O acordo entre a IBIA e o Ministério do Esporte
- Fred Azevedo
- há 10 horas
- 4 min de leitura
Nesta semana, a International Betting Integrity Association (IBIA) celebrou a assinatura de um acordo de cooperação com o Ministério do Esporte, liderado por André Fufuca.
A parceria, amplamente repercutida no setor, promete reforçar os mecanismos de combate à manipulação de resultados em apostas esportivas online, permitindo a troca de informações sensíveis sobre atividades suspeitas no mercado brasileiro.
Na superfície, tudo parece alinhado: mais proteção, mais transparência, mais integridade. Mas a pergunta inevitável é: quem se beneficia — e quem fiscaliza esse modelo?

Negociação entre o IBIA e o Ministério do Esporte: colaboração, dados e vigilância
Segundo nota divulgada pela própria IBIA, a cooperação envolve o compartilhamento de informações em tempo real sobre padrões incomuns de apostas, além de apoio direto em investigações envolvendo clubes, atletas e plataformas.
O CEO da entidade, Khalid Ali, afirmou:
“Esse acordo garantirá que as informações sobre apostas suspeitas sejam compartilhadas prontamente com o ministério. Isso inclui o acesso a dados detalhados em nível de conta, disponíveis apenas por meio da rede exclusiva da IBIA.”
A IBIA monitora mais de US$ 300 bilhões por ano em volume de apostas ao redor do mundo, cobrindo mais de 140 marcas, e afirma representar mais de 70% do mercado de apostas online já licenciadas no Brasil.
O ministro André Fufuca celebrou o acordo como um “marco na luta contra a manipulação de resultados”, afirmando que o pacto permitirá “instrumentos mais do que suficientes para coibir essa prática”.
Mas a depender de como esse sistema for operado — e fiscalizado — os riscos são tão grandes quanto as promessas.
A promessa de integridade no papel
Desde a promulgação da Lei nº 14.790/2023, uma das exigências para operadoras obterem licença no Brasil é a filiação a um órgão independente de monitoramento da integridade esportiva.
Na prática, isso significa que empresas como a IBIA se tornam peças obrigatórias no ecossistema regulatório. Não apenas fornecedoras de dados, mas intermediárias privilegiadas entre casas de apostas e o Estado.
A lógica parece sólida: quanto mais volume de dados concentrado, mais fácil detectar fraudes.
Mas há um risco embutido nisso: centralizar a vigilância nas mãos de entidades privadas cria zonas cinzentas de poder — e pouca transparência pública.
Quem audita os auditores?
A IBIA tem um papel relevante no cenário internacional. Mas é preciso perguntar: quais os critérios de atuação da entidade? Há padronização nos relatórios?
Quem fiscaliza os alertas? Há prestação pública de contas para os jogadores, clubes ou operadores pequenos?
A lógica da autorregulação funciona — até certo ponto. Mas quando o Estado terceiriza a vigilância da integridade para uma associação formada por operadores privados, há o risco de autoproteção institucional.
Ou seja: alertas só aparecem onde há interesse, e falhas são interpretadas sob conveniências comerciais.
Dados compartilhados com o governo: até onde vai a transparência?
O acordo prevê o compartilhamento de informações com o Ministério do Esporte. Mas que tipo de dado será compartilhado?
Dados em tempo real sobre padrões anormais?
Informações sobre apostas de atletas e árbitros?
Movimentações suspeitas por CPF?
Relatórios agregados e estatísticos?
E mais: quem tem acesso a esses dados dentro do governo? Eles serão cruzados com dados da Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA)? Estarão sujeitos à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)?
São perguntas que precisam ser feitas — e respondidas — antes de celebrarmos qualquer “marco”.
Cooperação ou blindagem institucional?
A retórica usada pelo Ministério do Esporte e pela IBIA reforça a ideia de um pacto pela “lisura” e “transparência”, mas evita o ponto central: a integridade esportiva não pode ser usada como escudo retórico para blindar empresas que, na prática, podem estar envolvidas em práticas questionáveis.
A questão não é se a IBIA tem know-how. Ela tem. A questão é se a cooperação com o governo será usada para proteger o consumidor ou para manter a estrutura atual sem questionamento público.
A recente CPI das Apostas mostrou que muitas casas operam com pouca ou nenhuma transparência sobre termos de uso, saldo fictício, publicidade disfarçada e limites arbitrários.
Integridade não é só evitar fraude de resultado. É garantir regras claras, simetria de informação e direito do jogador.
O papel do Ministério do Esporte: proativo ou decorativo?
Ao celebrar o acordo, o ministro André Fufuca disse que “atletas, clubes, entidades, torcedores e toda a população poderão ter plena confiança na lisura dos resultados”.
A fala soa bem — mas é preciso lembrar que o Ministério do Esporte não é o órgão regulador das apostas no Brasil.Essa responsabilidade está com o Ministério da Fazenda, por meio da Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA).
Isso levanta dúvidas sobre a efetividade do acordo:
O Ministério do Esporte poderá acionar operadoras ou apenas notificar a SPA?
Há interface entre os dois ministérios para tratamento de incidentes?
O acordo muda algo na prática para clubes, atletas e federações?
Sem clareza, o que se tem é mais um instrumento simbólico — com pouca eficácia operacional.
Transparência exige mais do que parceria
O que falta, neste momento, é:
Um repositório público de alertas de integridade, para que a sociedade acompanhe os casos detectados;
Regras claras sobre como casas de apostas devem reagir aos alertas;
Um cronograma de implementação da vigilância em todas as modalidades esportivas;
A presença da ANPD e do Ministério da Justiça nas tratativas, especialmente quando houver cruzamento de dados pessoais.
Cooperação com entidades privadas é válida. Mas transparência não pode ser opcional.
Considerações finais
O acordo entre a IBIA e o Ministério do Esporte marca um passo importante na construção de um mercado mais ético e seguro. Mas celebrar integridade sem discutir governança é insuficiente.
Monitoramento sem prestação de contas é só vigilância seletiva. Cooperação sem critério público é risco institucional.
Se o Brasil quer um mercado de apostas confiável, precisa:
De acordos, sim.
Mas também de auditoria.
De transparência.
De fiscalização de quem vigia.
E de mecanismos de escuta do consumidor — o verdadeiro elo frágil dessa cadeia.
Porque não há integridade sem transparência. E não há transparência sem controle público.
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