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O padre Patrick Fernandes na CPI das Bets

  • Foto do escritor: Fred Azevedo
    Fred Azevedo
  • 19 de mai.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 10 de jun.

O limite entre moral religiosa e política pública


A Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga o mercado de apostas online no Brasil poderá, nos próximos dias, ouvir um nome incomum entre os influenciadores digitais que protagonizam a CPI das Bets: o padre e criador de conteúdo Patrick Fernandes.


Conhecido por seu alcance nas redes e por recusar abertamente parcerias com casas de apostas, Patrick se ofereceu espontaneamente para depor e teve seu convite formalizado pela senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS).


Mas sua possível participação na CPI levanta uma pergunta incômoda: qual o limite entre o testemunho social e o discurso moral religioso no processo de formulação de políticas públicas?


O Brasil é um Estado laico. E isso exige cautela quando representantes religiosos entram na arena institucional para opinar sobre setores econômicos legalizados — como é o caso das apostas esportivas desde a promulgação da Lei nº 14.790/2023.


Requerimento
Requerimento da senadora Soraya Thronicke convidando o Pe. Patrick Fernandes para a CPI das Bets

Fé, influência e discurso moral


O padre Patrick tem mais de 6,6 milhões de seguidores e uma presença consolidada nas redes sociais. Não usa esse alcance para fazer publicidade de jogos.


Pelo contrário: denuncia sistematicamente o impacto destrutivo que diz testemunhar em sua paróquia, no Pará, como resultado do vício em apostas. Diz receber ofertas comerciais do setor todos os dias — e recusar todas.


Em vídeo publicado no TikTok, Patrick afirmou:

“A CPI também precisa ouvir quem tem a dignidade de não aceitar dinheiro de apostas.”

A frase viralizou. E, em resposta, a senadora Soraya apresentou requerimento oficial para que ele compareça à CPI.


Mas o que essa fala carrega é mais do que uma denúncia social. É também um juízo de valor sobre o comportamento de outros influenciadores, usuários e empresas.


E isso importa — porque quando um padre se posiciona publicamente sobre um tema que envolve legislação, regulação econômica e liberdade de expressão comercial, o risco é que a política pública seja contaminada pela moral religiosa.


Pecado vs política pública


O discurso de Patrick é compreensível dentro de sua missão pastoral. Mas quando esse discurso entra no Congresso Nacional, é preciso que ele seja filtrado por um critério técnico, e não por princípios religiosos.


Apostas esportivas, slots e bingos são hoje atividades legalizadas. Possuem um marco regulatório recente, autorizado pelo próprio Legislativo. Não são atividades moralmente aprovadas ou reprovadas — são serviços sujeitos a regulação.


Portanto, quando o depoimento de um padre é usado como argumento político, o risco é que o debate escape do campo da proteção ao consumidor e escorregue para a retórica do “certo e errado” — ou pior, para a ideia de que apostar é “pecado”, e quem anuncia apostas é pecador.


Entre fé e performance: o que está por trás do vídeo


O vídeo em que o padre Patrick aparece se oferecendo para depor na CPI das Bets foi gravado com ele vestindo batina, tendo ao fundo uma imagem de Cristo crucificado pendurada na parede.


A composição da cena reforça, de forma inequívoca, a associação entre sua figura religiosa e sua fala política — o que levanta dúvidas legítimas sobre o uso simbólico da fé como ferramenta de autoridade institucional.


O sr. Padre Patrick
O vídeo em que o padre Patrick aparece se oferecendo para depor na CPI das Bets

Patrick não se apresenta como cidadão comum, mas como sacerdote. Isso amplifica o peso simbólico de sua fala, mas também pode distorcer o debate.


Em vez de ser julgado por sua capacidade de contribuir com dados e argumentos, ele se posiciona como portador de uma moral superior — representando, visualmente, não apenas a si mesmo, mas uma ideia de “certo” e “errado” sancionada pela religião.


A questão se agrava pelo histórico midiático do próprio Patrick. Embora tenha ampla base de seguidores e engajamento, o padre já protagonizou momentos polêmicos nas redes sociais, como quando publicou uma foto sem camisa e gerou grande repercussão.


O episódio foi interpretado por parte da opinião pública como uma tentativa de atrair atenção fora dos moldes esperados para um sacerdote — o que acentuou sua imagem de figura carismática e midiática, nem sempre alinhada ao perfil tradicional do clero.


Esses elementos não invalidam seu depoimento. Mas ajudam a entender que Patrick atua em uma fronteira fluida entre figura religiosa, influenciador digital e agente público — e que seu impacto na CPI deve ser analisado com essa complexidade.


O papel real do depoimento de um padre na CPI das Bets


Isso não significa que Patrick não deva ser ouvido. Pelo contrário: ele pode oferecer um contraponto importante aos depoimentos já colhidos na CPI — muitos deles centrados em influenciadores pagos para divulgar plataformas. O padre pode relatar:


  • Casos reais de famílias em sofrimento por vício em apostas;

  • Falta de estrutura pública para tratamento de ludopatia;

  • Abordagens comerciais agressivas a criadores de conteúdo não-alinhados com o setor.


Mas é preciso deixar claro: seu depoimento não pode ser tomado como bússola moral para o legislador. O fato de ser um padre não o torna mais ou menos qualificado que outros influenciadores.


O que deve importar são os dados, as evidências e a qualidade das propostas que ele apresentar.


CPI, influência e disputa simbólica


A CPI das Bets tem sido palco de episódios que reforçam o caráter simbólico da disputa em torno das apostas.


De um lado, celebridades convocadas por sua participação em campanhas do setor. De outro, figuras como o padre Patrick, que representam uma narrativa de resistência moral.


A política funciona por símbolos. Mas o risco aqui é a CPI se tornar um palco de disputa de santidades — onde quem promove apostas é demonizado, e quem se recusa é canonizado. Isso não ajuda o consumidor.


Não ajuda o mercado. E não ajuda o debate.


Laicidade não é silêncio — é equilíbrio


É fundamental reafirmar: a laicidade não significa que religiosos não podem opinar.


Significa que suas opiniões devem ter o mesmo peso que quaisquer outras. Não mais. Nem menos.


O depoimento de Patrick será relevante na medida em que trouxer contribuições concretas sobre como as apostas impactam a vida das pessoas. Mas deve ser recebido com espírito crítico — como qualquer outro depoimento.


O Brasil não pode legislar com base em princípios de fé. Deve legislar com base em dados, estudos, estatísticas e interesse público.


E o interesse público, neste caso, é proteger jogadores vulneráveis, garantir transparência, coibir abusos e assegurar um mercado ético e legal.


Considerações finais


O convite ao padre Patrick expõe uma questão central: de quem é a voz legítima para discutir o futuro das apostas no Brasil? A CPI das Bets virou um espetáculo ou cumpre seu propósito?


Se a resposta for “quem sofre com os impactos”, então o padre deve falar. Mas se a resposta for “quem tem autoridade moral para julgar o certo e o errado”, então já saímos do campo da política pública.


O depoimento de Patrick não será invalidado. Mas precisa ser tratado como o que é: um relato de experiência social. Não um sermão legislativo.


A CPI tem a chance de amadurecer se acolher essa fala com equilíbrio. E se deixar claro que, em um Estado laico, não é Deus quem faz as leis — é o Parlamento.


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