esporte até o turismo.
Somando tudo, o que sobra para a empresa — e, por extensão, para reinvestir em tecnologia, atendimento e marketing — mal cobre os custos de operação.
E esse cenário existe antes da aprovação do novo PL 5.076/2025, que propõe dobrar a alíquota base de 12% para 24%. Com o aumento, a carga efetiva total pode ultrapassar 50% do GGR, dependendo da cidade e do regime fiscal aplicado.
Isso colocaria o Brasil entre os países com maior custo tributário sobre apostas do mundo, superando mercados maduros como Reino Unido (21%), Espanha (25%) e Malta (20%) — todos com estruturas de fiscalização mais simples e regras estáveis.
O resultado é um paradoxo: enquanto o governo promete combater a informalidade, ele próprio cria um ambiente que a incentiva.
Operadoras pequenas, que poderiam se formalizar, acabam empurradas para o submundo das apostas ilegais, onde não há fiscalização, não há tributação — e tampouco proteção ao jogador.
No fim, o Estado arrecada menos, o mercado formal encolhe e o discurso moralista sobre “corrigir distorções” vira apenas mais uma roleta política.
Populismo disfarçado de moralidade
Quando o caixa seca, surge a moralidade fiscal.
A LDO de 2026 confirma o que já estava no radar dos economistas: o governo ficará sem dinheiro em 2027. As despesas obrigatórias explodiram, as emendas parlamentares consomem boa parte do orçamento, e os precatórios — que somam R$ 50 bilhões — voltam a entrar na conta.
A projeção de crescimento de 2,5% do PIB usada pela equipe de Haddad é considerada irrealista. Mas o discurso precisa continuar otimista — afinal, admitir a crise não é bom para a popularidade.
Então, cria-se uma distração conveniente: a narrativa de que as apostas são o novo problema moral do Brasil.
O populismo precisa de espetáculo, e o governo encontrou um palco perfeito: um mercado jovem, digital, popular e lucrativo — tudo o que um Estado endividado odeia, mas inveja.
A ingerência crescente: o Estado que terceiriza culpa e pune o cidadão comum
Quando o Estado não consegue controlar um setor, ele muda a regra — ou muda o culpado.
E é exatamente isso que o governo tem feito com as apostas: transferir responsabilidades, criar proibições simbólicas e vender como “proteção social” o que, na prática, é ingerência política.
Nos últimos meses, a estratégia ficou clara em duas frentes complementares.
De um lado, o PLP 182/2025, que tenta responsabilizar bancos, fintechs, anunciantes e afiliados por eventuais transações com operadoras não licenciadas.
De outro, o bloqueio automático dos CPFs de beneficiários do Bolsa Família e do BPC, que impede milhões de brasileiros de apostar — mesmo quando usam renda própria.
O primeiro caso mostra um Estado que terceiriza a culpa de sua ineficiência.
Sem estrutura real de fiscalização, o governo empurra a tarefa para o sistema financeiro e para o mercado publicitário, transformando terceiros em fiscais involuntários e punindo até quem age de boa-fé.
Tudo isso enquanto o país arrecada quase R$ 50 milhões em taxas de fiscalização apenas no primeiro semestre de 2025.
O segundo caso escancara o paternalismo travestido de proteção.
Em vez de impedir apenas o uso do dinheiro do benefício, o governo bloqueia o cidadão por completo — criando uma categoria de brasileiros de segunda classe, proibidos de participar do mercado regulado.
São trabalhadores de baixa renda, informais, que recebem o benefício, mas também ganham por fora — e agora estão barrados de decidir o que fazer com o próprio dinheiro.
É a síntese da nova ingerência: o Estado não regula — ele patrulha.
E quando falha na fiscalização que prometeu, transforma o cidadão comum em suspeito e o setor privado em cúmplice.
Enquanto isso, os cassinos piratas continuam crescendo impunes, sem bloqueios, sem auditoria e sem qualquer controle efetivo.
CaixaBet e a contradição estatal
Em meio à cruzada moral contra as bets privadas, o mesmo governo prepara o lançamento da CaixaBet, sua própria plataforma de apostas.
O Estado, que se diz preocupado com o “vício”, decide abrir o próprio cassino.
Com a diferença de que, dessa vez, o dealer é público e o lucro vai direto para o Tesouro.
A contradição é gritante:
O mesmo discurso que demoniza o setor privado como “perigoso”
agora serve para justificar uma operação estatal no mesmo mercado.
O governo não quer combater as apostas — quer controlar o fluxo do dinheiro delas.
E como todo monopólio travestido de moral, o projeto carrega a velha lógica de “faça o que eu digo, não o que eu jogo”.
Enquanto cria barreiras para concorrentes, a Caixa entra em campo com vantagens estruturais que nenhuma operadora privada possui: integração direta com sistemas bancários, acesso a uma base massiva de clientes e o poder de marca de uma instituição estatal.
Teoricamente, a CaixaBet deverá seguir as mesmas regras e restrições aplicadas às demais operadoras do mercado. Mas, na prática, parte de sua força competitiva virá daquilo que o setor privado jamais poderá replicar — a credibilidade de uma estatal com respaldo político e institucional.
É um campo de jogo desequilibrado, onde o governo atua como regulador, concorrente e juiz ao mesmo tempo.
A moral desaparece não porque a casa é do governo — mas porque o governo também quer ser a casa.
Bancos cancelam apostadores, mas vendem raspadinhas disfarçadas de poupança
Se o governo joga com impostos, os bancos jogam com hipocrisia.
De um lado, encerram contas de apostadores sob o argumento genérico de “desinteresse comercial”. Do outro, vendem títulos de capitalização com cara de sorteio, mascote e promessa de “ganhe até R$ 30 mil por R$ 10”.
O nome técnico é “título de capitalização”. O visual, porém, é de raspadinha digital com CNPJ. Push notifications anunciam o retorno da “raspadinha da sorte”, com emojis e urgência artificial.
Só depois do clique o cliente descobre que assinou um contrato financeiro com carência e rendimento zero.
Nos bastidores, o mesmo sistema financeiro que cancela o jogador comum por movimentar recursos de cassinos online monetiza a estética do jogo em seus próprios aplicativos.
A lógica é simples: o cliente pode jogar — desde que o jogo seja deles.
E se o cliente movimenta pouco, é risco. Se movimenta demais, é suspeito. Os bancos decidiram que o jogador vale quando gera engajamento, não quando ganha.
Enquanto isso, usuários relatam bloqueios e encerramentos em série por movimentar valores oriundos de plataformas licenciadas. A “lavagem” virou pretexto; o compliance, ferramenta de exclusão automatizada.
É o mesmo dinheiro, mas com pesos diferentes:
Se vem de aposta, é vício.
Se vem de capitalização, é educação financeira.
O cassino estatal pode, o cassino bancário também.Só o jogador independente é tratado como problema.
A falácia do inimigo conveniente
Toda vez que o governo perde o controle, escolhe um culpado de vitrine.
Antes foram as fintechs e os aplicativos; agora são as bets.
O padrão é o mesmo: aumentar imposto, criar pânico moral e disfarçar a incompetência administrativa.
Enquanto as autoridades discursam sobre “proteger o povo”, os bancos continuam cobrando juros abusivos, as famílias se endividam e o Estado gasta mais com política do que com políticas públicas.
O trabalhador que aposta R$10 é demonizado; o banco que o cobra R$400 em juros é celebrado como “motor da economia”.
Não há coerência — há conveniência.
Bets como vilão e o cassino de Brasília
No fim, não é o jogador que está em risco — é o país. O governo transformou o orçamento em uma mesa de cassino onde cada roleta é uma nova promessa populista e cada aumento de imposto, uma tentativa desesperada de pagar a próxima rodada.
A diferença é que, nas apostas de verdade, o jogador sabe as regras. Em Brasília, o jogo muda toda semana.
A vilanização das bets é só mais um sintoma do que o Brasil se tornou: um país onde a incompetência é disfarçada de moralidade, e a arrecadação virou o novo vício nacional.
A gente só consegue manter esse trabalho com a ajuda da Geralbet. Se você tem mais de 18 anos, gosta de cassino e sabe jogar com responsabilidade, cria uma conta lá e dá essa força para mantermos o patrocínio. Clique aqui para se cadastrar e jogar na Geralbet. Valeu pelo apoio e lembre-se: se precisar de ajuda, venha para o SOS Jogador!


