Tabata critica bets, muda de ideia e expõe o impasse moral que o próprio PSB encena
- Fred Azevedo
- 27 de jun.
- 3 min de leitura
Atualizado: 11 de jul.
A deputada Tabata Amaral (PSB-SP) apagou uma postagem em que fazia críticas contundentes ao patrocínio de casas de apostas nas festas juninas de São Paulo.
O motivo da exclusão, no entanto, não foi apenas um erro de digitação. A postagem desapareceu das redes poucos minutos depois de publicada, e coincidiu com a lembrança de que Recife (PE), cidade governada por João Campos (PSB), seu namorado, também recebe apoio de casas de apostas em eventos como o Carnaval e o São João.
O constrangimento foi tão imediato quanto ilustrativo: Tabata denunciava o uso de um espaço público para cadastro de clientes e coleta de dados por uma bet em São Paulo, enquanto Recife, de Campos, além de palco, deu também isenção fiscal: a alíquota do ISS para empresas de apostas foi reduzida de 5% para 2%.
A crise de imagem foi contida com uma repostagem e uma nota explicativa.
Mas a sequência de ações revela algo mais profundo: o PSB se encontra hoje dividido entre o discurso crítico às bets e a gestão pragmática de seus aliados municipais que dependem do dinheiro das bets para fazer cultura.

O post apagado
Na postagem original, Tabata levantava questões importantes:
A casa Vai de Bet não apenas patrocinava o São João de São Paulo, mas usava o espaço para cadastrar visitantes e distribuir brindes promocionais;
O Instagram oficial da festa trazia a frase: "Aposte na cultura";
A deputada alertava que "celebrações culturais estão virando vitrines para um setor bilionário que cresce sobre a fragilidade de milhares de famílias";
Citava ainda dados da Receita Federal segundo os quais 21% dos recursos do Bolsa Família teriam sido utilizados em apostas.
A crítica, contundente, foi apagada minutos depois.
Mas já estava registrada e replicada por sites como o Metrópoles e BNLData.
O desconforto com a própria contradição ficou evidente. Afinal, como sustentar esse discurso enquanto o maior patrocinador do Carnaval do Recife é uma bet e o prefeito aliado reduz o imposto para atrair esse tipo de investimento?
A repostagem e a versão oficial
A nova postagem mantém o tom crítico, mas suaviza bastante a retórica do título que antes havia sido publicado com o título "Bet é Cultura?". Tabata esclareceu, em nota, que a exclusão ocorreu por conta de um erro no texto anterior. E aproveitou para divulgar os quatro projetos de lei que lidera na Câmara dos Deputados:
PL 2269/2025: proíbe publicidade irrestrita de apostas e exige mensagens de alerta sobre os riscos do vício;
PL 2278/2025: restringe o acesso de grupos vulneráveis, como beneficiários do CadÚnico e endividados;
PL 2279/2025: proíbe participação de autoridades reguladoras em empresas de apostas;
PL 2280/2025: cria uma poupança compulsória com parte dos valores apostados, como forma de proteção financeira.
A agenda legislativa pode ser lida como coerente e relevante. Mas o timing da exclusão e o contexto político minaram a força da mensagem.
A contradição infinita do PSB: cultura com bets ou aposta sem cultura?
Tabata não está errada ao levantar os riscos da normalização das apostas e bets na cultura popular.
Mas é legítimo apontar que seu partido, o PSB, navega com desenvoltura entre a moral crítica e o pragmatismo tributário. A redução de ISS para casas de apostas em Recife foi vendida como "necessária para manter a cidade competitiva". Mas não é disso que se acusam as outras prefeituras?
Na base, o discurso é de defesa do consumidor. No executivo local, é de captação de patrocínio. E é justamente esse conflito que fragiliza o avanço de uma regulação madura e coerente.
Conclusão
O caso evidencia uma realidade incômoda: o setor de apostas hoje atravessa todos os níveis do poder, e a coerência é um luxo difícil de sustentar quando se governa com patrocinadores.
Se a questão é proteger os vulneráveis, a discussão precisa ir além da publicidade e tocar também nas contratações, nas isenções e nos bastidores da festa.
Porque o problema não é o tweet que foi apagado. É o que segue funcionando depois que ele some.
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