Capitalização com cara de Raspadinha? Pode sim. Se for banco.
- Fred Azevedo

- 13 de jun.
- 4 min de leitura
Atualizado: 25 de set.
O problema não é o produto. É o jogo de linguagem. Vale tudo no marketing? Até esconder que é capitalização atrás de uma raspadinha animada?
Na tela, um coelho sorridente pula entre trevos da sorte e notas de dinheiro. O texto promete: "Você pode ganhar até R$ 30 mil com apenas R$ 10!". Tudo colorido, festivo, instantâneo. Parece uma promoção de aposta relâmpago. Mas clique ali e você descobre: trata-se de um produto de capitalização.
Isso mesmo. Um título de capitalização com carência, regras, resgate programado e rendimento nulo — apresentado com apelo lúdico em forma de Raspadinha.

A sedução vem antes do aviso
Tecnicamente, o produto explica o que é. Após o clique, um aviso aparece: "Você guarda dinheiro e participa de sorteios. No fim da vigência, resgata o valor guardado". Legalmente, isso cumpre a exigência de informação clara. Mas a pergunta não é o que o texto diz depois. A pergunta é: como esse produto foi apresentado antes do clique?


A resposta é simples: como uma raspadinha digital. Com promessa de ganho fácil, gatilho de urgência e elementos visuais que remetem à sorte e prêmios. Em vez de explicar o que é capitalização, a campanha aposta primeiro no impulso. E só depois, com você já envolvido, aparece a explicação.

Isso é errado? Não. Mas é covarde.
O mercado pode vender capitalização. Pode fazer sorteio. Pode usar mascote. Mas chamar isso de "Max Prêmios Instantâneos" e só mencionar "capitalização" após a interação é estratégia, não transparência.
Liberdade de mercado exige dever de informação. E isso não é protecionismo nem moralismo. É apenas um princípio básico: quem vende, precisa dizer claramente o que está vendendo.
Se é um título financeiro com sorteio, diga isso. No topo. Antes do clique. No push. No card. No botão azul.
Imagine se fosse uma bet?
Troque o nome da instituição por uma casa de apostas. Troque o coelho por um dragão. Troque o "apenas R$ 10!" por "cadastre-se com R$ 5 e concorra a R$ 50 mil".
Quantos especialistas em finanças iriam gritar? Quantos posts sobre vulnerabilidade, impulsividade e proteção ao consumidor você veria em 24 horas?
Mas como vem de um banco tradicional, o discurso muda: "É só um incentivo para guardar dinheiro". A linguagem comercial passa batido. A isca emocional não vira manchete. E o cliente que clica achando que é sorteio instantâneo, descobre que assinou um contrato.
Dois pesos, dois discursos
Enquanto isso, o setor de apostas enfrenta cada vez mais restrições publicitárias. Influenciadores são cobrados, as regras do Anexo X do CONAR exigem avisos de jogo responsável, proíbem apelos a ganhos fáceis e coíbem qualquer associação de apostas com sucesso pessoal. Estão, inclusive, tramitando no Congresso projetos de lei para limitar a propaganda de sites licenciados. Tudo sob a justificativa de proteger o público da sedução do "ganhe rápido".
Mas e quando o mesmo apelo vem de uma instituição financeira? Quando a chamada é "com apenas R$ 5, ganhe até R$ 30 mil"? Quando a campanha usa os mesmos gatilhos mentais que se condena nas apostas?
Ali, curiosamente, ninguém fala em manipulação. Ninguém cobra o CONAR. Ninguém lembra que a capitalização é um produto de baixa transparência histórica, criticado inclusive pelo Banco Central em outras épocas. Basta que o logo seja vermelho e venha de dentro do sistema para a regra virar exceção.
A liberdade é sagrada. Mas a linguagem não pode ser armadilha.
Se o mercado quer vender produto financeiro com estética de jogo de sorte, que venda. Mas que assuma. Que diga. Que rotule. Que tenha coragem de dizer: "isso é capitalização, não é aposta".
Porque no fim das contas, a raspadinha ao menos tem a decência de se chamar raspadinha. Aqui, quem joga nem sabe o que está jogando.
E não é de prêmio que a gente está falando. É de integridade. É de clareza. É de escolha consciente.
E se o banco quer brincar de raspadinha no marketing, então que esteja pronto para ser cobrado como tal.
Nota editorial
Este artigo é uma crítica editorial fundamentada na análise de campanhas publicamente divulgadas por instituições do setor financeiro. Não há menção direta, nem acusação específica contra qualquer empresa, marca ou produto individual.
Nosso objetivo é provocar reflexão sobre as estratégias de comunicação utilizadas para promover títulos de capitalização, especialmente quando envolvem linguagem visual associada à sorte ou prêmios instantâneos.
O conteúdo expressa opinião protegida pela liberdade de imprensa, respaldada pela
Constituição Federal (art. 5º, incisos IV e IX), e não questiona a legalidade da capitalização como produto financeiro autorizado e regulamentado.
Caso alguma instituição citada indiretamente deseje apresentar esclarecimento técnico, estamos abertos à publicação de contraponto.
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