Haddad ataca as apostas, mas quem vai perder é o Estado
- Fred Azevedo
- 13 de jun.
- 5 min de leitura
Atualizado: 23 de jun.
Ao elevar a alíquota do GGR e sugerir o “repensar” do setor, governo Lula transforma o mercado regulado em inimigo ideológico — e flerta com o colapso institucional de sua própria política pública.

“Eu pessoalmente não gosto de jogo. Penso que é uma coisa que deveria ser até repensada pelo Congresso Nacional.”— Fernando Haddad, ministro da Fazenda
A frase dita por Fernando Haddad nesta quinta-feira (12) em Brasília não é só uma opinião pessoal. É, na prática, uma ruptura institucional com o próprio mercado que o governo criou, licenciou, cobrou, fiscalizou e, até ontem, vendia como exemplo de nova regulação moderna.
Ao afirmar que o setor de apostas deveria ser “repensado”, logo após elevar a alíquota da tributação sobre a receita bruta (GGR) de 12% para 18%, o ministro sinaliza uma mudança de tom — e de tese.
A promessa de previsibilidade, equilíbrio e segurança jurídica dá lugar ao discurso de gosto pessoal, viés ideológico e juízo moral travestido de argumento fiscal.
Só que gosto não é política pública. E ideologia fiscal não protege o cidadão. Ela apenas quebra um mercado inteiro, sabota a credibilidade do governo e alimenta o inimigo que todos dizem querer combater: o mercado ilegal.
Do “avanço regulatório” ao bode expiatório político
Foi o próprio governo Lula que regulamentou, em dezembro de 2023, a Lei nº 14.790 — criando o arcabouço jurídico para apostas de quota fixa no Brasil.
A medida foi saudada como um marco civilizatório: trouxe regras, exigiu compliance, forçou transparência e atraiu dezenas de operadoras dispostas a pagar R$ 30 milhões cada para se tornarem legais.
Essas operadoras hoje somam mais de R$ 2,3 bilhões arrecadados em outorgas.
Foram obrigadas a montar sede no Brasil, contratar estrutura local, operar com sistemas certificados, investir em jogo responsável e assumir riscos operacionais num país onde o mercado pirata nunca foi efetivamente combatido.
E agora, sete meses depois, o mesmo governo que arrecadou bilhões prometendo estabilidade, decide elevar impostos por Medida Provisória e colocar a existência do setor em xeque — com base em “não gostar de jogo”.
Isso tem nome: populismo tributário de ocasião.
A lógica invertida: quem cumpre a lei é punido, quem burla segue impune
O Brasil vive hoje uma distorção perversa: o mercado regulado é constantemente punido por ser visível, enquanto o pirata cresce justamente por ser ignorado.
As casas licenciadas:
Pagam impostos e taxas regulatórias;
Estão sujeitas a auditorias, fiscalização e regras de publicidade;
Devem seguir protocolos rígidos de KYC, jogo responsável e integridade esportiva;
São cobradas pela imprensa, pela sociedade e pela própria base política do governo.
As casas não licenciadas:
Continuam ativas no Brasil, acessíveis em qualquer celular;
Usam influenciadores e afiliados sem qualquer responsabilidade institucional;
Operam em servidores offshore, com nomes fantasmas e sistemas clonados;
E não pagam nem um centavo de imposto — enquanto movimentam milhões em Pix.
O que Haddad e Alckmin propõem é, na prática, premiar o mercado ilegal. Ao sufocar o modelo legal com aumento de carga e deslegitimação pública, o governo está transferindo o fluxo de apostas para onde não há regulação, nem proteção, nem rastreabilidade.
GGR a 18%: o começo do colapso
O argumento de Haddad é que as “bets” lucram R$ 40 bilhões e pagam menos de R$ 10 bilhões em impostos. O número, além de impreciso, ignora toda a cadeia de repasses prevista na Lei 14.790/2023, que já destina parte da arrecadação a educação, esporte, saúde, segurança pública, turismo e seguridade social.
Mais do que isso: o número ignora que o GGR não é lucro. É receita líquida, após pagamento de prêmios. Casas sérias operam com margem inferior a 10% sobre o volume total apostado.
Subir a alíquota para 18% (e cogitar 27%, como fez Alckmin) não é só elevar impostos. É remodelar o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos de outorga, o que viola o princípio da confiança legítima previsto tanto no direito administrativo quanto nas boas práticas internacionais de concessão pública.
O contraditório das entidades: não é só sobre dinheiro — é sobre confiança
Seis associações que representam operadoras legais publicaram um manifesto conjunto classificando a medida como “injustificável”. O tom é claro:
“A expectativa de contribuição tributária e social para 2025 ultrapassa R$ 4 bilhões, com destinação a áreas estratégicas como esporte, saúde, segurança pública, turismo, educação e seguridade social. Uma mudança no meio do caminho compromete a sustentabilidade do setor.”
E elas têm razão. Não se trata de proteger margens ou preservar lucro. Trata-se de preservar um pacto regulatório que custou caro — e estava finalmente funcionando.
A visão moralista não substitui política pública
Haddad diz que “não gosta de jogo”. Mas sua obrigação, como ministro da Fazenda, não é gostar ou não gostar. É garantir um ambiente fiscal coerente com os princípios constitucionais de legalidade, isonomia e segurança jurídica.
A regulação do jogo não pode ser tratada como uma anomalia. É um setor econômico legal, como qualquer outro, e deve ser tratado com seriedade — inclusive para ser cobrado com rigor quando falhar.
Associar jogo a “mal social” sem distinguir entre licenciado e ilegal é covardia intelectual.
É transferir para o setor formal o fardo que deveria ser carregado por quem frauda, explora e age à margem da lei — e que o Estado, até agora, não teve coragem de enfrentar.
O que realmente deveria ser “repensado”
Se o governo quer repensar o setor de apostas, há caminhos legítimos:
Fortalecer a SPA com equipe técnica, orçamento e autonomia institucional;
Criar política pública nacional de prevenção à ludopatia, com base em dados reais;
Fiscalizar com inteligência algoritmos, odds, campanhas de afiliados e oferta de bônus;
Bloquear judicialmente domínios piratas, como já fazem Reino Unido, Itália e Portugal;
Estabelecer padrão mínimo de auditoria para plataformas e ferramentas de segurança;
Integrar plataformas de denúncia, autoexclusão e atendimento ao usuário em risco.
Mas nada disso se faz com frases genéricas, desprezo à realidade fiscal ou repulsa pessoal mascarada de política pública.
Conclusão: o que está em jogo é a integridade da regulação — e a inteligência do Estado
A fala de Haddad não é só infeliz. É perigosa. Ao sinalizar desconfiança no próprio mercado que ajudou a criar, o ministro mina o pilar mais importante da regulação: a previsibilidade.
Sem previsibilidade, não há confiança. Sem confiança, não há investimento. Sem investimento, não há operação legal. E onde não há operação legal, há pirataria, dano ao consumidor, e perda de arrecadação.
O governo tem o direito de revisar modelos fiscais. Mas tem o dever de fazê-lo com base em estudos, diálogo e responsabilidade institucional.
O que não pode é fingir que está regulando, quando está, na verdade, jogando fora o tabuleiro.
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