PicPay vira garoto propaganda das bets; e o usuário que se lasque
- Fred Azevedo

- 30 de jun.
- 4 min de leitura
Atualizado: 23 de set.
Você abre o PicPay para pagar uma conta, fazer um Pix ou conferir o saldo — e recebe uma notificação incentivando você a apostar na Alfabet. Não é propaganda no feed.
Não é banner no app. É push notification chegando direto no seu celular, como se fosse uma mensagem do próprio PicPay.
A estratégia é clara: usar a confiança que o usuário tem na marca PicPay para promover apostas. Mas será que o usuário sabe que está recebendo propaganda de casa de apostas quando o remetente é a fintech que ele usa para organizar a vida financeira?
O PicPay virou outdoor das bets
As notificações chegam com o logo do PicPay, no horário nobre, e com chamadas diretas para apostar.
"Oitavas à vista! Os confrontos mais esperados vão começar. Aposte na Alfa Bet e mostre seu palpite certeiro!" e "Aposte no Super Mundial. Curta a emoção! Aposte no Super Mundial com a Alfa e se divirta pra valer!"

A mensagem é clara: não parece propaganda. Parece recomendação. Como se o PicPay estivesse dizendo "olha, tem esse negócio aqui que é bom pra você". O problema é que muita gente não entende que isso é marketing pago, não conselho financeiro.
E aí mora o perigo: quando uma fintech que você usa para controlar gastos te incentiva a apostar, a linha entre gestão financeira e incentivo ao risco fica perigosamente confusa.

A estratégia por trás das notificações
Essa não é uma parceria casual. A Alfabet, que recebeu licença definitiva para operar no Brasil em 2024, está investindo pesado em visibilidade.
A casa já negocia o patrocínio master do Grêmio por R$ 50 milhões anuais e agora, aparentemente, usa o PicPay como canal direto para os bolsos dos brasileiros.
Mas por que o PicPay? Simples: são 57 milhões de contas registradas e 36 milhões de usuários ativos. Uma base gigantesca de pessoas que já confiam na marca para questões financeiras. Quando você recebe uma notificação do PicPay, não questiona — você abre.
A Alfabet está, literalmente, comprando acesso à sua atenção através de uma marca que você já usa e confia. É marketing de afiliação disfarçado de comunicação institucional.
Driblando as restrições
As casas de apostas enfrentam limitações cada vez maiores para fazer marketing direto. Patrocínios custam caro, propaganda na TV tem restrições, redes sociais limitam conteúdo de apostas. Então, elas encontraram um atalho: usar fintechs como canal.
O PicPay vira o "mensageiro" da aposta. Tecnicamente, não é o PicPay fazendo propaganda de apostas — é o PicPay entregando uma mensagem patrocinada. A responsabilidade legal fica diluída, mas o impacto no usuário é o mesmo.
É uma forma de terceirizar o marketing: a Alfabet paga, o PicPay entrega, e o usuário recebe como se fosse comunicação normal da fintech.
Quando a parceria vira problema
O Código de Defesa do Consumidor é claro sobre publicidade. Toda propaganda deve ser identificada como tal.
Quando uma notificação push chega como se fosse comunicação institucional, mas na verdade é conteúdo pago, pode haver problema.
A regulamentação das apostas também prevê que a comunicação com apostadores deve ser transparente. Se o usuário não sabe que está recebendo propaganda paga, a transparência vai pro espaço.
Além disso, fintechs têm responsabilidades específicas sobre como se comunicam com clientes. Usar canais de comunicação institucional para terceirizar marketing de apostas pode configurar práticas abusivas.
O silêncio das empresas
Procuramos a Alfabet para esclarecer os termos da parceria com o PicPay, se há identificação clara de que se trata de conteúdo patrocinado, e como garantem que os usuários sabem que estão recebendo propaganda de apostas.

É necessário entender se há separação entre comunicação institucional e conteúdo pago de terceiros, e se os usuários são informados sobre a natureza publicitária das mensagens.
Atualizaremos a matéria caso haja um posicionamento oficial da empresa ou resposta à nossa tentativa de contato.
Fato é que, na prática, isso significa que o usuário continua recebendo propaganda disfarçada de comunicação institucional, sem saber que a fintech que ele confia para organizar dinheiro está sendo paga para incentivá-lo a apostar.
Quando a confiança vira negócio
O PicPay construiu sua reputação sendo o app que "facilita sua vida financeira".
Agora usa essa reputação para vender apostas. A Alfabet ganhou um canal direto para milhões de brasileiros sem precisar construir confiança própria — ela comprou a confiança que já existia.
Mas e o usuário nessa história? Ele vira produto. Sua atenção, sua confiança, seus dados de comportamento financeiro — tudo vira mercadoria para ser monetizada.
A pergunta incômoda é: se você confia no PicPay para organizar suas finanças, deveria confiar quando ele te incentiva a apostar? Porque uma coisa é clara — quando a notificação chega no seu celular, quem está falando não é mais o seu app financeiro. É um outdoor pago, disfarçado de conselho amigo.
E no final das contas, se você perder dinheiro apostando, quem vai ajudar a organizar a bagunça financeira? O mesmo PicPay que te levou até lá.
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