top of page

O populismo fiscal quer matar o mercado regulado de apostas antes dele nascer

  • Foto do escritor: Fred Azevedo
    Fred Azevedo
  • 11 de jun.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 23 de jun.

Alckmin sinaliza apoio ao aumento da alíquota sobre apostas online, que pode inviabilizar o modelo legal, premiar o mercado pirata e destruir a confiança na regulação recém-estabelecida.


O populismo fiscal quer matar o mercado regulado de apostas antes dele nascer
O populismo fiscal quer matar o mercado regulado de apostas antes dele nascer
“Gostei da proposta de vocês. Não só os 18%, mas os 27%. Isso vai evitar que muitas famílias sejam prejudicadas.”— Geraldo Alckmin, vice-presidente da República, em evento da Abras

Em mais um episódio da retórica moralista travestida de política pública, o vice-presidente Geraldo Alckmin declarou apoio a um eventual aumento da alíquota de imposto sobre a receita bruta das apostas — o GGR — para até 27%, superando em mais de 125% o percentual vigente, de 12%.


A fala foi feita durante o Fórum da Cadeia Nacional de Abastecimento, evento da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), onde Alckmin elogiou uma proposta supostamente “mais justa” para proteger a sociedade da ludopatia.


Segundo ele, a elevação para 27% evitaria que "muitas famílias sejam prejudicadas”.


O problema? Essa proposta não protege famílias. Ela destrói o pouco de segurança jurídica construído no setor e pode desintegrar o modelo regulado recém-implantado no Brasil.


O que é GGR e por que essa alíquota importa


O GGR (Gross Gaming Revenue) é a receita líquida das casas de apostas, calculada como o valor apostado menos os prêmios pagos. É, portanto, a base sobre a qual incide a tributação do setor.


Hoje, a alíquota fixada por meio da Lei nº 14.790/2023 é de 12%, após ampla negociação com operadores e especialistas. Mesmo assim, muitos alertaram que o Brasil já começava com uma carga elevada — comparada a países como o Reino Unido (15%), Espanha (20%), Malta (5%) e Colômbia (15%).


A proposta agora em estudo por membros do Executivo, sob forma de nova Medida Provisória, é subir essa alíquota para 18%.


Mas, nas palavras de Alckmin, 27% seria ainda melhor.


Esse número, se levado adiante, inviabiliza economicamente a operação de casas legais no país.


Por que 27% de GGR equivale a expulsar o mercado regulado


Operar pelo mercado regulado no Brasil já não é barato. Para obter a autorização da SPA (Secretaria de Prêmios e Apostas), cada operador pagou R$ 30 milhões pela outorga de 5 anos.


Além disso, a Lei 14.790/2023 impõe:


  • Recolhimento mensal de taxas de fiscalização (até R$ 1,9 milhão/mês para grandes operadores);

  • Exigência de base tecnológica no Brasil;

  • Certificações de segurança e conformidade;

  • Investimento em políticas de jogo responsável, suporte, ouvidoria e auditoria.


Com GGR a 12%, muitas empresas já operam com margens apertadas. Subir para 18% já pressiona modelos de negócio sustentáveis. Ir para 27% é, nas palavras de um executivo ouvido sob anonimato, “um tiro na nuca”.



Bastidores: fuga em massa


Desde o anúncio da MP que propõe subir o GGR para 18%, os bastidores das casas de apostas estão em polvorosa. Com a fala de Alckmin sobre os 27%, o tom passou de preocupação para estratégia de retirada planejada.


Nos bastidores, o que se desenha é:


  • Suspensão de operação nacional por operadoras de médio porte;

  • Migração para estados com licenciamento próprio e alíquota mais baixa (ex: Rio de Janeiro, com 5%);

  • Manutenção do público nacional com base centralizada, via geolocalização, atendendo apenas onde houver licença estadual.


“Todo mundo vai migrar para estados com GGR menor. Vai ser um CNPJ por estado e pau na máquina. O mercado pirata vai voar”, comentou um gestor de afiliados.

A ironia? O próprio governo que criou o modelo nacional pode estar forçando as operadoras para fora dele, ao inflar a tributação sem controle ou coordenação.


O risco jurídico: quebra de contrato e judicialização em massa


O Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), que representa parte das principais casas com licença ativa ou em processo de outorga, foi direto:


“Uma alteração no meio do contrato comprometerá o equilíbrio econômico-financeiro e mina a confiança no ambiente regulatório brasileiro. Se necessário, recorreremos à Justiça.”

A tese jurídica é sólida. O artigo 37 da Constituição e a jurisprudência do TCU sobre contratos administrativos protegem o equilíbrio econômico-financeiro de concessões públicas.


A outorga de R$ 30 milhões foi paga com base em projeções que usavam 12% de GGR. Subir isso agora, sem renegociação, pode ser considerado ato administrativo abusivo e gerador de reparação.


A falácia do “imposto moral”


Ao defender os 27%, Alckmin usou o velho recurso de comparar o jogo a vícios como cigarro e álcool — alegando que o aumento de tributos funcionaria como barreira de proteção.


Só que essa lógica falha por três motivos:


  1. O mercado de apostas já é controlado por regras específicas, com obrigação de KYC, limitação de tempo de jogo e mecanismos de autoexclusão;

  2. A carga tributária elevada não afeta o mercado ilegal, que não paga nada — e, portanto, se torna mais competitivo;

  3. A comparação ignora que o GGR não é lucro. Casas distribuem entre 85% e 95% do valor apostado como prêmios. A base de cálculo já é a receita líquida.


Ou seja: não é imposto sobre fortuna. É imposto sobre operação — e em muitos casos, sobre prejuízo.


O que o governo ainda não entendeu (ou prefere ignorar)


Desde que as primeiras casas foram legalizadas, o Brasil passou a contar com:


  • Atendimento 24h para apostadores;

  • Ferramentas de jogo responsável auditadas;

  • Obrigações de devolução de saldo em caso de falha técnica;

  • Políticas contra ludopatia e links diretos com órgãos de saúde;

  • Recolhimento de tributos federais, estaduais e municipais;

  • Controle antifraude por meio de verificação biométrica e monitoramento de comportamento.


Nada disso existe nas casas piratas, que operam sem qualquer compromisso — e estão prontas para absorver o público expulso pela nova carga tributária.


Conclusão: o mercado legal virou bode expiatório de conveniência política


Alckmin fala em proteger famílias. Mas o que está fazendo é sacrificar as empresas que confiaram no Brasil.


Com o GGR a 27%, o único efeito concreto será:


  • Mais pirataria;

  • Menos arrecadação líquida;

  • Mais risco ao consumidor;

  • Judicialização da regulação recém-construída;

  • E uma forte mensagem ao investidor internacional: o Brasil muda as regras no meio do jogo.


O Portal Fred Azevedo segue acompanhando, com independência editorial, a construção — e possível destruição — do mercado de apostas reguladas no país.


Porque o jogador merece transparência. E as regras, respeito.


A gente só consegue manter esse trabalho com a ajuda da Geralbet. Se você tem mais de 18 anos, gosta de cassino e sabe jogar com responsabilidade, cria uma conta lá e dá essa força para mantermos o patrocínio. Clique aqui para se cadastrar e jogar na Geralbet. Valeu pelo apoio e lembre-se: se precisar de ajuda, venha para o SOS Jogador!

Atenção

Jogue com moderação e dentro de suas possibilidades. O jogo é uma forma de lazer, não uma solução financeira.

© 2025 por Frederico de Azevedo Aranha

Me encontre nas redes sociais:

  • Telegram
  • LinkedIn
  • Instagram
  • X
  • Youtube

Proibido para menores de 18 anos

Se o jogo estiver impactando sua vida, busque ajuda com organizações como SOS Jogador.

bottom of page